O sítio transfronteiriço do Alto da Raia, entre Montalegre e Ourense, está a ser alvo de uma investigação arqueológica que visa validar a hipótese de se tratar de um acampamento militar romano, disse hoje o responsável pelo projeto.
“Estamos em campo para tentar perceber o que este recinto é, como é que ele está construído e, sobretudo, de quando é que ele data”, afirmou à agência Lusa o arqueólogo João Fonte, da Universidade de Exeter (Inglaterra).
Trata-se de um recinto fortificado de cerca de três hectares de superfície localizado entre Tourém (Montalegre, Portugal) e Calvos de Randín (Ourense, Espanha).
João Fonte explicou que o sítio do Alto da Raia foi identificado através da tecnologia LiDAR, que faz uma espécie de varrimento laser aéreo e detetou um talude de terra e um fosso externo.
Estes dados foram fornecidos pelo Instituto Geográfico Nacional (IGN) através do Plano Nacional de Ortofotografia Aérea (Espanha) que, na última década, permitiu a deteção de inúmeros sítios arqueológicos.
Depois, em setembro, foi feita uma limpeza integral do local e um levantamento microtopográfico com recurso a um drone.
Agora, os trabalhos arqueológicos no terreno começaram na segunda-feira, terminam na sexta-feira e visam validar a hipótese de que se possa tratar de um acampamento militar romano.
Segundo o responsável, nestes dias foi realizada uma sondagem perpendicular à linha defensiva que confirmou a existência de um fosso externo e foi também detetada cerâmica antiga, que vai ser analisada para datação.
“Pela morfologia que tem, pela localização e pela tipologia construtiva do fosso em ‘v’ e do talude defensivo tudo aponta para que seja um acampamento militar romano”, referiu o arqueólogo.
A confirmar-se, o sítio arqueológico poderá contribuir para um melhor conhecimento dos processos de conquista e assimilação do território por parte de Roma, que começou por volta do século II antes de Cristo.
A investigação pretende também apurar se, quando se construiu o recinto, já havia ali “algum tipo de ocupação indígena” na idade do Bronze ou na idade do Ferro.
“As amostras que vamos recolher estes dias, na base do fosso e no interior do talude, também vão ajudar a confirmar a datação absoluta destas estruturas”, acrescentou.
O que foi confirmado até ao momento, segundo João Fonte, é que existe um recinto arqueológico que “é claramente antigo”, faltando “determinar a sua datação específica e perceber se a cerâmica encontrada se relaciona com o recinto ou com uma ocupação anterior”.
O arqueólogo perspetiva a realização de novos trabalhos de investigação naquele sítio.
A campanha arqueológica está a ser levada a cabo pelo grupo de investigação romanarmy.eu, com a colaboração com a empresa Era-Arqueologia.
A intervenção é financiada pela Comissão Europeia, através do projeto Finisterrae, e conta com o apoio do município de Montalegre, Junta de Freguesia de Tourém, Ecomuseu do Barroso e o concelho galego de Calvos de Randín.
O projeto Finisterrae pretende investigar o impacto da primeira romanização no território situado entre o sul da Galiza e o norte de Portugal.
Neste contexto, já foram realizadas duas intervenções arqueológicas anteriores em 2020 nos acampamentos militares romanos do Alto da Pedrada (Soajo, Arcos de Valdevez) e Lomba do Mouro (Castro Laboreiro, Melgaço e Verea, Ourense), todos localizados dentro da Reserva da Biosfera Transfronteiriça Gerês-Xurés.
Os resultados dos trabalhos realizados na Lomba do Mouro vão ser apresentados na terça-feira.
Romanarmy.eu é um coletivo científico que investiga a presença militar romana no Noroeste da Península Ibérica, sendo formado por investigadores de distintas universidades e centros de investigação europeus, diferentes disciplinas e especialistas em várias épocas históricas.