O presidente dos Bombeiros Voluntários de Braga, capitão António Miguel Ferreira, chamou a atenção que “as nossas corporações em Portugal estão a ser pagas com preços de tabelas de há dez anos, do ano de 2021, situação que se tem vindo a agravar pelo brutal aumento do preço dos combustíveis, o que agudiza enquanto da parte do Governo não recebemos mais nem um cêntimo, nem sequer uma palavra”, afirmando “viver-se um tempo em que as exigências são muitas e o dinheiro é pouco, por isso as dificuldades porque passamos”.
Num longo discurso, de sete páginas, o capitão António Miguel Ferreira passou em revista as preocupações que afetam não só a Associação Beneficente e Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Braga, como as suas congéneres, não só no distrito de Braga, como em todo o país, dando o exemplo do que se passa com o INEM, “tentando que os bombeiros assumam cada vez maior cota de responsabilidade nos serviços de emergência, que não é por acaso, pois fez as contas e percebeu que assim gasta muito menos daquilo que gastaria se fosse o próprio INEM a assumir o seu serviço”, pelo que “impõe-se agora mudar de paradigma”.
“O Estado precisa dos bombeiros para apagar incêndios, acorrer a qualquer catástrofe e no transporte diário de milhares de doentes, exigindo muito, quer pagar pouco, continuando a pagar-nos pelas tabelas de 2012, de há dez anos, bastante lembrar-nos qual era o salário mínimo nessa ocasião para percebermos a situação”.
“Se não houver uma alteração de paradigma, será mais difícil encontrar dirigentes que nestas condições aceitem dirigir associações de voluntários, que jovens a quererem ser bombeiros”, uma vez que “entregam grande parte do seu tempo, do seu saber, da sua competência, às vezes até mesmo do seu próprio dinheiro, para exercerem essas funções nas associações humanitárias”, salientou o capitão António Miguel Ferreira.
O oficial falava em Braga, durante a cerimónia de posse para o seu terceiro e último mandato, mostrando o seu agrado por tudo aquilo que foi conquistado ao longo destes últimos seis anos, quanto aos três objetivos que nortearam a sua entrada à frente dos destinos da corporação, o saneamento financeiro que se conseguiu não só mas também com o pagamento das dívidas anteriores, o reforço operacional e ainda a hierarquização do corpo ativo de bombeiros, incluindo a melhoria na formação de base e contínua e o apetrechamento com os melhores equipamentos de proteção individual, estando neste momento em fase inicial de construção o velho anseio em que muitos já não acreditavam, o novo quartel, erigido de raiz, em localização estratégica, em São Paio de Arcos, confinando com Lomar, Esporões e Nogueira, que deverá estar pronto já dentro de pouco mais de um ano numa zona do concelho de Braga dotada de imensas habitações, comércio e indústria.
O que se fez e o que está a ser feito
Na sua intervenção, após a tomada de posse, o presidente de uma das instituições bracarenses mais antigas, saudou o equipa de comando, na pessoa do seu comandante, Pedro Ribeiro, afirmando “desempenhar uma das funções mais exigentes desta associação, pois todo o esforço de uma direção pode ficar perigosamente condicionado se não tiver a devida correspondência num corpo ativo disciplinado e coeso, bem preparado e bem instruído”, preconizando “melhores equipamentos e melhores viaturas, para além de formação ainda mais adequada ao cumprimento da nossa missão, para serem mais capazes e mais competentes, tendo sido entregues este domingo os últimos 30 capacetes que completaram já o equipamento de proteção individual.
Depois deste e quanto ao segundo dos três grandes desideratos dos Bombeiros Voluntários de Braga, “está conseguido o saneamento financeiro, tendo a nossa associação recuperado o prestígio que lhe é devido e já hoje é elogiada e respeitada pelas entidades que nos tutelam, sendo uma instituição de contas certas, com todos aqueles que trabalhamos, sejam outras instituições, fornecedores ou prestadores de serviços”, referiu.
“Vivemos portanto uma situação de equilíbrio, mas não conseguimos ainda gerar os fundos que permitam fazer face a algum contratempo maior e muito menos ter a possibilidade de ir renovando a frota de viaturas de combate a incêndios, porque estas são caríssimas, isto sem falar de um sonho que temos de adquirir uma autoescada ou um autotanque”, como acrescentou perante os convidados.
“Falta-nos então o último objetivo a que nos propusemos, que é a construção do nosso novo quartel, sendo este naturalmente mais difícil de conseguir, mas tudo se resolveu com muita persistência, depois de todo o processo de licenciamento complexo e muito desgastante”, disse ainda o capitão António Miguel Ferreira, destacando que “além de muito trabalho nosso, também foi possível ultrapassar as dificuldades através das pessoas nossas amigas”, nomeando, entre outras, o presidente Ricardo Rio e os vereadores Altino Bessa e João Rodrigues, bem como António Zamith, o arquiteto Octávio Oliveira e o coordenador Vítor Azevedo.
Agradecimentos à Câmara e não só
O capitão António Miguel Ferreira agradeceu à Câmara de Braga, na pessoa do seu presidente, Ricardo Rio, o apoio crescente que a autarquia tem prestado, a todos os níveis, à corporação bracarense de bombeiros voluntários, que tem 80 operacionais e brevemente deverá chegar a uma centena, este domingo já com mais duas estruturas, ambas novinhas em folha, uma ambulância e uma motobomba agora ao serviço da instituição, que se bate ainda pelo aumento do número de associados, para reforçar receitas permanentes.
A comemorar 145 anos de existência, uma das mais antigas e perenes do concelho de Braga, a Associação Beneficente e Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Braga, dedicando-se, sem interrupção, “à missão primordial de pessoas e bens, designadamente no socorro a feridos, doentes ou náufragos e à extinção de incêndios, mantendo em atividade um corpo de bombeiros voluntários cuja divisa é Vida por Vida”, referiu o dirigente associativo, acrescentando a propósito “não ser de facto uma tarefa nada fácil, que é muito cara”.
Para além dos autarcas locais, na pessoa de Luís Pedroso, presidente da União de Freguesias de Maximinos, Sé e Cividade, o presidente dos Bombeiros Voluntários de Braga agradeceu, entre outras instituições, aos representantes de entidades da tutela, como a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento da Região Norte (CCDRN) e a Direção Regional de Agricultura e Pescas do Norte, nomeando os responsáveis pelos aspetos técnicos do novo quartel, do arquiteto Carvalho Araújo e da sua equipa, aos engenheiros Nuno Gonçalves e Nuno Brandão (da empresa Blook) e até ao construtor João Marques (este da empresa “Criat”).
Entretanto, a medalha de assiduidade de grau cobre (cinco anos) distinguiu Carina das Dores Lopes Duarte, Linda Paula Alves de Matos, Francisco Gomes Teixeira, Olga Marisa Fernandes Vieira, Francisca Teixeira Pinto de Faria e Duarte Pedro Bessa, tendo sido impostas ainda as divisas aos bombeiros de segunda classe Eduardo Manuel Araújo Monteiro, Paulo André Rosado Freitas, Andreia da Piedade da Silva Mesquita e Linda Paula Alves de Matos, através dos seus familiares, ou de outros convidados, para esse mesmo efeito.