Cerca de 20% dos trabalhadores da empresa Concentrix, sediada no edifício da estação de comboios, em Braga, estão em greve desde o início da manhã desta segunda-feira, onde alguma animosidade levou a que fossem chamadas autoridades policiais.
Os trabalhadores reivindicam integração imediata de dirigentes sindicais despedidos, o pagamento mensal “sem erros” e o ressarcimento de “milhares de euros em prémios que estão em dívida”.
Nuno Geraldes, dirigente do Sindicato de Trabalhadores de Call Center (STCC), disse a O MINHO que a PSP foi chamada “depois da empresa ter impedido piquete de greve de exercer atividade sindical nas áreas comuns da empresa”, algo que “está previsto na constituição portuguesa”.
“Existe o direito de fazer sindicalismo neste país, mas como não nos deixaram entrar, chamámos as autoridades”, sublinha.
Fonte oficial da PSP confirmou, a O MINHO, a ida ao local mas indicou que ninguém foi identificado, apenas levantado o auto de ocorrência.
“Vão bater às portas das casas de banho ao fim de três minutos”
Nuno Geraldes denuncia ainda “assédio moral” no trabalho, dando exemplo de chefias, pertencentes às empresas de trabalho temporário Randstad e Manpowergroup. “Vão bater às portas das casas de banho ao fim de três minutos”, denuncia o dirigente sindical, alegando que “quando um funcionário demora mais tempo numa chamada, face às questões do cliente, as chefias começam a bater nas cadeiras para que o assistente desligue”.
Geraldes, que foi recentemente despedido por, diz, exercer a atividade sindical, quer ser reintegrado em conjunto com outros colegas que terão sido suspensos pelos mesmos motivos, nomeadamente Ângela Lima, Pedro Monteiro e Freddy Fernandez.
“Existem sanções disciplinares sem processo de disciplina, há trabalhadores que são mandados de férias sem qualquer explicação e depois não são reintegrados, tudo sem explicação”, denuncia.
“Forçam a mudar folgas, ligaram às pessoas que faltaram hoje para aderir à greve a questionar porque é que não vêm trabalhar, condicionando assim a ação sindical”, acrescenta.
“No pico do protesto, tivemos aqui cerca de 40 colaboradores, mas a maior parte não vem por medo de represálias, embora tenha aderido à greve”, aduz.
“Cumprir a lei”
Geraldes quer ver a empresa a “cumprir a lei”, a deixar de “negar os direitos consagrados”, que “os salários sejam pagos todos meses, sem erros” e que “acabe o processo de assédio e perseguição sindical”.
Pede ainda “transparência na atribuição de horários, equidade e rotatividade concertada com os trabalhadores”, para além dos direitos de parentalidade, acesso aos tempos de trabalho e a realização prévia dos procedimentos quando aplicam sanções disciplinares.
A greve estará em vigor até às 20:30 desta segunda-feira.
“Situações de erro são de imediato corrigidas”, afirma Randstad
Contactada por O MINHO, a empresa Randstad afirma que “os casos de assédio de qualquer natureza são repudiados e tratados de forma célere e cumprindo escrupulosamente o que está previsto na lei”.
“Em relação ao bem estar das nossas pessoas temos em parceria com a Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa o maior estudo do sector que nos permite identificar riscos, tendências e comportamentos de forma a podermos atuar na melhoria das condições dos nossos colaboradores”, aponta.
Sobre os pagamento, a empresa garante que o cumprimento “rigoroso e atempado” das “obrigações legais sendo que caso existam situações de erro são de imediato corrigidas”.
Suspensos por violar acordo de confidencialidade
Acerca da suspensão preventiva dos colaboradores em questão, diz a Randstad que a mesma “foi motivada pela violação do dever de confidencialidade a que os trabalhadores estão obrigados”.
“Os colaboradores foram notificados por email e carta registada. Os motivos da suspensão são do conhecimento dos trabalhadores envolvidos e não estão de forma alguma relacionados com a estrutura sindical que integram”, assegura.
“A Randstad deu início a uma fase de inquérito para a averiguação e confirmação dos factos que levaram a esta suspensão. O processo em curso está a seguir os trâmites legais, cumprindo com rigor o dever de informação da fase em que se encontra”, refere a empresa.
A Randstad diz mesmo que “qualquer acusação de perseguição a estas organizações é absolutamente falsa”.
“A Randstad pauta a sua atividade pelo cumprimento das normas e leis em vigor e a atividade sindical é um direito legalmente consagrado, garantindo a Randstad todas as condições para que os sindicatos exerçam a sua atividade”, acrescenta.
“A greve é um direito legítimo dos colaboradores independentemente da natureza do vínculo laboral que detenham e, enquanto entidade empregadora, a Randstad encontra-se totalmente disponível para ouvir os colaboradores e reunir com o STCC – Sindicato dos Trabalhadores de Call Center, como aliás tem vindo a acontecer”, finaliza.