A campeã nacional de badminton, Adriana Gonçalves, conjuga a prática da modalidade ao mais alto nível com o trabalho em dois restaurantes e a licenciatura em Enfermagem, mantendo o “sonho” de chegar aos Jogos Olímpicos.
Aos 23 anos, a jogadora do Famalicense está nas Caldas da Rainha, Leiria, para conseguir, no domingo, revalidar o título de campeã nacional de singulares, depois de em 2021 bater a irmã, Sónia Gonçalves, para lá chegar.
“Teve um sabor um bocadinho agridoce, por ganhar à minha irmã na final. Contente, mas triste por lhe tirar o título. Não consegui saborear muito bem”, admite, em entrevista à Lusa.
Estes Nacionais surgem na reta final de um ano de 2022 que, “como 2021, foi muito complicado, por ser atleta, estudante e trabalhadora”, a caminho do último semestre em enfermagem na CESPU, na cidade em que vive, Famalicão.
Trabalha para ser independente e para ajudar a mãe e a irmã, com quem vive, bem como o sobrinho bebé, e “conciliar tudo, ter energia para treinar ao final do dia e conseguir ter resultados em todos os treinos” é algo que “custa”.
Campeãs nacionais em pares, outro título que querem revalidar domingo após avançarem hoje no Centro de Alto Rendimento, no primeiro dia dos Nacionais, as irmãs também venceram pelo Famalicense o campeonato por equipas.
Adriana Gonçalves esteve nos Jogos do Mediterrâneo Oran2022, quer revalidar os títulos, e depois “continuar a ser das melhores, se não a melhor”, e tentar “fazer mais torneios internacionais”, ainda que os estágios da faculdade possam complicar esse desígnio.
Os Europeus por equipas, com a fase de qualificação em dezembro, ainda sem convocatória definida, os Jogos Europeus em 2023, outro objetivo, juntam-se à vontade de estar num campeonato da Europa em singulares, depois de já ter marcado presença em pares.
Admitindo ter ficado “triste” por não ter sido escolhida para receber a bolsa de Solidariedade Olímpica do Comité Olímpico Internacional, que a irmã também teve e agora foi atribuída a Madalena Fortunato, essa é uma decisão que tem de “aceitar”.
Chegou ao badminton no quinto ano de escola, por influência da irmã e com recurso ao desporto escolar, um ‘viveiro’ de jovens talentos para a modalidade, mas diz que não tem “jeito nenhum para o desporto”.
“Eu só tenho jeito para badminton porque treinei. Claro que as minhas capacidades mentais ajudam, não basta ser só muito bom fisicamente”, comenta, sem ironia.
A viver, treinar e trabalhar no Norte, está longe do Centro de Alto Rendimento das Caldas da Rainha, pedindo que mais torneios possam deslocar-se a outras zonas do país, e louva o trabalho do clube, campeão nacional há vários anos.
“Quem está no Famalicense é sempre na base do trabalho. Se é fácil conseguir conciliar tudo, se sou boa em tudo? Não, nem sempre consigo dar 100% de mim a tudo em que ando. Mas tem de ser feito. Preciso de fazer tudo e não consigo largar nada. É difícil, é, mas quando se quer uma coisa, tem de se lutar por isso”, afirma.
O “sonho ideal” são uns Jogos Olímpicos, um desígnio complicado que, para Tóquio2020, nenhum português conseguiu – a irmã e Bernardo Atilano ficaram perto -, e isso passa por “fazer bons resultados nos torneios internacionais”, para melhorar o jogo e subir no ranking.
“Treinando mais, tendo mais descanso, com tudo mais favorável para maior rendimento, sei que tenho capacidades, força mental e psicológica, para ser uma boa atleta”, atira.
Depois de hoje eliminar Carolina Mendes (21-8 e 21-16) e Marta Sousa (21-13, 20-22 e 21-11), avançou para as meias-finais, mas pela frente, na luta pelo Nacional, no domingo, terá pela frente uma adversária de ‘peso’: a irmã, Sónia, também em busca de um título que já venceu, e com quem avançou também em pares.