Casal de Viana dá a volta ao Mundo em 180 dias com os filhos de 3 e 5 anos

Ângelo e Susana saíram de Geraz do Lima em novembro
Foto: VerdeMundo Viagens / Instagram

Ângelo Silva, de 38 anos e Susana Ribeiro, de 32, juntamente com os dois filhos, Luísa, de cinco anos, e Francisco, de três, estão a um passo de completar uma volta ao Mundo, em seis meses. O casal de Geraz do Lima, concelho de Viana do Castelo, decidiu que este era o momento certo para realizar esta aventura, antes de a filha mais velha entrar para a escola. A chegada está marcada para sábado e, embora ainda estejam em Barcelona, o balanço é positivo e já vão fazendo planos para mais viagens.

Ângelo e Susana sempre gostaram de viajar e começaram a fazê-lo juntos desde o primeiro dia em que se conheceram. A primeira jornada que fizeram juntos foi o Caminho Português de Santiago, pela rota central. “Começámos a namorar em abril e fizemos o Caminho juntos em setembro. Foi a prova dos nove da nossa relação”, afirma Ângelo. “A família dizia-nos que devíamos aproveitar que quando nascessem os filhos não seria possível continuarmos a viajar da mesma forma”, lembra. Contudo, nem ele nem ela alguma vez acreditaram que pudesse ser assim.

Quando nasceram os filhos, “continuamos a viajar com eles, a certa altura arranjámos uma autocaravana e fomos até à Grécia, subindo o sul de Espanha, França, Itália e através dos Balcãs, ao longo de 40 dias”. Desta vez, porém, o desafio foi muito maior: dar uma volta ao Globo, em 180 dias, com duas crianças pequenas.

Foto: VerdeMundo Viagens / Instagram

“Começamos a planificar tudo com muita antecedência. Quando saímos de Portugal, tínhamos tudo programado, desde alojamentos a transportes. Se fôssemos só os dois, talvez fosse interessante deixar algum espaço para o imprevisto, para ser surpreendido, mas com duas crianças não queremos isso”, conta o militar, que pediu uma licença sem vencimento para fazer esta aventura, tal como a esposa, funcionária da Decathlon.

Compraram o primeiro bilhete de avião – de Auckland para Santiago do Chile – em abril, “e a partir dessa altura soubemos que era a sério, já não podíamos voltar atrás”, refere Ângelo. ”Fomos juntando dinheiro e fazendo mais marcações e partimos em novembro”, conta.

O choque com a pobreza e o afastamento da sociedade de consumo

O primeiro voo foi do Porto para o Cairo. Estiveram no Egito 11 dias, os suficientes para verem as maravilhas do país, mas também para a pequena Luísa aprender uma das primeiras lições da viagem. “Ela via muitas meninas da idade dela na rua a pedir e fazia perguntas”, recorda Ângelo. Foi o momento de lhe explicar que as crianças não nascem todas nas mesmas condições e com as mesmas oportunidades. Ângelo destaca o afastamento dos meios de comunicação em massa, da pressão social e das redes sociais, pelo bem que fez aos filhos. “Passámos o Natal em Taiwan e perguntámos-lhes se queriam uma prenda, lembrando que não podia ser nada muito volumoso, para caber nas nossas bagagens. A Luísa pediu um corte de cabelo e o Francisco um gelado azul. Se estivéssemos em Portugal, os pedidos nunca seriam estes”, refere.

Foto: VerdeMundo Viagens / Instagram

A rota que percorreram levou-os a 28 países e alguns territórios, só tendo ficado de fora a América do Norte (mas há um plano para fazer a Route 66, no futuro).  Por ordem, os países que os quatro aventureiros visitaram foram: Egito, Jordânia, Emirados Árabes Unidos, Sri Lanka, Maldivas, Camboja, Laos, Vietname, Taiwan, China, Coreia do Sul, Japão, Filipinas, Malásia, Singapura, Indonésia, Austrália, Nova Zelândia, Chile, Peru, Bolívia, Paraguai, Argentina, Uruguai, Brasil, Cabo Verde, Marrocos, Espanha e de volta a Portugal. Pelo meio, quando estavam na Austrália, ainda tiveram oportunidade de visitar os territórios franceses da Nova Caledónia e de Vanuatu e, quando estavam no Chile, foram à ilha da Páscoa.

Uma viagem acessível a um casal de classe média

Quem pensar que o casal gastou uma fortuna nesta viagem, engana-se. Embora não queiram divulgar valores exatos, porque planeiam escrever um livro em que vão contar todos os detalhes, deixam claro que se trata de um valor que um casal de classe média pode suportar, fazendo algumas poupanças. “Claro que não viajamos sempre de avião. Quando era possível recorríamos ao autocarro e, por exemplo, entre a Coreia e o Japão fomos de ferry, assim como entre a Argentina e o Uruguai”.

Foto: VerdeMundo Viagens / Instagram

As duas crianças nem sempre pagavam o mesmo que os adultos nos transportes, mas obrigavam a família a optar por alojamentos maiores. “Com eles não dá para dormir no hostel”, admite Ângelo. O planeamento foi tão bem feito que, se não fosse uma intoxicação que os pôs, a todos, de cama durante quatro dias, nas Filipinas, tinha sido tudo perfeito. “No Sudoeste Asiático nunca bebíamos água sem ser engarrafada, mas naquele caso a intoxicação foi com a água do duche”, recorda o militar, natural de Barcelos.

Os quatro numa scooter a passear na Indonésia

Nada que desmotivasse a família que viveu outras aventuras, como passear os quatro numa scooter alugada pelas estradas da Indonésia. “Lá é completamente legal”, sublinha Ângelo. Num desses passeios uma chuvada tropical apanhou-os e avariou-lhes o GPS. “Não foi um grande problema, até porque a chuva é quente”, desvaloriza Ângelo.

O casal arrancou para esta viagem já com pergaminhos de viajante. À partida já conheciam cerca de 40 países e agora a contabilidade ficará por volta dos 70. Desta viagem, o Francisco, que tem três anos, vai guardar poucas recordações, mas os pais acreditam que algo vai ficar impresso nele e contribuir para o homem que um dia será. A Luísa, apesar de estar mais interessada no parque infantil que fica em frente à Sagrada Família do que na obra de Gaudí, já ficará com muitas memórias. “Fiquei muito admirado com a facilidade com que as crianças fazem amizades, mesmo com outras que não falam a mesma língua. Para a Luísa o difícil era, passados dois ou três dias, deixar esses amiguinhos para trás. Mas isso também é uma lição de vida”, conta o pai.

Apesar de terem passado por países e cidades que normalmente são relacionados com situações de insegurança, nunca foram assaltados. “Em Santiago do Chile, Lima e La Paz, fomos avisados pelos motoristas de táxi e pelas pessoas dos alojamentos. Disseram-nos que um de nós teria de vigiar as crianças e o outro a bagagem e isso mete algum respeito. Porém, nunca aconteceu nada, mesmo no Rio de Janeiro, onde andámos a passear”, afirma.

Uma ilha onde as pessoas se juntam para ver filmes na rua 

Para Ângelo, o melhor da viagem foi uma pequena ilha nas Maldivas e a forma de estar do povo coreano. “Era uma ilha piscatória muito pequenina, longe do turismo, em que as pessoas se reuniam na rua para conversar ao final do dia. Os moradores não deviam ter televisão em casa porque havia ali um ecrã onde passavam filmes e as pessoas juntavam-se a ver”, descreve. “Na Coreia do Sul admirei o silêncio. Mesmo numa capital enorme, como Seul, não há o ruído típico de uma grande cidade. São um povo que valoriza o silêncio e o espaço do outro”, conta. 

A etapa da viagem que os trouxe de volta à Europa foi feita num cruzeiro transatlântico, com paragem em Cabo-Verde e Marraquexe. Agora só falta fazer o voo de volta a Portugal e a Páscoa já será passada com os pais (avós) que ao longo destes seis meses só foram sabendo deles pelos contactos telefónicos e pelos vídeos publicados no canal de Youtube.

 
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