Guimarães teve em 2012 um dos “maiores desafios” da sua história ao ser Capital Europeia da Cultura, tornando-se “um oásis” em época de crise com um peso de 85 milhões de euros para o Produto Interno Bruto (PIB) nacional.
A história do “ano de exceção” para a chamada cidade-berço começou em 2006, quando a então ministra da Cultura, Isabel Pires de Lima, anunciou que Guimarães era a eleita pelo Governo para ser Capital Europeia da Cultura (CEC) em 2012.
Começava assim um percurso “por vezes atribulado”, mas que culminaria num “enorme sucesso e exemplo” que colocou “Portugal no mapa da Cultura na Europa”.
Capital Europeia da Cultura levou Guimarães a “assumir-se como polo cultural”
A cidade minhota foi a terceira a hastear a bandeira portuguesa com o titulo de CEC, depois de Lisboa, em 1994, e do Porto em 2001, sendo que o título voltará a Portugal novamente em 2027.
“Depois da classificação do Centro Histórico pela UNESCO como Património da Humanidade, tendo em conta todo o movimento associativo que sabíamos ter e a autoconfiança que construímos, sabíamos que Guimarães 2012 seria um ano de exceção. E assim foi”, lembrou à Lusa a vereadora da Cultura à data, Francisca Abreu.
O caminho “nem sempre foi fácil”, admitiu a responsável, “mas analisando com a devida distância também foram essas dificuldades que levaram a ganhar a capacidade de superar tudo o que era esperado”.
Guimarães 2012 teve dificuldades logo com a equipa e modelo de gestão escolhidos para liderar o projeto.
A opção recaiu sobre a criação de uma Fundação inicialmente liderada por Cristina Azevedo, que acabou por sair em rutura com a estrutura, depois das críticas das associações da cidade, que achavam que estavam a ser postas de lado, pelos atrasos nos fundos comunitários e pela dificuldade em “desenhar uma linha de orientação” que agregasse a cidade e os vimaranenses.
“Tu fazes parte” foi o lema final da CEC 2012 que “uniu” cidade, associações cívicas, instituições e a população em torno do projeto, já sob a égide de João Serra, que substituiu Cristina Azevedo na presidência da Fundação Cidade de Guimarães.
“Da possibilidade de um fracasso passámos ao sucesso inquestionável”, salientou Francisca Abreu.
Para a responsável, “o balanço de 2012 não se pode fazer só por números e indicadores económicos, vai muito além disso e perdura no tempo”.
Ainda assim, o balanço numérico foi feito pela Universidade do Minho, em 2013, e, “contas feitas”, Guimarães 2012 teve um peso no PIB de 85 milhões de euros: ” Valor excelente que reflete o sucesso financeiro, mas que não reflete todo sucesso do evento”, lembrou à data João Serra.
Segundo o referido relatório, em receitas fiscais, a CEC2012 atingiu os 30,8 milhões de euros, mais três milhões de euros do que o que Estado investiu no evento, “pelo que não houve prejuízo” para o erário público.
O turismo e o comércio foram as “duas grandes áreas” beneficiadas pelo evento: “Numa época em que Portugal vivia uma crise económica profunda, sob assistência financeira, Guimarães foi uma espécie de oásis. Cresceram lojas, negócios, aumentou o turismo”, enumerou Francisca Abreu.
Os números corroboram: Em 2012, os turistas em Guimarães gastaram mais 12,38 milhões de euros do que em 2011, as dormidas na cidade aumentaram 43% e houve um aumento do volume de negócios na ordem dos 80%, além de terem sido criados mais de 2.100 empregos.
A inauguração da CEC Guimarães 2012 foi em 21 de janeiro de 2012 e o encerramento em 23 de dezembro do mesmo ano. Pelo meio, foram realizadas mais de mil atividades nas áreas da música, teatro, dança, arquitetura, cinema e fotografia, além de cinco espetáculos “apoteóticos” dos La Fura del Baus.
“A Capital acabou, mas ficou a cultura”, lembrou a ex-vereadora.
Portugal acolhe novamente em 2027, juntamente com uma cidade da Letónia, a Capital Europeia da Cultura.
Aveiro, Leiria, Faro, Viana do Castelo, Coimbra, Évora, Braga, Guarda e Oeiras já anunciaram que vão apresentar uma candidatura.