Os pais dos alunos do Colégio D. Diogo de Sousa, de Braga, acabam de lançar uma petição pública a pedir uma reunião, antes de 05 de janeiro – data de saída dos dois gestores do estabelecimento – ao arcebispo José Cordeiro, “para analisar a reorganização” em curso, que lhes causou “grande surpresa”.
A Arquidiocese de Braga da Igreja Católica desmentiu, esta noite, em comunicado, ter demitido o diretor, padre Cândido Sá, e o administrador, António Araújo, que gerem o colégio D. Diogo de Sousa, mas adiantou que está a implementar um processo de reorganização das suas instituições, entre as quais o estabelecimento de ensino.
Mas os pais estão preocupados temendo uma mudança de orientação pedagógica, falando alguns, em fóruns nas redes sociais, que pode ir no sentido da cultura ‘woke’, uma ideologia criada inicialmente para lutar contra a discriminação e o racismo, mas que, hoje em dia, é vista como de luta contra os valores tradicionais das sociedades ocidentais.
Na petição dizem que concordam com os métodos pedagógicos em vigor e manifestam-se “preocupados com o futuro dos filhos”.
Os pais – sublinhe-se – temem que a reorganização vá contra o modelo tido como elitista em vigor no Colégio, que privilegia os bons alunos – com turmas de primeira, segunda e terceira divisão, para usar a linguagem futebolística -, e recusa de reinscrição de maus alunos.
O Colégio também não aceita alunos portadores de deficiência, o que, para muitos, é tido como “pouco católico”. Mas, o certo é que tem tido sucesso nos ‘rankings’ nacionais de ensino e os jovens que o frequentam acabam tendo alto sucesso na universidade e, depois, na vida profissional.
A Arquidiocese é detentora de 80 por cento dos estabelecimentos privados da zona de Braga, sendo o D. Diogo um dos símbolos da sua qualidade de ensino.
Diretor deixa críticas
Refira-se que, a nota do organismo eclesial surge após o diretor, ter emitido uma outra com críticas ao processo, e na qual diz que, por dele discordar, entendeu demitir-se.
No entanto, fonte ligada ao processo disse a O MINHO que a intenção de mudar a gestão e o modo de organização do Colégio foi-lhes comunicada sexta-feira pelo reitor do Seminário Conciliar de S. Pedro e S. Paulo, que tutela o estabelecimento, o que motivou a sua demissão.
“Com esta mudança pretende-se, através da transparência e corresponsabilidade, promover uma boa gestão dos recursos à disposição do nosso Colégio”, diz a nota do Arcebispado, acrescentando que “foi sempre nossa intenção fazer esta mudança com toda a serenidade. Para sua implementação queremos envolver toda a comunidade: a direção, professores, colaboradores, alunos e pais”.
A Arquidiocese adianta que, “a nova equipa diretiva será anunciada em breve, e que se compromete a manter o padrão de qualidade e dedicação que têm distinguido o Colégio ao longo da sua história”.
O MINHO tentou, mas não conseguiu, contactar os dois gestores do Colégio. No entanto, fonte ligada ao processo disse que a decisão da Arquidiocese tem raízes em discordâncias que vêm do tempo do anterior arcebispo Jorge Ortiga, e que se aprofundaram quando o Colégio foi alvo de um furto de várias dezenas de milhares de euros de dinheiro que estava guardado nos cofres. Jorge Ortiga desabafou, então, dizendo que, “uma tal quantia – cujo montante se desconhece exatamente – não devia ficar nas instalações”. A partir desse facto, nomeou o padre Cândido, com a tarefa de disciplinar este e outros métodos de gestão – a cargo de António Araújo -, embora nunca tenha estado em causa quaisquer desvios de dinheiro.
O Colégio, que usa o número de contribuinte do Seminário Conciliar, e dá um lucro que se calcula ser de quatro milhões por ano, beneficia de algumas – nem todas – as isenções fiscais permitidas pela Concordata existente entre o Estado português e a Santa Sé.
Contactado a propósito, Jorge Ortiga disse que, desde que saiu da Arquidiocese, não se pronuncia sobre nada.
Discordância do modelo
Agora, o padre Cândido explica que, em setembro, em reunião com o Bispo D. Delfim foi dito aos dois responsáveis, que a gestão do Colégio e do Externato de Refojos, em Cabeceiras de Basto, iria adotar um novo modelo de organização. Dias depois, respondendo ao este documento, os dois colégios destacaram “a incongruência grande de se escolher para modelo de organização e de funcionamento de uma escola privada, de uma escola católica, o Decreto Lei 75/2008, que rege a organização e funcionamento da escola pública”.
O dito Regulamento de funcionamento e governo (RFGEESC) – diz, ainda, o sacerdote – “assentava num Conselho Geral e de Supervisão, num Conselho Fiscal e numa Comissão Executiva. O Diretor Pedagógico e o Diretor Administrativo constituiriam a Comissão Executiva, nos moldes e conforme está tipificada para a Escola Pública. Estes dois responsáveis teriam grandes responsabilidades, mas veriam os seus poderes esvaziados, ficando reduzidos ao papel de meros títeres”.
E assinala, na sua resposta, os Colégios apresentavam a “proposta de constituição de um Grupo de Trabalho Preparatório para analisar e estudar esta questão”.
Diz, ainda, que o dito Regulamento de funcionamento e governo (RFGEESC) assentava num Conselho Geral e de Supervisão, num Conselho Fiscal e numa Comissão Executiva. O diretor Pedagógico e o diretor Administrativo constituiriam a Comissão Executiva, nos moldes e conforme está tipificada para a Escola Pública. Estes dois responsáveis teriam grandes responsabilidades, mas veriam os seus poderes esvaziados, ficando reduzidos ao papel de meros títeres. Na sua resposta, os Colégios apresentavam a proposta de constituição de um Grupo de Trabalho Preparatório para analisar e estudar esta questão.
E, mais adiante, salienta: “Ao fim de três meses, fomos convocados para uma reunião marcada para o dia 10 de dezembro de 2024. Nesta reunião, com os representantes do Seminário e da Arquidiocese, foi feita uma crítica contundente à resposta apresentada pelo Colégio Dom Diogo de Sousa e pelo Externato de S. Miguel de Refojos, rejeitando-a in totum”.
“Foi dito que a Arquidiocese pretende uma nova estratégia e um novo modelo de escola.
O Sr. Reitor do Seminário Conciliar, Cónego Vítor Novais, não só anuiu a estas afirmações como também advertiu, em tom grave e assertivo, que a mudança é mesmo para avançar, com início no dia 6 de janeiro de 2025”.
Sugestões não aceites
E, a concluir: “No final da reunião, foi entregue ao diretor uma pasta que continha o Decreto Canónico de Aprovação do Regulamento (RGFEESC), para entrar em vigor em 06 de Janeiro de 2025, uma resposta à análise do Colégio de 20 de Setembro e o Regulamento de Funcionamento e Governo dos Estabelecimentos de Ensino de que o Seminário Conciliar de São Pedro e São Paulo é titular (RGFEESC)r, aprovado pelo Sr. Arcebispo Primaz e autenticado pela Cúria Arquidiocesana”.
Isto posto, – prossegue o padre – “considerando que as críticas construtivas que, em cumprimento do solicitado, na qualidade de Diretor do Colégio Dom Diogo de Sousa, apresentei superiormente não foram discutidas e que nenhuma das sugestões que apresentei foi considerada; – que não me revejo no Regulamento de Funcionamento e Governo dos Estabelecimentos de Ensino, de que o Seminário Conciliar de São Pedro e São Paulo é titular (RFGEESC), com o qual não concordo no essencial; – que a minha permanência na estrutura desse regulamento violaria os meus princípios da coerência e da lealdade intelectual, não posso – nem devo – integrar essa estrutura e modelo de funcionamento do Colégio Dom Diogo de Sousa, pelo que não estou disponível para nela ocupar qualquer cargo.”
E, termina, dizendo: “Até ao dia 05 de janeiro, assegurarei o governo e o funcionamento do Colégio Dom Diogo de Sousa”.