Braga: Sucateiro condenado a 4 anos de prisão por comprar carros a burlões

Três dos ‘vendedores’ vão para a cadeia
Foto: DR / Arquivo

O Tribunal de Matosinhos acaba de condenar 14 dos 26 arguidos, três deles a prisão efetiva, que foram julgados por 120 crimes de burla, furto qualificado, falsificação de documentos, recetação e branqueamento de capitais. Ao todo, teriam lesado 23 pessoas na compra de carros na internet.

O principal arguido, Jorge Pereira Ferreira, conhecido como “O do talho”, de Gualtar, Braga, que também era sucateiro, foi condenado a quatro anos de prisão, mas suspensos por igual tempo, por crimes de recetação.

O coletivo de juízes condenou, no entanto, a prisão efetiva, o arguido José Garcia, a seis anos e oito meses, por burla qualificada e falsificação de documento. Sentenciou, ainda, uma mulher, Sarai Garcia, a dois anos e oito meses, efetivos, mas aos quais será perdoado um ano, devido à amnistia papal. Um outro envolvido, João Araújo ficou condenado a cinco anos e seis meses, mas beneficiou do mesmo perdão.

O Tribunal não conseguiu provar a maioria dos crimes de burla qualificada e de falsificação, o que fez com 11 outros arguidos ficassem com a pena suspensa – por recetação – e 12 tenham sido totalmente ilibados.

Conto do vigário

O conto do vigário – diz a acusação – tinha origem na publicitação na internet de anúncios de venda de carros. Sites que nada tinham a ver com as burlas. As vítimas foram pessoas de Braga, Barcelos, Famalicão, Póvoa de Varzim, Porto e Vila Nova de Gaia.

O processo decorreu em Matosinhos, dado que o primeiro crime foi ali praticado, mas a maioria dos ilícitos ocorreu em Braga, pelo que o julgamento realizou-se ali.

O esquema passava pelo “pagamento” com depósito de cheques inválidos, de terceiros, que nunca obtinham cobrança, ou através de transferência bancária. E o vendedor ficava sem viatura e sem dinheiro.

O MP concluiu que, um grupo selecionava os carros de gama alta, e ligava para os proprietários. Depois de combinarem um encontro “para ver o carro e fazer negócio”, apresentavam-se às vítimas como se fossem parentes dos que haviam telefonado antes.

Usavam telemóveis com cartões pré-pagos, dispondo-se, em alguns casos, a pagar as despesas de deslocação do vendedor. E pediam o NIB, Número de Identificação Bancária. Quando este aparecia, o comprador desculpava-se dizendo que era filho ou sócio da pessoa que compraria o veículo.

Os veículos seriam, depois, desmantelados, para comercialização de peças, para Portugal ou para o estrangeiro, ou para aplicar em veículos salvados. Falsificando dados do motor, do chassis e das matrículas.

A maioria dos arguidos é de Braga, embora alguns sejam da Póvoa de Varzim, Vila Nova de Gaia, Guimarães, Gondomar e Almeirim.

O MP pedia a perda a favor do Estado de um total de 2,045 milhões de euros, mas como os crimes apenas se provaram parcialmente, vai receber apenas alguns milhares.

Ficou com 26 carros

A acusação, agora parcialmente provada e que se baseou numa investigação da PSP de Braga, considerava que o ‘do Talho’ ficou com 26 veículos comprados ao gangue. A maioria destes terá sido desmantelada, para comercialização de peças, para Portugal ou para o estrangeiro, ou para aplicar em veículos salvados. Falsificando dados do motor, do chassis e das matrículas.

Fazia-o numa garagem em Dume, numa oficina em Gualtar, e também num pavilhão em Soutelo, Vila Verde.

PSP/Braga recuperou carro de um polícia de Lisboa

Em 2015, a Polícia deteve 27 suspeitos, numa operação em cinco distritos ( em Braga, Guimarães, Porto, Gaia, Vila do Conde, Póvoa de Varzim, Santarém e Rio Maior), e recuperou 18 carros, 15 deles num armazém, em Soutelo, Vila Verde.. Foi, ainda possível reaver 20 motores de automóveis e outras tantas caixas de velocidade e várias dezenas de outras peças.


A estes números acresce que a Polícia abortou, no ato, diversas outras tentativas de burla, evitando a entrega dos carros ao comprador. Num dos casos, o burlado era um agente da PSP de Lisboa que veio à Póvoa de Varzim entregar o veículo a um falso comprador de Braga, tendo  o Núcleo de Investigação Criminal da cidade, liderado por José Barbosa, impedido a vigarice e restituído o carro ao colega.


A PSP prossegue, por isso, as investigações dado que há vários outros inquéritos sobre burlas semelhantes, ainda não concluídos.


Entre os 27 detidos, a maioria do distrito de Braga, estava um que tinha 18 meses de prisão para cumprir e um outro que, além da burla, está indiciado por roubo, posto que usou de violência para fugir com um carro.


Ao todo, a rede terá conseguido obter 50 viaturas, a maioria de topo de gama, no valor 1,5 milhões de euros. A PSP recuperou 18, que valiam 500 mil. E apreendeu 45 mil euros e duas armas. Trinta carros desapareceram sem deixar rasto, tendo sido desmantelados ou comercializados em Portugal e no estrangeiro. E há, ainda, três outros implicados em Belo Horizonte, Brasil, que cumprem penas de prisão no estado de Minas Gerais.
Um dos lesados foi um contribuinte que ganhou um Audi no sorteio chamado de «Fatura da Sorte» que a Autoridade Tributária realizou para incentivar os portugueses a exigirem recibo. O veículo foi colocado à venda na net mas o comprador nunca o pagou.

A Polícia abortou, ainda, em flagrante, diversas outras tentativas de burla, evitando a entrega dos carros ao comprador.


A rede recorria a um casal com aparência normal, que contactava o vendedor – nos sites OLX e Stand Virtual – e aparecia, depois, para consumar a compra. A vigarice era consumada com um depósito bancário no multibanco, a uma sexta-feira, de um cheque sem cobertura ou furtado, na conta do vendedor. Este – sublinhou o oficial – consultava a conta bancária e verificava que o cheque constava como saldo positivo. Na segunda-feira seguinte concluía que o cheque não tinha ‘teto’ e que a identificação do comprador era falsa. Mas já tinha deixado levar o carro.


Os arguidos têm entre 23 e 60 anos de idade, e boa parte deles tem parentesco entre si. Possuem competências mínimas na área informática e alguns têm antecedentes criminais. A operação decorreu em Braga, Guimarães, Porto, Gaia, Vila do Conde, Póvoa de Varzim, Santarém e Rio Maior.

Este foi o segundo processo

Recorde-se que, em 2017 o Tribunal de Braga havia julgado – e condenado vários – um total de 40 arguidos, uma rede que teria vendido – pelos mesmos métodos – 70 viaturas de forma fraudulenta no valor de dois milhões de euros.

 
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