“Campeões da cerveja” não perderam mais um “salto de Fafe”

“Salto da Lameirinha”
Foto: Rally de Portugal

Cerveja e bifanas disputaram com os bólides do WRC a preferência dos adeptos que hoje, bem cedo, invadiram Fafe para verem o rali junto ao mítico salto da Lameirinha.

À chegada a um dos pontos mais emblemáticos do campeonato, que fechou a prova e onde se concentraram dezenas de fotógrafos para registar as imagens dos saltos de Ogier, Tänak, Neuville e outros ases do volante, logo se percebeu que o “circo” e a sua enorme moldura humana tinha voltado a Fafe, consagrando, de novo, uma das catedrais do WRC.

Mas é um circo bem popular, com dezenas de milhares de aficionados anónimos que exibem as suas bandeiras, de tantos países, numa parafernália de sons de motosserras nas colinas, em despique, buzinas e gaitas futeboleiras. E potentes, diz-se, sistemas de som com música da pesada e letras brejeiras que fizeram sorrir e dançar, sobretudo na noite passada.

Bruno Soares, de Leça do Balio, Matosinhos, contou: “Somos os campões da cerveja”. Aquele adepto, acompanhado por amigos, exibia, como noutros anos, o tejadilho de um automóvel repleto de dezenas de garrafas de cerveja, que “bateu o recorde do ano passado”, garantiu, orgulhoso.

Muitos pernoitaram em tendas, de onde, na manhã de hoje, entre as duas passagens pelo troço da Lameirinha, brotaram os aromas acabados de cozinhar, regados com algum vinho, mas sobretudo com muita e muita cerveja, uma das rainhas da festa.

À frente, outro aficionado, este de Lousada, comparou, gracejando, a experiência em Fafe a “um orgasmo de satisfação”.

“Conhecemos aqui muita gente, é muito bom. Há duas coisas no Rali de Portugal, a superespecial em Lousada e o salto em Fafe”, anotou, oferecendo uma bifana acabada de preparar ao repórter.

Aquele adepto, que era o cozinheiro de serviço, improvisado, grelhando fêveras e outros pitéus, contou que para matar a sede, desde manhã cedo, o seu grupo tinha bebido cerveja, “pouquinha”, disse entre gargalhadas do grupo.

De carro, de moto, de autocaravana, de bicicleta, de todo-o-terreno, de trotinete, tudo serviu hoje para chegar ao sítio das emoções, no alto da serrania de Fafe, a caminho da festa.

Nas bermas das estradas de acesso, milhares de carros e motos estacionados e, já no troço, com uma segurança cada vez mais apertada, lá estava o salto que provoca os aplausos. Um ícone dos ralis ladeado por encostas, onde os adeptos, cada vez mais longe de pista, a maioria homens, confraternizam durante horas.

À Lusa, os espetadores, alguns em ambiente de família, falam de uma festa única, que junta, ano após anos, a adrenalina dos automóveis voando no salto, com o prazer do convívio poliglota, engalanado com bandeiras de diferentes latitudes nacionais e estrangeiras.

“É um orgulho nacional e o orgulho de termos uma prova mundial”, contou Ricardo Costa, de 24 anos, de Vieira do Minho, explicando porque exibia uma bandeira nacional, uma das maiores nas redondezas.

O jovem elogiou o ambiente e disse ser “um momento de comunhão com os amigos”.

“Eu adoro os carros e os motores. É espetacular esta envolvência”, anotou.

Para outros adeptos menos dados a piqueniques, não faltam as “roulottes”, alongadas numa improvisada e empoeirada alameda com centenas de metros, que serviam cachorros e outras propostas de comida rápida, a preços inflacionados, mas que não desmobilizavam as longas filas de comensais.

Este ano, aparentemente houve menos espanhóis, a fazer fé na quase ausência de bandeiras do país vizinho, o que é explicado pela falta de pilotos daquela nacionalidade a disputar os lugares cimeiros da prova.

Carlos, que veio da Corunha, na Galiza, diz, contudo, que os difíceis acessos podem também justificar em parte a menor presença de “nuestros irmanos”.

Mas a maioria dos aficionados volta a Fafe a cada ano e promete não faltar no seguinte, porque a diversão está garantida, a cada salto na Lameirinha, como foram dizendo.

“Já venho há quatro ou cinco anos. O que me traz cá é o gosto por carros desde pequeno e o convívio. Estamos aqui, desde sexta-feira, e vamos voltar para o ano”, contou Diogo Lopes, de 25 anos, de Guimarães.

 
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