Cabritos para a Páscoa por vender acumulam prejuízos a casal de Arcos de Valdevez

Covid-19
Cabritos para a páscoa por vender acumulam prejuízos a casal de arcos de valdevez

Alexandre e Rosa Fernandes tinham 150 cabritos de leite encomendados por restaurantes de todo o Alto Minho para a Páscoa, mas o surto de covid-19 trocou às voltas à tradição e os prejuízos começaram a aparecer.

“Tinha 150 cabritos de leite, de raça bravia, prontos a sair. Com cinco a seis quilogramas, o peso que os restaurantes pedem. Desistiram todos porque tiveram de fechar portas. Já perdi cerca de 10 mil euros e não vai ficar por aqui”, lamentou o pastor.

Criador há vinte anos, Alexandre não hesita: “É a pior crise que já vivi, de longe. Nunca vi tal coisa. Nunca passei por tantas dificuldades financeiras como agora. Precisamos de escoar o produto e não há qualquer hipótese”.

O casal da freguesia de Vale, em Arcos de Valdevez, com 45 e 36 anos, têm “na maior exploração do distrito de Viana do Castelo, 350 cabeças e 200 cabritos de leite, de raça bravia”.

A Páscoa, muito celebrada no Alto Minho, e o Natal, são os pontos altos do negócio familiar que, este ano, por causa da pandemia de covid-19, está a enfrentar “uma diminuição drástica de procura”.

“Vou ficar quase com 95% da criação que tinha para a Páscoa. Agora vai ser complicado para as vender, mesmo a nível particular, porque não há tanta procura e a que há é a baixo custo”, lamentou.

Os animais ficam na exploração e os custos com a alimentação engrossam, diariamente, os encargos do negócio de Alexandre e Rosa.

“Gastamos tanto com a alimentação dos animais e chega a altura de sermos ressarcidos do nosso trabalho e não temos a quem vender. Por dia são entre 40 a 50 euros para a ração e o feno, e ainda levo os animais à serra para pastar”, observou.

Preocupado, o casal não vê outra fonte de rendimento para “apoiar” os projetos dos dois filhos, sobretudo da “mais velha” prestes a entrar no ensino superior.

“Neste momento temos de ponderar. Já falamos com ela, com calma, porque ela queria muito entrar para a universidade, mas é preciso dinheiro e se continuar assim não poderemos apoiá-la este ano. Isto é mesmo assim”, atirou.

O pastor, que “não é homem de virar a cara à luta”, confessa que, “desta vez está difícil” enfrentar o futuro com “otimismo”, ainda mais com o projeto que a mulher candidatou a fundos comunitários para aumentar a produção”.

“O projeto de 120 mil euros foi aprovado e está assinado. Prevê a ampliação da exploração, a partir de 09 de setembro, para as cerca de 600 cabeças. O pavilhão de 400 metros quadrados começa a ser construído em maio ou junho, mas se isto não melhorar vamos passar por alguns problemas”, disse Alexandre Fernandes.

O casal de criadores é associado da Cooperativa Agrícola de Arcos de Valdevez e Ponte da Barca.

“Pedem-nos para continuar, mas o Governo devia olhar para este setor. A ver se nos apoiam para podermos continuar. Gostamos de cumprir com as nossas obrigações”, referiu.

O presidente da cooperativa, José Carlos Gonçalves, está “muito preocupado”, até porque o problema não afeta só a criação de cabrito. A criação de vaca de raça Cachena, que tem Denominação de Origem Protegida desde 2002, é outra das raças autóctones que está a ser “muito afetada”.

“Está tudo parado. Os restaurantes e hotéis, os nossos principais clientes, estão fechados não temos para onde escoar a carne”, referiu.

José Carlos Gonçalves acrescentou que a Federação das Raças Autóctones está a fazer “um bom trabalho” no sentido de “incentivar os hipermercados a venderem carne destas raças”.

“Também temos de tentar a exportação senão vai ser um caos”, referiu.

A Cooperativa Agrícola de Arcos de Valdevez e Ponte da Barca representa 2.436 criadores dos dois concelhos sendo que, por ano, são produzidos cerca 500 animais de raça Cachena.

Típica do Parque Nacional da Peneda-Gerês (PNPG), a vaca Cachena da Peneda é a mais pequena raça bovina portuguesa e uma das mais pequenas do mundo.

O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou mais de um milhão de pessoas em todo o mundo, das quais morreram perto de 54 mil.

Em Portugal, segundo o balanço feito hoje pela Direção-Geral da Saúde, registaram-se 246 mortes, mais 37 do que na véspera, e 9.886 casos de infeções confirmadas, o que representa um aumento de 852 em relação a quinta-feira.

 
Total
0
Shares
Artigo Anterior
Mais de cem detenções no país nos primeiros 15 dias do estado de emergência

Mais de cem detenções no país nos primeiros 15 dias do estado de emergência

Próximo Artigo
Pcp reclama testes para todos os operacionais dos bombeiros sapadores de braga

PCP reclama testes para todos os operacionais dos Bombeiros Sapadores de Braga

Artigos Relacionados