A cerimónia militar evocativa dos 50 Anos do “25 de abril” deixou “satisfeitos” a generalidade dos “capitães de abril” que, em declarações à agência Lusa, destacaram a “dignidade” do ato que decorreu hoje no Terreiro do Paço, em Lisboa.
Pouco depois do fim da cerimónia, Vasco Lourenço, um dos “estrategas” da revolução que pôs fim a 48 anos do Estado Novo e atual presidente da Associação 25 de Abril, salientou que a “dignidade” da cerimónia prova que as Forças Armadas assumem a mudança de regime.
“Isto é uma prova de que a proposta da parada feita pela Associação 25 de Abril significa que as Forças Armadas assumem o 25 de Abril [de 1974]. É isso que nós fizemos e isso esteve aqui bem presente. As Forças Armadas Portuguesas assumem o 25 de Abril. Vocês já sabem o que valeu a pena. Os 50 anos valeram a pena”, afirmou Vasco Lourenço.
O “capitão de abril”, que se encontrava nos Açores no dia da “Revolução dos Cravos”, pediu às novas gerações que continuem a comemorar a efeméride e que, daqui a 50 anos, possam celebrá-la ainda em nome da liberdade e da democracia, sem extremismos.
Também à Lusa, o coronel de cavalaria Joaquim Capão, que se considera o “homem das vésperas” – foi enviado para Angola a 23 de abril de 1974 e que regressou a Portugal a 23 de novembro de 1975 (dois dias antes do “25 de novembro”) – congratulou-se com a cerimónia, onde estiveram presentes em tribunas de honra todas as autoridades políticas, militares, judiciais e religiosas, bem como grande parte dos “capitães de Abril”.
“Embarquei [de avião] para Angola a 23 de abril. Já sabia o que ia acontecer dois dias depois. Pois era próximo do Salgueiro Maia [que liderou as forças revolucionárias que levaram ao derrube da ditadura]. Soube pela rádio que a revolução tinha acontecido e com sucesso”, relatou aquele que foi o último militar português a deixar Angola, a 11 de novembro de 1975, dia da Independência angolana.
Até regressar a Portugal, Joaquim Capão, condecorado com a ordem de liberdade, foi comandante dos “Dragões de Luanda”, a guarda de honra e de segurança das autoridades portuguesas que lá ficaram até à independência de Angola.
Mário Pinto, oficial paraquedista que participou no ‘25 de abril’ só a posteriori – comandou um destacamento que libertou os últimos presos políticos da prisão de Caxias – também saudou a “dignidade” da cerimónia, ato que “enobrece” as Forças Armadas e Portugal.
“Os paraquedistas não participaram no ‘25 de Abril’. Mas, numa determinada altura, viemos às ordens do Movimento [das Forças Armadas], viemos de Tancos em aviões. E ficámos estacionados na Portela”, recordou Mário Pinto, também condecorado com a ‘Ordem de Liberdade’.
“Mas depois foi necessário ir a Caxias, porque o capitão que teria de lá ir não foi. E foram, então, as forças paraquedistas que libertaram Caxias. Eu comandei um destacamento de paraquedistas que libertou os últimos presos políticos do Estado Novo”, acrescentou.
Para Mário Pinto, as cerimónias militares, tal como as de cariz civil, ajudam a manter viva, nas novas gerações, a memória do que era Portugal antes da “revolução dos cravos”, as razões que levaram um movimento de capitães a organizá-la e ainda a esclarecer o que representam os valores da liberdade e da democracia.
Hoje de manhã, o Terreiro do Paço, em Lisboa, foi palco da cerimónia militar evocativa dos 50 anos do ‘25 de Abril’, ato presidido pelo Presidente da República e Comandante Supremo das Forças Armadas, Marcelo Rebelo de Sousa.
A cerimónia envolveu, entre outras atividades, um desfile apeado das forças em parada e de militares equipados para combate, com sobrevoo de aeronaves, bem como um desfile de viaturas do exército e alguns veículos, entre eles duas chaimites, que estiveram presentes nas operações militares da madrugada de 24 para 25 de abril.
Sem quaisquer intervenções políticas, na cerimónia, em cujas envolventes do Terreiro do Paço estiveram presentes mais de duas mil pessoas (segundo a polícia), as Forças Armadas contaram com a participação de cerca de 1.100 militares, 430 deles em parada, e 37 meios e equipamentos dos três ramos.
A Marinha participou com duas fragatas, um navio patrulha oceânico e outro costeiro e um navio hidrográfico, o Exército com duas motos, duas viaturas ultraligeiras, um Panhard M11, cinco viaturas URO VAMTAC e oito viaturas PANDUR, e a Força Aérea com um EH-101 Merlin, dois Koala, três EPSILON TB-30, um KC-390, um C130H, um P-3C CUP+, um Falcon 50 e quatro F16M.