Cancro do Pulmão – Olhar para o futuro

Opinião da médica Lurdes Ferreira no Dia Mundial do Cancro do Pulmão
Cancro do pulmão – olhar para o futuro
Foto: ULS Braga

Lurdes Ferreira
Assistente Graduada Sénior de Pneumologia
Responsável pela Consulta Multidisciplinar de Tumores Torácicos da ULS Braga

O Dia Mundial do Cancro de Pulmão assinala-se, anualmente, a 01 de agosto e tem como objetivo aumentar a sensibilização e a consciencialização sobre fatores de risco, prevenção, diagnóstico precoce e rastreio do cancro do pulmão. Serve como um lembrete para informar e sensibilizar a população sobre esta doença, que continua a ser uma das principais causas de mortalidade em Portugal e no mundo.

Devido ao tabagismo e a outros fatores de risco, a incidência de cancro do pulmão tem aumentado no mundo. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, dados de 2020, aproximadamente 1,80 milhões de pessoas morreram de cancro do pulmão em todo o mundo, enquanto foram notificados 2,21 milhões de novos casos.

Em Portugal, em 2020, diagnosticaram-se cerca de 5415 novos diagnósticos de cancro do pulmão e 4797 mortes, sendo que mais de 80% dos doentes diagnosticados com esta patologia são ou foram fumadores. Verifica-se que 65% dos novos casos são detetados em fase avançada, o que dificulta o tratamento e reduz as probabilidades de sobrevivência.

A principal causa associada a esta doença é o consumo de tabaco, sendo responsável por 80% dos casos, existindo, no entanto, outros fatores como o envelhecimento da população, exposições ocupacionais, poluição, nutrição, infeções e fatores genéticos. O quadro clínico é silencioso, sendo que a sintomatologia ocorre geralmente em estadios já avançados ou mesmo metastáticos. É importante estar atento a alguns sinais de alerta tais como perda de apetite e peso, cansaço, tosse seca persistente e/ou com sangue, dificuldade respiratória e dor no peito ou costas, que podem ajudar a detetar o cancro do pulmão ainda num estádio inicial.

O tratamento do cancro do pulmão varia de acordo com vários fatores, como o tipo (cancro de não pequenas células ou de pequenas células), o tamanho, a localização e a extensão do tumor, bem como o estado geral de saúde do doente. Nos últimos anos tem havido uma evolução considerável a nível do conhecimento do cancro do pulmão, existindo novas alternativas de tratamento em constante desenvolvimento.

O cancro do pulmão é curável nalguns casos em especial se diagnosticado e tratado precocemente. Para os novos doentes hoje diagnosticados com cancro do pulmão as perspetivas de controlo da doença ou mesmo cura, alteraram-se substancialmente na última década. Ao nível das instituições que tratam o cancro do pulmão a criação de

Reuniões Multidisciplinares de Tumores Torácicos (RMTT) impõe-se como uma mais- valia fundamental no planeamento da abordagem dos doentes, proporcionando uma melhor coordenação e redução da variabilidade dos cuidados prestados ao doente. Novas metodologias cirúrgicas e tecnologias inovadoras na Radioncologia torácica, melhoraram substancialmente as taxas de controlo e cura. Mas a grande revolução deu-se nos estadios avançados. Há algumas décadas, pouco podia ser oferecido a um doente com cancro do pulmão inoperável. Atualmente o arsenal de tratamentos eficazes cresce exponencialmente.

O conhecimento molecular cada vez mais preciso e minucioso dos tumores está a permitir-nos individualizar mais os tratamentos, ao mesmo tempo que a imunoterapia se afirma como um pilar fundamental do tratamento, permitindo-nos alcançar hoje resultados que não poderíamos imaginar há alguns anos. Maior sobrevivência, com preservação e melhoria da qualidade de vida.

Em países como os Estados Unidos, as taxas de mortalidade têm vindo a diminuir, graças aos avanços no tratamento e à crescente consciência pública sobre os perigos do tabagismo. A deteção precoce através de programas de rastreio também desempenhou um papel crucial na melhoria dos resultados para muitos doentes.

Nos últimos 15 anos houve mais avanços do que nos 30 anos anteriores, conseguindo-se aumentar a sobrevivência e qualidade de vida dos nossos pacientes, mas há, sem dúvida, um longo caminho ainda a percorrer na Prevenção Primária e secundária.

A prevenção primária do consumo de tabaco continua a ser a medida mais significativa, conduzindo uma redução da incidência e mortalidade por cancro do pulmão, e a prevenção secundária com a implementação de um programa nacional de rastreio, com a chamada TAC de baixa dose, permite detetar os tumores de forma mais precoce, em populações de maior risco, ou seja, fumadores, demonstrou reduzir em mais de 20% a mortalidade por cancro do pulmão.

Quer seja um profissional de saúde, doente, cuidador ou simplesmente alguém que se preocupa com a saúde pública, a sua participação no Dia Mundial do Cancro do Pulmão pode fazer a diferença.

1.Adote hábitos saudáveis

A maneira mais eficaz de reduzir o risco de cancro de pulmão é evitar fumar e a exposição ao fumo passivo. Considere parar de fumar, se fuma, e incentive outras pessoas a fazerem o mesmo. Além disso, tome medidas para melhorar a qualidade do ar no seu ambiente.

2.Eduque-se e influencie os outros

Compartilhe as informações sobre cancro com amigos, familiares e sua comunidade para ajudar a aumentar a consciencialização. Existem Sociedades Científicas e Associação de doentes, que podem contribuir para informar e apoiar. Se tem dúvidas procure o seu médico.

3.Temos de tornar o rastreio do cancro do pulmão, uma realidade em Portugal!

Em Portugal ainda não temos a implementação de rastreio populacional do cancro do Pulmão. Aguarda-se que os decisores políticos tomem a decisão de alargamento do programa de rastreios oncológicos ao cancro do pulmão, tal tinha sido apontando pelo anterior Ministro de Saúde, que arrancaria em 2023 com projetos-piloto. Contudo, acabou por não acontecer.

Ao celebrarmos o Dia Mundial do Cancro do Pulmão, é importante reconhecer o progresso que foi feito e ao mesmo tempo reconhecer o trabalho que ainda temos pela frente. Esperando por um programa de rastreio em Portugal para breve.

 
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