A brasileira Jessica Lírio, que vive em Braga há cerca de um ano e é a atual Miss Brasil Universal Woman, vai disputar nos próximos dias a competição Miss Universal Woman Pageant no Dubai, e vai levar a cidade consigo. A modelo vai estar com um vestido produzido pela estilista Carla Silva em parceria com o brasileiro Ronaldo Souza.
O vestido ‘made in’ Braga é inspirado na arara-vermelha, ave típica da fauna brasileira, é cerca de 90% costurado à mão, com uma renda de pedrarias, e quase não aconteceu.
Jessica já tinha decidido por utilizar peças produzidas pelo atelier de Carla Silva, mas para diferentes eventos do concurso. O vestido principal seria produzido por parceiros brasileiros da modelo, que criou uma empresa que oferece workshops para formar novas modelos.
“Mas por viver fora e não estar no Brasil, houve uma falha de comunicação e deu tudo errado com todos os tecidos, não ficaram bons. Não era o que eu queria, então alguns profissionais falaram que iriam ajudar, e acabou por não acontecer. Regressei, e até o dia 10 deste mês não havia solução”, disse Jessica a O MINHO. “Pensei em falar com a Carla e o Ronaldo se conseguiam ajudar. Vim, disse que não tinha tecido, e que eles dessem uma luz, senão não teria vestido para a final”.
A dupla viu o que poderia fazer, Ronaldo fez o desenho, que logo foi aprovado, e já está quase pronto. “Quando ele mostrou o vestido no domingo, eu até chorei”, confessa Jessica.
Para o vestido nascer, alguns encontros foram necessários. Primeiro o de Ronaldo Souza com Carla Silva. O brasileiro deixou uma carreira na moda de 25 anos para viver em Braga. Depois de alguns empregos, resolveu entrar no atelier, e não saiu mais de lá.
“Eu passava aqui e achava uma confusão, achava que era um salão de beleza. Um dia ao sair do meu emprego anterior, o autocarro quebrou e eu subi a rua do Souto, tudo tinha mudado, achei que tinha mudado de dono, então eu entrei, com o “não” garantido. Eu me ofereci para trabalhar, explicou Ronaldo. “Ele disse que ia trazer o material, ia fazer o desenho, eu disse que estava à vontade, podia pegar o que quisesse. Ele pegou nas coisas e fez um vestido. Isto foi há cinco meses”, completou Carla, ambos em entrevista a O MINHO.
Antes da pandemia, a estilista conta que tinha duas colaboradoras, mas não estava satisfeita, então elas saíram. Na altura da covid-19, tudo mais difícil, aceitou que outras pessoas vendessem itens como perfumes e cremes no atelier. Daí a tal “confusão” referida por Ronaldo.
“Eu trabalho nisto há mais de 30 anos, com muito amor e carinho por tudo que faço. E ao longo do tempo o percurso de vida que eu tive foi sempre a crescer. E depois da pandemia eu decidi ter algo com este homem, quase como um casamento”, explica Carla. “A única vantagem é que não dormimos juntos”, brinca Ronaldo.
“É como quando encontramos a alma gémea de trabalho. Eu pedi muito a Deus que colocasse alguém no meu caminho. Eu sempre fui de expandir, mas não podia sair daqui porque tinha que fazer todas as peças, e elas (as duas antigas colaboradoras) não sabiam. E antes do covid-19 eu disse que não poderia mais trabalhar daquele jeito. E foi quando apareceu o Ronaldo, e eu me encantei, não só pela simpatia e carisma, e estamos numa sintonia. O Ronaldo tem uma forma diferente de trabalhar, que é de modelagem, e eu faço com o olho”, diz Carla.
Com a sintonia do “casal” a progredir, apareceu a Jessica. A modelo conta que já tinha entrado na loja, mas não tinha conversado ainda com Carla. Até que num ‘casting’ para um desfile todos se conheceram.
“A conexão foi automática, ela é uma pessoa que interage muito bem”, diz Carla.
“Ela é muito doce, muito gentil. Ela propôs produzirmos alguma parte do traje de gala e outras peças que ela vai usar aqui da Carla, e criámos esta parceria, como uma troca, a gente usa a imagem dela, uma mulher muito bonita”, explica Ronaldo.
No entanto, na sequência dos problemas no Brasil, a responsabilidade aumentou. Jessica precisava do vestido e faltavam poucos dias para a viagem. A modelo viaja já esta quarta-feira para o Dubai, e até o último dia 10 não existia o principal traje para o evento.
“Até duas semanas atrás eu não tinha vestido. Está a ser um concurso que me faz crescer como pessoa, a testar todos os limites, tudo o que podia dar errado, deu”, reflete Jessica.
Mas depois de dias cansativos, o vestido foi produzido e vai embarcar com Jessica.
A programação começa no dia 27, e depois de diferentes eventos, a final, com o vestido ‘made in’ Braga, ocorre no dia 02 de fevereiro.