O Brasil escolhe este domingo a sua 39.ª presidência. Segundo as sondagens, a disputa será entre Lula da Silva, que cumpriu o 35.º mandato desde o início da República, e Jair Bolsonaro, que busca a reeleição. No entanto, há mais de um século, um político com raízes em Ponte de Lima foi o quinto presidente do país.
Nascido na cidade de Guaratinguetá, no estado de São Paulo, Francisco de Paula Rodrigues Alves era filho de Domingos Rodrigues Alves, natural da freguesia da Correlhã, em Ponte de Lima, e que emigrou para o Brasil em 1832.
Segundo as memórias do ex-presidente do Brasil, o seu pai, então com apenas 14 anos, viajou no navio Rio Lima, a partir de Viana do Castelo, rumo a uma viagem de 46 dias e com uma “fortuna” de 12 vinténs de prata. Inicialmente, Domingos ficaria no Rio de Janeiro, litoral do Brasil, mas por problemas de saúde, foi aconselhado a ir para o interior, e rumou a Guaratinguetá, onde conheceu a sua esposa, Isabel Perpétua de Marins.
“Em termos gerais, ter uma personalidade tão marcante no Brasil com raízes aqui significa que na génese desta freguesia houve pessoas lutadoras, dinâmicas e capazes de criar impacto já lá vão muitos anos, ao ponto de deixarem um legado reconhecido além-fronteiras e que muito orgulha a Correlhã, Ponte de Lima e, no fundo, o nosso país”, disse Fátima Oliveira, presidente da Junta de Freguesia da Correlhã, a O MINHO.
Rodrigues Alves nasceu em 1848, ainda durante o período imperial do Brasil sob o reinado de D. Pedro II, que dava nome ao colégio do Rio de Janeiro para onde o jovem “Chico de Paula” foi estudar aos 11 anos.
Formou-se advogado na Faculdade de Direito de São Paulo e ingressou na política em 1872, eleito deputado provincial, atuando também como empresário nos anos seguintes, até tornar-se deputado geral em 1878 e dar o salto para presidente da província de São Paulo em 1888, ano da abolição da escravidão no Brasil, um ano antes da Proclamação da República.
Em 1902, com um plano de modernizar o país, vence as eleições presidenciais. No seu mandato, implementou uma reforma urbana no Rio de Janeiro em diversas áreas, e também investiu na educação superior em outras grandes cidades, como Recife, São Paulo e Salvador.
O seu período na presidência também foi marcado pelo combate a diversas doenças, como peste bubónica, febre-amarelo e varíola, com o auxílio do médico e cientista Osvaldo Cruz, que criou a Fiocruz, fundação que funciona até hoje e foi responsável por importantes avanços no combate à covid-19.
Rodrigues Alves também é lembrado por anexar o estado do Acre, que pertencia à Bolívia. O local tem hoje uma cidade com o nome do presidente, com cerca de 18 mil habitantes. O estado de São Paulo também tem um município que homenageia o político, Presidente Alves, com pouco mais de 4 mil pessoas.
“Sabe-se que enquanto governante, foi impulsionador de grandes obras e projetos, ao ponto de “destruir” favelas para erigir grandes avenidas e/ou edifícios e, por isso, também muito contestado na altura. Atualmente, é um estadista de tal forma respeitado que são incontáveis as homenagens à sua memória, serão até muito poucos os políticos que deixaram a sua ação perpetuada com tanta grandeza”, recorda Fátima Oliveira
Terminou o seu mandato em 1906, e dois anos depois esteve em Ponte de Lima para uma visita. Acompanhado do filho e do cônsul brasileiro do Porto, foi recebido com foguetes, conheceu os principais pontos de interesse do concelho, e só não foi à Correlhã porque chovia muito forte. No entanto, conseguiu conhecer alguns parentes.
Em 1912, Rodrigues regressou à política para ser presidente de São Paulo, e quatro anos depois tornou-se senador. Em 1918 buscou novamente a presidência da República e venceu. No entanto, não tomou posse devido a problemas de saúde, que acabaram por tirar a sua vida no ano seguinte.
Além das duas cidades com o seu nome, Rodrigues Alves tem outras homenagens no Brasil. Em Guaratinguetá, onde nasceu, tem praça, escola e estátua, além de um museu histórico e pedagógico.
A Correlhã deu a uma rua o seu nome e, em 2019, lá instalou uma placa de homenagem junto ao largo do Silveiro, local justamente de onde o seu pai saiu para emigrar. Segundo a presidente da Junta, a cerimónia contou com a presença de um número inesperado de pessoas, entre as quais algumas turmas de alunos do 1.ºciclo da EBI/JI da Correlhã acompanhadas dos seus professores, aos quais, na altura, muito se agradeceu pelo facto de se dar a conhecer, a crianças de tenra idade, personalidades que fazem perpetuar a história da freguesia.
“Este singelo, mas nobre momento para a Correlhã, teve sentido na medida em que realçou a ligação da Correlhã a tão importante personalidade, e porque esta homenagem também simboliza a amizade entre Portugal e o Brasil, país que acolheu tantos correlhanenses. Entendi este momento, também como uma homenagem a todos os emigrantes, aqueles que tiveram sucesso, mas também aos que as coisas não correram tão bem e até nunca regressaram à sua terra natal”, disse.
E, segundo lembra Fátima, todas as pessoas que ficaram interessadas em conhecer mais da sua vida e obra, tiveram a oportunidade de visitar a exposição evocativa dos 100 anos do falecimento do político, intitulada “Presidente Francisco de Paula Rodrigues Alves: Legado e memórias de um filho de limianos no Brasil”, a qual esteve patente de 16 de janeiro a 30 de abril de 2019, na Biblioteca Municipal de Ponte de Lima e, muito recentemente, reproduzida na Correlhã, no salão nobre da junta de freguesia, desde 03 de julho a 31 de agosto de 2022.
Para as presidenciais brasileiras deste ano concorrem 11 candidatos: Jair Bolsonaro, Luiz Inácio Lula da Silva, Ciro Gomes, Simone Tebet, Luís Felipe D’Ávila, Soraya Tronicke, Eymael, Padre Kelmon, Leonardo Pericles, Sofia Manzano e Vera Lúcia.
Além do cargo de Presidente e vice-presidente, estão em jogo os governos dos 27 estados do país, a renovação completa da Câmara dos Deputados, a renovação parcial do Senado e das assembleias legislativas estaduais.