Enquanto o gerador do supermercado funcionar, é lá que se carrega o telemóvel, se tira dúvidas sobre pilhas e se compra “o essencial”, que hoje inclui velas e fósforos, porque “ninguém sabe o que vai acontecer” com o apagão.
Abastecer o carro de gasóleo ou gasolina também é prioritário em Vila Praia de Âncora, concelho de Caminha, como se percebe até ao longe, pelo som das buzinadelas na fila de automóveis num dos postos de combustível, a aumentar à medida que a tarde passa e as pessoas tentam precaver-se perante a falha de eletricidade que afetou hoje, a partir das 11:30, Portugal e outros países europeus.
Aos dois supermercados da vila dirigiam-se também cada vez mais pessoas pelas 15:30, depois de um pico de afluência pela hora de almoço, para comprar “coisas básicas” como enlatados, leite, fósforos e “velas de cemitério, que também queimam”, como observa Sílvia Casqueira, de 34 anos.
Sílvia estava de folga, e até já tinha a dispensa cheia, mas perante as notícias do apagão ainda foi buscar areia para os animais, “tudo o que se possa cozinhar com gás, como massa e arroz”, e a iluminação que lhe vai permitir ocupar a noite.
“Tenho livros para ler. Por isso é que comprei as velas”, explicou.
No interior do estabelecimento comercial, a aparente calma era agitada pela partilha de informações contraditórias sobre o que terá motivado a falha de luz, sem que ninguém soubesse bem explicar a causa ou a origem da informação.
Nas filas das caixas, misturavam-se com olhares apreensivos, sérios e assustados, como o da idosa que não conseguia abrir a parte de trás de uma lanterna para lá colocar as pilhas necessárias ao funcionamento e pedia ajuda a um funcionário.
Rupinder Karv, uma indiana de 26 anos residente em Afife, comprou “pão, massa, vegetais e leite” e está preocupada pelo filho de um ano: “Não sabemos o que vai acontecer”, disse.
Fernando Lopes, de 70 anos, reformado, manteve hoje a rotina até se ver “sem luz ou comunicações”.
Deslocou-se ao supermercado para carregar o telemóvel e abastecer. “Tenho o frigorífico cheio”, avisou.
A “maior preocupação” é agora com o filho, que “estuda a 600 quilómetros, no Algarve, e está sem multibanco e sem telemóvel”.
Miguel Monteiro, de 35 anos, também está “assustado, principalmente pelo filho”, pelo que comprou “água, pão, leite, comida para a criança, atum e outros enlatados”.
Na fila para abastecer combustível, Miguel esclareceu que tinha de regressar para o Porto. “Se não abastecer aqui chego lá e fico sem gasóleo”, observou.
Kassandra Barbosa, de 54 anos, também aguardava na fila de automóveis mas ao supermercado não planeia ir: “Tenho em casa sempre uma boa reserva”, assegurou.
No quiosque, compravam-se volumes de tabaco e raspadinhas, Susana comprou duas Sopas de Letras, “para fazer se não voltar a luz” e algumas pessoas tentavam verificar se tinham prémio no Euromilhões, mas a máquina não funcionava.
No centro da vila, uns estabelecimentos estavam fechados e outros permaneciam abertos, parecia ser uma segunda-feira qualquer, com um número mais elevado do que habitual de pessoas a circular com garrafões de água na mão.