Na cidade dos arcebispos centenas de pessoas manifestaram-se pelo direito à diferença sexual. Queixam-se de cargas de preconceito e de descriminação, apesar dos caminhos legais percorridos e das políticas progressistas adotadas nos últimos anos, a fim de integrar a comunidade LGBTQIAP.
Celebram o orgulho próprio. A afirmação da sua opção afetiva e libidinosa. “Liberdade é ter condições para sair do armário”, era o lema da manifestação, que moveu gente, essencialmente jovem, desde o Parque da Ponte S. João até à Praça da República.
Alexandra, 34 anos, alinha-se na frente do protesto. “Mais importante do que celebrar o orgulho LGBT é assinalá-lo. É muito importante dar visibilidade positiva a estas pessoas, mostrar que são dignas”, comenta uma das ativistas na manifestação a O MINHO.
Depois de assumir a sua sexualidade, Alexandra sentiu-se várias vezes alvo de preconceito. “É preciso educar a população para a diversidade. Já me senti constrangida na rua, em locais de trabalho e até com a minha família, pela minha orientação sexual”, expõe a ativista que se manifesta pelo direito “à diferença e à indiferença”.
“Ainda há muito para fazer. A comunidade LGBT continua pouco representada em vários setores da sociedade, como nas autarquias ou nos meios de comunicação social”, protesta Alexandra sobre a falta de representatividade da bandeira arco-íris.
A PSP além de escoltar a marcha LGBTQIAP também cortou o trânsito. Na rua as pessoas contemplavam a manifestação e teciam comentários acompanhados de olhares, ora condescendentes, ora reprobatórios.
Depois de discursar na Praça da República, Tomaz Barão, 26 anos, falou a O MINHO sobre a importância de manifestar o orgulho LGBTQIAP, mesmo durante a saga da covid-19.
“Nós não escolhemos o LGBT e uma grande parte desta população ainda não está em comunidade, porque tem medo de assumir a sua orientação sexual no seu local de trabalho ou na sua família”, conta o ativista, sobre a opressão autoimposta.
Continua a ser delicado, mesmo para gerações mais novas, assumir a cor do arco-íris. “A família do meu namorado pensa que somos só amigos. Ele ainda não lhes conseguiu contar, porque tem medo de lhes provocar um desgosto. Por isso é importante celebrar o orgulho LGBT. Por outro lado, a legislação Portuguesa, está praticamente completa na proteção dos diretos da comunidade”, pessoaliza Barão, que “saiu do armário” há cerca de uma década.
“No Porto e em Lisboa as pessoas ainda encontram alguma anonimidade. Em Braga, ainda marchamos na rua com gestos de reprovação e provocações”, acrescenta o manifestante a título de exemplo.
Sara é mais discreta. “A ascensão da extrema-direita em Portugal é ameaçadora dos direitos da comunidade”, comenta a jovem, de 21 anos, que saiu do armário há 3.
“A comunidade transexual continua a ser muito discriminada e as gerações mais velhas continuam pouco compreensivas. Não se trata apenas de celebrarmos quem somos, trata-se também de reivindicarmos o direito a sair do armário”, acrescenta a ativista.
“A minha família apoiou-me sempre, mas nem toda a gente tem tanta sorte. Aqui na manifestação hão de haver histórias bem diferentes”, afirma Sara particularizando a sua preocupação, nas pessoas transexuais obrigadas a separa-se do seu grupo social, para realizarem a transformação de corpo.
Na manifestação estava presente o PAN, o Mais cidadãos e o núcleo antifascista de Braga. O manifesto da marcha pelos direitos LGBTQIAP, que foi posto a circular durante o protesto, reivindicava, entre outras medidas, “o combate acérrimo à violência física, psicológica e sexual contra pessoas LGBTQIAP por motivos da sua orientação sexual, identidade e expressão de género e características sexuais” e “o acesso livre e efetivo aos cuidados do SNS para as pessoas transsexuais”.