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O vereador do PS na Câmara de Braga critica a construção de um prédio com 12 andares (10 mais dois de garagens) na orla do futuro parque Ecomonumental das Sete Fontes, acusando o executivo PSD/CDS de “estabelecer parcerias seletivas com empresários privados, atribuindo-lhes o direito aos lotes potencialmente mais rentáveis”.
Em resposta, o vereador do Urbanismo, João Rodrigues disse a O MINHO que Hugo Pires “é cómico” e acusa-o de não ter moral para falar, porque, quando era vereador do mesmo pelouro, na gestão de Mesquita Machado “não protegeu, nem quis proteger, as Sete Fontes”.
O PS, a exemplo do que fez na última reunião de Câmara, vai votar, na Assembleia Municipal, contra a proposta de criação de uma Unidade de Execução Urbanística no futuro Parque das Sete Fontes, por esta permitir a construção de um prédio de 12 andares.
“O famigerado prédio de 12 andares, situado num dos lotes apelativos, apresenta um impacto volumétrico apreciável, mas os desenhos e animações multimédia institucionais ficaram-se apenas por aquilo que interessa ao ‘marketing’ da Coligação Juntos por Braga: muito verde e nenhum prédio”, lamenta o vereador Hugo Pires.
Contactado a propósito, o vereador com o pelouro do Urbanismo, João Rodrigues, contra-atacou: “assistimos com perplexidade às declarações de Hugo Pires, entre a hipotética má-fé, ou uma provável ignorância, Hugo Pires manifesta-se sobre um assunto que o devia fazer corar antes de falar”.
E acusa: “Se houve alguém que não protegeu, nem quis proteger, as Sete Fontes, esse alguém foram os eleitos do PS do passado, onde Hugo Pires se inclui, sendo certo que não ocupou um lugar qualquer nesse rol: foi vereador do Urbanismo de Mesquita Machado e isso reveste-o numa dupla obrigação. Em primeiro lugar, a de fazer um ato de contrição cada vez que fala sobre as Sete Fontes; em segundo, caso o problema seja apenas uma questão de ignorância, a de estudar convenientemente os dossiers antes de se pronunciar”.
“Inaceitável”, diz Hugo Pires
A polémica tem origem na votação, ocorrida na última reunião de Câmara, da proposta de criação de uma nova Unidade de Execução (UE) urbanística nos terrenos das Sete Fontes, com 46.549 m2, do futuro equipamento de cariz histórico, ambiental e florestal e de lazer. Onde o PS votou contra, tendo a maioria PSD/CDS e a CDU votado a favor
Quando concluído, as Sete Fontes terão 30 hectares de parque verde público, outros tantos de área florestal privada e 30 outros de área urbana com criação de praças, pequenas edificações de apoio, miradouros, percursos pedestres e cicláveis.
O elemento central é o ancestral sistema de abastecimento de águas à cidade, uma obra hidráulica do século XVIII classificada como Monumento Nacional desde 2011.
A UE permite a construção de um prédio de 10 andares, com mais dois subterrâneos, de garagem, o que Hugo Pires considera “inaceitável”, mas que João Rodrigues explica pela necessidade de “ocultar e mitigar o impacto visual do muro de suporte da Avenida Clermont Ferrand, que faz a ligação ao Hospital de Braga”.
Ricardo Rio “incoerente”
O autarca socialista acusa, também, o presidente da câmara, Ricardo Rio, de incoerência, por ter exigido, quando estava na oposição, que o Plano de Pormenor para a zona, então elaborado, fosse também de salvaguarda, e agora o trocar por um Plano de Urbanização com prédios de 12 andares: “Porém, como em quase tudo, Ricardo Rio e a Coligação perderam-se para a inércia e para a incoerência pois, nove anos depois, está tudo na mesma: no papel, chegando a 2022 sem fazer o que quer que fosse, exceto aumentar substancialmente as despesas municipais com ajustes diretos relativos a tal dossier”.
E, prosseguindo, afirma: “No entretanto, vem agora a Coligação dedicar-se a estabelecer parcerias seletivas com empresários privados, dando prioridade a quem aceita a construção prevista no tal novo plano (que já não é de pormenor) e que, curiosamente, lhes atribui o direito aos lotes potencialmente mais rentáveis.
Pires alude, assim, ainda que indiretamente, e conforme o JN vem noticiando, a uma das dificuldades que se colocam à implementação do equipamento, os dois processos judiciais contra a Câmara, interpostos por dois proprietários, a imobiliária VilaMinho, de Ermelando Sequeira, e a família Sampaio, nos quais exigem ser expropriados pelas leis de mercado, rejeitando as propostas de compra.
Hugo Pires “é cómico”
Ainda respondendo aos reparos do PS, João Rodrigues assegura que “o Plano de Urbanização das Sete Fontes não prevê “prédios de 14 pisos”, ao contrário do que Hugo Pires disse na Câmara”.
E explica: o Plano prevê 24 Unidades de Execução, correspondentes a 92 hectares (ha) de solo. Desses, apenas 15,68 ha serão destinados a espaços habitacionais (correspondentes a 15% do solo) e é na Unidade de Execução n.º 7 que aparece o único prédio desta envergadura (com 10 andares, mais 2 de estacionamento).
João Rodrigues sustenta que “não foi por acaso que Hugo Pires escolheu a reunião para versar sobre as Sete Fontes. “É que este será o único edifício de grande envergadura a executar no Plano, que se justifica por duas razões: porque é preciso ocultar e mitigar o impacto visual do muro de suporte da Avenida Clermont Ferrand, que faz a ligação ao Hospital e que tem quase 40 metros de altura, procurando um remate mais qualificado do Parque; e porque queremos ligar o Parque ao Bairro da Alegria, através de percurso de ligação de livre utilização, assegurado por elevador e viaduto pedonal de utilização pública”, afirma o vereador.
E, diz, ainda: “Os restantes edifícios que irão nascer nas imediações do Parque têm entre 2 e 4 pisos. É quase cómico ver o último vereador do Urbanismo de Mesquita Machado a dizer o que quer que seja relativamente às Sete Fontes e à sua salvaguarda”.
PS apenas atrapalha
O vereador do PSD deixa, por fim, “dois conselhos”. “O primeiro, ao novo presidente do PS Braga, para que ponha ordem na casa, preparando com os eleitos locais os dossiers sobre os quais estes se vão pronunciar e que, claramente, ou não dominam, ou fingem não dominar para terem espaço para estes números, nada proveitosos, quer para o interesse público, quer para o seu próprio partido”.
E continuando: “O segundo, deixo-o ao vereador Hugo Pires. Se, até agora, o PS em nada contribuiu para a salvaguarda das Sete Fontes, pelo menos que não atrapalhe com jogos de inverdades que em nada contribuem para a boa execução do Plano. Hugo Pires tem a obrigação de estudar os dossiers quando sobre eles quer intervir e esta postura de irresponsabilidade perante um assunto tão importante para os bracarenses não abona nada em seu favor.