Os 18 automóveis de luxo, entre bólides e carros de coleção, afinal foram removidos ao empresário Hernâni Vaz Antunes três meses após terem sido apreendidos, na primeira fase da Operação Picoas, do Caso Altice, na freguesia de Pedralva, em Braga.
Segundo apurou esta semana O MINHO junto de fontes ligadas ao processo, na sequência da remoção dos carros, ao longo de toda esta quinta-feira, na Quinta das Eiras, em Pedralva, nos arredores de Braga, “havia a impossibilidade prática para o fazer”.
A diferença entre Braga e Vieira do Minho é que enquanto em Pedralva removeram todos os carros de Hernâni Vaz Antunes, em Guilhofrei não levaram nenhum bólide de Armando Pereira, alegadamente, por dificuldades logísticas na simultaneidade.
Há ainda a questão de lidar com diferentes medias de coação, pois se Hernâni Vaz Antunes e Armando Pereira estavam em prisão domiciliária, sem pulseira eletrónica, Armando Pereira será brevemente libertado, com caução de dez milhões de euros.
Armando Pereira, Hernâni Vaz Antunes e a sua filha mais velha, Jéssica Antunes, já tinham recorrido das medidas coativas de há três meses, aquando da Operação Picoas, a 13 de julho de 2023, mas ainda não tiveram uma decisão da Relação de Lisboa.
Entretanto, o titular do processo, o procurador-geral-adjunto Rosário Teixeira, sugeriu a libertação de Armando Pereira, com a caução carcerária de dez milhões de euros, a mais elevada de sempre da justiça portuguesa, mas mantendo Hernâni em casa.
MP temia “descaminho” dos carros há três anos
É que se o MP e o Fisco há mais de três meses temiam pelo eventual “descaminho” dos carros, por outro lado, tiveram de fazer consultas ao mercado e realizar todo o administrativo e legal de consulta para finalmente contratar uma empresa especializada.






A escolha recaiu na empresa J. Amaral, sediada em Sintra, muito conhecida por transportar automóveis de competição, não só em Portugal, como ao estrangeiro, além de se dedicar a levar dentro dos seus camiões veículos raros para entrarem em filmes.
Na perspetiva dos investigadores criminais, tais carros, todos de elevadíssimo valor, não se destinariam a ser conduzidos pelos proprietários, mas tão somente um “valor refúgio” para ambos os empresários, como são igualmente o ouro e as peças de arte.
Para a Equipa Especial, dirigida pelo magistrado Rosário Teixeira e coordenada pelo inspetor tributário Paulo Silva, tais carros, mais do que vaidade, ostentação e novo-riquismo, serão uma forma de investimento e aplicação de fundos com origens ilícitas.
A Operação Picoas II, desencadeada esta quinta-feira, em Vieira do Minho e em Braga, esteve para ser realizada poucos dias após as primeiras buscas, de 13 de julho de 2023, mas demoraram mais três meses, tendo sido necessário renovar os mandados.
O novo titular do Tribunal Central de Instrução Criminal, Jorge Bernardes de Melo, renovou os mandados do seu antecessor no caso, Carlos Alexandre, esta quinta-feira, o mesmo dia em que a Autoridade Tributária e a PSP avançaram já para o terreno.
O juiz Carlos Alexandre, a solicitação do procurador-geral-adjunto Rosário Teixeira, autorizara as novas buscas aos mesmos locais, no espaço de uma semana, por já então se alegar o risco de extravio dos bólides de ambos, entregues a fiéis depositários.
Por estarem à guarda de terceiros, em Guilhofrei (Vieira do Minho) e Pedralva (Braga), o MP e o Fisco já temiam pressões no sentido do “descaminho” dos carros de Armando Pereira e Hernâni Vaz Antunes, avaliados em cerca de 50 milhões de euros.
O MP salienta, nesta segunda fase da Operação Picoas, estarem em causas fortes suspeitas da prática de crimes de fraude fiscal qualificada, corrupção privada nas formas ativa e passiva, falsificação de documentos e branqueamento de capitais, entre mais.
Genro de Armando Pereira continua incógnito
Entretanto, já o genro de Armando Pereira, Yossi Benchetrit, casado com a filha única do cofundador da Altice, Gaëlle Pereira Benchetrit, continua incógnito e a ser procurado pelas autoridades, por suspeitas de envolvimentos nos crimes sob investigação.
De resto, outro dos motivos dos mandados de busca do juiz Carlos Alexandre, renovados pelo seu sucessor, Jorge Bernardes de Melo, era a procura de mais documentos comprometedores relacionados com Yossi Benchetrit e o seu pai, David Benchetrit.
O juiz Carlos Alexandre autorizara já novas buscas, por admitir que tivessem colocado de novo na quinta de Armando Pereira documentos de Yossi, e do seu pai, David, até hoje nunca encontrados pelos investigadores da Autoridade Tributária e da PSP.
E o facto da alegada “impossibilidade prática” de terem sido removidos em simultâneo os bólides de Braga e de Vieira do Minho, não significa que nos próximos dias não sejam retiradas a Armando Pereira, da Quinta das Casas Novas, em Guilhofrei.