Braga: Recolha de 127 mil toneladas de lixos custa 7,1 milhões por ano à AGERE

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Foto: Agere / Arquivo

O nosso jornal entrevistou o administrador da AGERE, Rui Morais, sobre uma das vertentes do seu serviço público, o da recolha de lixos (127 mil toneladas), tendo ficado a saber que custa 7,1 milhões de euros por ano. Através deste questionário, o leitor fica a saber tudo, ou quase, sobre a recolha de lixos.

Como se faz a recolha de lixos no concelho? É diária em todo o lado? O sistema implementado há alguns anos tem funcionado bem? Os munícipes responderam positivamente? Quantos funcionários e veículos são usados?

A AGERE tem três tipologias de recolha assentes na definição de três zonas de ação distintas:
A zona central, ou primeiro anel, é constituída essencialmente pelo Centro Histórico da cidade, caraterizado pela predominância do comércio tradicional e restauração, com baixa densidade populacional e vias exíguas e de tráfego condicionado.
A tipologia desta zona do concelho, com obstáculos à circulação de viaturas pesadas, quer pela exiguidade das vias, quer pela convivência com trânsito pedonal, quer pelos danos que poderão ser causados à rede viária e ao património histórico e arqueológico, desaconselhou o recurso a equipamentos de deposição enterrados e o impacto visual numa zona fortemente turística também não aconsela o recurso a contentores de superfície.
Tratando-se também de uma zona com forte implantação de hotelaria e restauração, diariamente é gerada uma grande quantidade de resíduos orgânicos valorizáveis que eram incorporados nos resíduos indiferenciados, não sendo alvo de valorização. Destaque-se que esta zona já era alvo de recolha porta a porta das frações valorizáveis de cartão e plástico pela Braval.
Assim, a recolha desta área manter-se-á com uma tipologia muito semelhante ao sistema porta-a-porta, de frequência diária, com viatura de sete m3, assentando, no entanto, esta reformulação em mudanças de paradigma em relação ao procedimento atual.

Viaturas de recolha

Camião de recolha. Foto. DR

“De modo a permitir a valorização da significativa fração orgânica que era incorporada nos resíduos indiferenciados, foi adquirida uma viatura de recolha bifluxo, com duas cubas estanques independentes, de modo a permitir a recolha pela mesma operação da fração indiferenciada e da fração orgânica em compartimentos separados.
Conhecendo os problemas normalmente associados à deposição de resíduos orgânicos na via pública e de modo a motivar os potenciais grandes produtores de fração orgânica, foram distribuídos pelos estabelecimentos de hotelaria e restauração contentores de 80, 120 ou 240 litros destinados à fração orgânica (de cor castanha) e à restante fração indiferenciada (de cor preta). Pretendeu-se deste modo facilitar o manuseamento e transporte deste tipo de resíduo, ao mesmo tempo que se minimizam os lixiviados na via pública.
De modo a minimizar os impactos ambientais, foi introduzida ao serviço uma viatura ligeira 100% elétrica de recolha de resíduos, para utilização nas áreas mais sensíveis”.

Um segundo anel

Rui Morais, administrador da AGERE. Foto: DR

Segue-se um segundo anel, que integra a zona envolvente ao casco histórico, fortemente urbanizada, de grande densidade populacional, com abundância de construção em altura e menor atividade comercial.
Correspondendo a cerca de 11% da superfície do concelho, nesta estão concentrados cerca de 114 000 habitantes, ou seja, cerca de 59% do total da população do município. É uma área de forte densidade de urbanização, caraterizando-se em muitos locais por grandes acumulações de sacos de resíduos depositados, provenientes de múltiplas frações dos prédios em propriedade horizontal, com prejuízo para o seu acondicionamento.
Dada a grande densidade habitacional, foram instalados equipamentos de deposição de grande capacidade, sendo parte deles de superfície (3000 e 3750 litros) e parte deles subterrâneos (5000 litros). A opção recaiu maioritariamente sobre contentores de superfície, com o recurso a equipamentos enterrados a ser direcionado para zonas em que os equipamentos de superfície originariam um impacto ou obstáculo visual indesejado e simultaneamente existissem locais viáveis sem interferência de infraestruturas enterradas.
Os equipamentos de deposição instalados são incompatíveis com as viaturas de recolha da nossa frota convencional, pelo que houve necessidade aquisição de viaturas compatíveis. De modo a garantir maior versatilidade e articulação com as necessidades de lavagem dos equipamentos de deposição, a opção recaiu na aquisição de chassis com sistema Ampliroll e superestruturas do mesmo sistema, permitindo assim a intermutação entre superestruturas de recolha e superestruturas de lavagem de contentores, evitando-se a duplicação de chassis e maximizando-se a rentabilização dos mesmos.

Rui Morais, administrador da AGERE. Foto: DR

Acresce que, e para otimizar os recursos instalados e minimizar a utilização de recursos energéticos e emissão de gases de efeito de estufa, a recolha deste segundo anel tem uma frequência preferencialmente em dias alternados, sendo a rede de equipamentos dimensionada nesse sentido. Excecionalmente, em casos em que as infraestruturas e o edificado não permitam a instalação dos equipamentos na quantidade necessária, existe um número inferior de equipamentos e efetuamos recolha com frequência diária.
Dado este sistema de recolha oferecer menos constrangimentos ao trânsito automóvel, em zonas habitacionais, com reduzida atividade comercial, a recolha e lavagem dos equipamentos é maioritariamente processada em período diurno, reduzindo a emissão de ruído da operação em período noturno e rentabilizando de maneira mais eficiente as novas viaturas, que não serão compatíveis com os restantes circuitos de recolha, que continuam a utilizar a frota de viaturas convencionais já existente.
O estabelecimento de localizações para os pontos de deposição permitiu-nos articular o posicionamento dos mesmos com os equipamentos de deposição destinados à recolha seletiva da fração valorizável, dentro das limitações impostas pela obediência aos critérios de distância de acessibilidade física do serviço e a os critérios de mobilidade no acesso e utilização do equipamento, o que potencia um aumento da fração encaminhada para os equipamentos de deposição seletiva”.

Contentor subterrâneo. Foto: DR

Periferia ou terceiro anel

“Por fim, a periferia do concelho, ou terceiro anel, de menor densidade populacional, maioritariamente composto por moradias unifamiliares e zonas ainda bastante ruralizadas. Aqui, o critério a obedecer no dimensionamento da rede foi o da acessibilidade dos munícipes e não as necessidades de deposição em termos de quantidade, pelo que a opção mais equilibrada nestes casos seriam os contentores de superfície com rodas de 1100 litros, não se prevendo qualquer necessidade de manter o sistema de recolha porta a porta em qualquer situação.
Para isso estimamos a necessidade de aquisição de 3400 contentores de 1100 litros, para complementar os atuais 570 contentores de 800 litros que já estão instalados. Sendo que este terceiro anel, apesar de abranger a esmagadora maioria da superfície do concelho, apenas engloba uma população residente de aproximadamente 70 000 habitantes. Assim verificamos que existe um rácio de cerca de 60 litros de capacidade instalada de deposição por habitante, contra apenas 24 litros no segundo anel. Isto explica-se por diversos motivos:
Em grande parte do território do terceiro anel o critério de colocação dos equipamentos é o da acessibilidade do serviço e não as necessidades em termos de capacidade instalada, estando por isso muitas vezes em situação de sobredimensionamento nesse critério.
O perfil do produtor de resíduos é diferente, principalmente nas zonas mais rurais, onde o próprio munícipe aproveita ou reencaminha a fração orgânica, mas tem menor acessibilidade à rede de deposição seletiva, resultando num resíduo mais volumoso e de menor densidade específica.
Partes deste território apresentam grandes picos de produção no verão, coincidente com os períodos de férias de população não residente permanentemente, fruto da emigração.
Dado o aumento considerável do número de contentores e a necessidade de cumprimento das metas de lavagem dos mesmos, foi necessário adquirir duas viaturas dedicada exclusivamente à lavagem de contentores.
Neste terceiro anel foi integrada parte da recolha que era processada com frequência diária, em período noturno, que passou a ser executada em período diurno, em dias alternados, dados os menores constrangimentos ao trânsito da recolha de contentores em contraponto com a recolha porta a porta.
Nos três anéis, há 5288 contentores de vários tipos.

Que quantidade de resíduos é levada e qual o destino?

A generalidade dos resíduos recolhidos é encaminhada para o operador em alta concessionado para a nossa área geográfica, a Braval, com exceção dos resíduos de metal, que são encaminhados para operador no setor da valorização de metais.
Em 2022 recolhemos e encaminhamos para a Braval 71. 289,22 toneladas de resíduos urbanos indiferenciados, 1 130,18 toneladas de resíduos volumosos (mobiliário, colchões e similares), 15,36 toneladas de equipamentos elétricos e eletrónicos e 16,66 toneladas de equipamentos eletrónicos contendo clorofluorcarbonetos (frigoríficos, arcas congeladoras e ar condicionado).
Complementarmente foram encaminhadas 24,57 toneladas de metais para operador específico.

Na recolha é usado algum método inovador?

No processo de reconfiguração das metodologias de recolha no concelho de Braga introduziram-se dois conceitos diferenciados das práticas habituais.

No que refere à recolha de resíduos no Centro Histórico, introduziu-se uma viatura bifluxo, ou seja, uma viatura com duas cubas de receção de resíduos independentes, permitindo no mesmo percurso recolher em simultâneo os resíduos indiferenciados e os resíduos biodegradáveis provenientes da atividade de restauração, depositados nos contentores distribuídos para o efeito junto dos estabelecimentos.
Na recolha de resíduos na zona envolvente ao Centro Histórico introduzimos em Portugal a tecnologia de recolha bilateral monoperador, em que o processo de recolha dos resíduos contidos nos contentores é executado exclusivamente com recurso ao motorista da viatura, que comanda também o equipamento de acoplamento, elevação e movimentação dos contentores, eliminando assim o contato direto dos operadores com os resíduos. O sistema tem a particularidade, em comparação com outros sistemas monoperador, de permitir a recolha de contentores em ambos os lados da via e não apenas do lado direito, além de ser possível recolher contentores que estejam afastados até 2 metros do limite da faixa de rodagem, não obrigando a que os contentores tenham que estar contíguos à mesma.
Mais recentemente, no final de 2022, introduziu-se uma viatura ligeira 100% elétrica, que permite efetuar a recolha de resíduos nas zonas mais sensíveis do Centro Histórico com zero emissões, quer de ruído, quer de gases de combustão.

Camião rotativo. Foto: DR

Há, por certo, munícipes, alvo de coimas por não colocarem o lixo no recipiente? Quantos por ano?

As nossas ações de fiscalização incidem especialmente sobre três tipos de infração: resíduos fora dos contentores destinados à fração indiferenciada, resíduos fora dos contentores destinados à valorização e lixo colocado fora dos horários estabelecidos, sendo que este último caso é apenas aplicável na área abrangida pela recolha saco a saco, sendo a única sujeita a horários de deposição. Em 2022 foram instaurados um total de 738 processos de contraordenação.

Que ações de sensibilização dos munícipes são feitas anualmente?

Na AGERE acreditamos que a consciencialização ambiental deve começar desde cedo e, por isso, criamos três mascotes com missões distintas entre si – a “Cristalina”, o “Escovinhas” e o “Pintas” – que representam, respetivamente, a água, a recolha e a limpeza urbana e a adoção responsável de animais de companhia. Juntos, dão corpo ao AgereKids, um espaço destinado ao público infantojuvenil, onde todas as crianças podem participar em diversos jogos didáticos e tornar-se embaixadores da Natureza. Trata-se, por isso, de uma forma divertida de aprenderem como podem proteger o Ambiente.
Todavia, na AGERE fazemos muito mais para ajudar esta geração a contribuir para um Futuro mais sustentável, desde as visitas ás escolas do concelho com o Tour das mascotes e o lançamento de flyers direcionados a cada temática trabalhada pela AGERE – nomeadamente nos resíduos – a “Viagem do Lixo” liderada pelo nosso Super Herói Escovinhas, que nos explica como são geridos os resíduos em Braga e onde devem ser corretamente depositados.

Cidade mais limpa

Numa outra perspetiva, para o público geral, a AGERE já implementou várias iniciativas para incutir a necessidade de todos juntos, contribuirmos para um Futuro mais sustentável, quer seja através da distribuição de folhetos alusivos a cada temática, quer a partilha de informação nas redes sociais, site, stands promocionais em feiras e congressos, grandes eventos da Cidade, etc. A sensibilização para a alteração do sistema de recolha na cidade sob o mote “ Uma recolha Inteligente , uma cidade mais limpa “, a campanha “No chão , não!” onde se sensibilizam os diferentes públicos para o cumprimento da colocação dos resíduos dentro dos contentores “, a campanha de sensibilização das beatas , através da colocação por toda a cidade de papeleiras com cinzeiro acoplado, a campanha anual lançada aquando da Festa do Bananeiro, uma tradição de Braga que acontece no dia 24 de dezembro, a incutir aos munícipes a necessidade de colocarem os resíduos no sítio certo e não deixarem no chão são algumas das iniciativas que a AGERE implementou nos últimos anos.

Limpeza no S. João. Foto: AGERE

A par disso, além das iniciativas que a AGERE tem realizado e vai continuar a realizar ao longo do ano, existe um tema que, certamente, será muito citado e que envolverá campanhas de sensibilização especificas de grande envergadura – os Bioresíduos. Esperamos, uma vez mais, a contribuição de todos os bracarenses na correta separação deste tipo de resíduos e que cooperem connosco nesta jornada rumo a um Futuro mais Verde.

Plataforma GarbAgere

O que acrescentaria para melhor esclarecimento dos bracarenses?

Rui Morais: Conforme já se referiu no que respeita ao Ambiente Urbano, a plataforma GarbAgere permitiu implementar uma série de ferramentas de controlo de atividade de que se destacam, em termos de gestão de resíduos, o controlo de rotas, registo de recolha de contentores e respetiva lavagem, através de registo automático por leitura de identificador de radio frequência em cada equipamento.
A plataforma também introduziu uma ferramenta de otimização de rotas, permitindo minimizar as distâncias percorridas para execução total das tarefas programadas, quer sejam a recolha de resíduos indiferenciados, quer seja a recolha de monstros (mobiliário, colchões, eletrodomésticos, etc.) agendados ou reportados pela nossa rede com acesso à plataforma.
Tal como os assistentes operacionais de varredura, cada viatura/equipa de recolha de resíduos também tem a possibilidade de reportar anomalias cuja resolução dependa da intervenção de equipas diferenciadas.
Prevemos também a curto prazo arrancar com um projeto piloto do sistema de deposição de biorresíduos domésticos, em duas zonas de estudo, uma representando edificado urbano de grande densidade consolidado e outra representando edificado urbano de média densidade e construção recente. O sistema baseia-se na distribuição de sacos e pequenos contentores destinados exclusivamente aos biorresíduos domésticos, que deverão ser colocados nos contentores já existentes para os resíduos indiferenciados, sendo os resíduos separados na triagem no operador em alta (Braval) através da identificação dos sacos diferenciados.
O projeto piloto permitir-nos-á aferir o nível de adesão, o correto dimensionamento da capacidade dos sacos e a qualidade do biorresíduo recolhido, de modo a estender o sistema à generalidade do concelho até final do ano corrente.

Notícia atualizada às 12h42 (03/03) com correção das toneladas de lixo recolhidas.

 
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