A recuperação da capela do Anjo da Guarda, em Ponte de Lima, foi totalmente concluída na última semana, ao abrigo de uma candidatura de valorização do Caminho Português de Santiago, disse hoje à agência Lusa fonte autárquica.
Em causa, explicou a fonte da Câmara de Ponte de Lima, está a candidatura “Qualificação e Valorização do Caminho Português para Santiago de Compostela – Ponte de Lima” apresentada pelo município ao programa Norte 2020, num investimento global de 812.609,51 euros financiado a 85% pelo FEDER.
Datada do século XIV, devido aos elementos arquitetónicos que apresenta, em particular nos capitéis, a capela sofreu “grandes obras” de recuperação na sequência de cheias do rio Lima, no século XVIII.
Por se tratar de “um monumento arquitetónico invulgar, junto ao rio, há quem diga que terá servido de abrigo para os navegantes, por ser também conhecida como capela de São Miguel do Abrigo ou Abrigo do Anjo da Guarda”.
“Por aqui passam há vários séculos os peregrinos a caminho de Santiago de Compostela e daí a sua importância na integração deste projeto de valorização dos monumentos associados ao caminho de peregrinação”, sustenta a fonte autárquica.
A conservação e restauro da capela do Anjo da Guarda, classificada como Monumento Nacional desde 1978, realizada pela empresa Signinum, decorreu entre julho e dezembro de 2021, sendo que na última sexta-feira foi colocada a vedação em torno do monumento.
A intervenção, que vai ser inaugurada no dia 05 de março, foi acompanhada pela Direção Regional de Cultura do Norte (DRCN), incidiu na cantaria de pedra, nos rebocos tradicionais e ma escultura em argamassa.
No total, o projeto teve um custo aproximado de 900 mil euros, mas a intervenção de restauro e limpeza da capela do Anjo da Guarda ficou por 63.600 euros.
Em declarações à agência Lusa, o conservador-restaurador Stefan Alves, que coordenou os trabalhos, explicou a investigação sobre o aspeto original do monumento permitiu aceder “aos registos mais antigos que existem”, mostrando aos especialistas “a configuração original da capela”.
“Devolvemos-lhe o aspeto mais remoto a que tivemos acesso. O próprio Anjo da Guarda foi sujeito a várias camadas de decapagem, porque estava muito abonecado. Tinha sido alvo de sucessivas intervenções que danificaram o aspeto original que tinha, tanto a imagem como o nicho. Fomos removendo, camada a camada, até chegarmos às camadas originais e à configuração estética original”, explicou Stefan Alves.
O responsável pelo intervenção adiantou que a obra realizada naquele monumento, “foi uma das primeiras em Portugal em que foram aplicados óleos essenciais em substituição dos biocidas tóxicos, à base de sais de amónio quaternário, tradicionalmente usados nos trabalhos de limpeza em pedra”.
“Pode parecer pouco importante, mas na lógica dos novos desígnios ecológicos é um avanço extraordinário porque substituímos produtos tóxicos por óleos essenciais, sem toxicidade. Demos especial atenção a esse facto para evitar a contaminação dos solos uma vez que obra apesar de ter decorrido em contexto urbano, está nas imediações do rio Lima”, especificou.
Em Ponte de Lima, e abrigo da candidatura de valorização do Caminho de Santiago, está ainda em curso a recuperação e restauro da Capela de Santiago da Quinta do Paço, na Correlhã, “uma das poucas no Alto Minho dedicadas ao apóstolo bíblico, outrora pertencente à Casa de Bragança e, antes desta, à Igreja Compostelana”.
A obra de recuperação representa um investimento de 140.638 euros e a de conservação e restauro de 22.792 euros.
Já concluída está a reabilitação do Caminho do Arquinho – Caminho de Santiago, troço de peregrinação a Santiago de Compostela, “o mais antigo em termos documentais e usualmente conhecido como o Caminho Central”.
A autarquia destaca ainda a intervenção no Museu dos Terceiros, “extinto convento franciscano do século XV, que teria uma das mais antigas hospedarias onde pernoitavam peregrinos”.
O distrito de Viana do Castelo é atravessado por duas rotas seculares do Caminho Português de Santiago, na Galiza, Espanha, com 80 mil quilómetros de extensão.