Neste Artigo
O empresário bracarense Hernâni Vaz Antunes – que o juiz de instrução de Lisboa determinou que ficasse em prisão domiciliária no âmbito da “Operação Picoas” por suspeitas de corrupção e fraude fiscal – já tinha construído fortuna antes de a multinacional francesa Altice ter ficado dona da antiga Portugal Telecom.
Está, de resto, ligado a duas transações de algum volume em Braga: vendas do edifício e anexos da antiga fábrica Confiança e dos terrenos onde está sedeado o centro comercial Arcada Nova, o antigo Dolce Vita, que nunca chegou a abrir com esse nome.
Recentemente, comprou a Quinta de Salgueiró, em Cabanelas, Vila Verde, que era pertença do ex-presidente da Câmara de Braga, o socialista Mesquita Machado. Nenhum dos três negócios beneficiou de qualquer irregularidade.
Hernâni Vaz Antunes, natural da freguesia de Pedralva, em Braga, emigrou, ainda, jovem para o Canadá. Regressado a Portugal investiu no setor das máquinas de entretenimento – vulgo ‘flippers’ – para restauração e hotelaria. Passou, de seguida, para o setor imobiliário e de pequena construção, onde foi fazendo dezenas de negócios.
Recentemente, ficou conhecido por ter exigido uma comissão de cinco por cento, 69 milhões de euros, pela intermediação da venda da PT à brasileira OI.
Tem inúmeras empresas de vários ramos de atividade e, pelo menos, uma grande quinta em Trás-os-Montes onde produz vinho.
Vendeu a Confiança
O empresário vendeu, em 2012, o edifício da antiga saboaria Confiança, em São Vítor, através de expropriação, por 3,5 milhões de euros.
O facto motivou uma queixa do Bloco de Esquerda ao DIAP – Departamento de Investigação e Ação Penal de Braga, com o argumento de que fora comprada por 1,9 milhões pela Urbinews, uma empresa que lhe pertencia, a Taveira da Mota, o seu ex-dono. A queixa foi arquivada no Ministério Público, mas foi reaberta pelo DIAP, que acabou por a arquivar outra vez, por nada ter sido encontrado de ilegal na transação.
Na ocasião, Hernâni Antunes conseguiu demonstrar que os registos de propriedade, que constavam noutro processo – do foro cível – em Tribunal, indicavam que o empresário Taveira da Mota, lhe vendeu, em 2002, o edifício, com 6323 metros quadrados – e um prédio rústico anexo –, por 2,5 milhões.
Para fazer o negócio a Urbinews pediu 2,992 milhões à Caixa Geral de Depósitos, e terá pago centenas de milhares em juros, de 2002 a 2011. Ou seja, o lucro conseguido dez anos depois não foi exorbitante, conforme argumentou.
O edifício da Confiança vai agora ser adaptado a residência universitária, um projeto camarário de 25 milhões, com apoio do Plano de Recuperação e Resiliência. Quando estiver pronto, em 2025, será gerido pela Universidade do Minho.
Terrenos do Nova Arcada
O homem de negócios vendeu também ao grupo espanhol Chamartin – entretanto falido – por uma verba cujo montante exato se desconhece, mas que terá sido superior a cinco milhões de euros, os terrenos, em Palmeira, onde foi construído o centro comercial Dolce Vita, hoje chamado de Nova Arcada.
Em 2006, quando o espaço comercial começou a ser construído, houve alguma polémica política já que a Câmara, então gerida por Mesquita Machado, teve que preterir dois outros projetos semelhantes: um de um grupo de empresários de Braga, que o queriam localizar na antiga pedreira na Confeiteira, e outro da multinacional francesa Bouygues, neste caso o centro comercial “Espaço Braga”, um investimento de 140 milhões de euros que teria 150 lojas e um hipermercado Jumbo.
A Bouygues acabou por fazer um centro comercial mais pequeno, o RetailPark, enquanto que o grupo de empresários teve de arcar com os custos de um empréstimo à banca de 800 mil euros, usado para a aquisição da área da Confeiteira.
Dolce Vita começou mas emperrou
Já o “Dolce Vita” começou a ser construído em 2006 e tinha abertura prevista para 2008. Contudo, a um ano de abrir portas, poucas empresas mostravam interesse em arrendar as lojas porque, ao mesmo tempo, estava a ser construído o Braga Parque.
A abertura foi, então, adiada para 2009, depois para 2010 e até para 2011. Mas a crise dos centros comerciais que se instalou no país, devido ao excesso de oferta, fez com que o projeto fosse deixado de lado, depois de a empresa espanhola ter lá investido 137 milhões de euros.
A Chamartín entrou em insolvência e entregou os ativos que tinha à banca, incluindo este espaço, que acabou nas mãos da Caixa Geral de Depósitos (CGD).
O banco estatal encarregou, depois, a Sonae Sierra de o gerir, sob o nome atual de Nova Arcada, e acabou por vendê-lo a um grupo económico israelita por 45 milhões.
Atualmente, o Nova Arcada diz receber mais de seis milhões de visitantes e tem uma taxa de ocupação superior a 95%.
Comprou a Quinta de Salgueiró para enoturismo
O terceiro negócio foi feito com o ex-presidente da Câmara de Braga, Mesquita Machado e a mulher, que venderam a Hernâni Antunes, a Sociedade Agrícola da Quinta de Salgueiró, Lda que tem a sua sede em Cabanelas no concelho de Vila Verde. Mesquita Machado, que esteve 37 anos à frente do Município de Braga, está reformado e vive na cidade
Desconhece-se o valor da transação, sabendo-se, apenas, que o capital social da sociedade era de 299.278 euros, e que a quinta – que confina com o rio Cávado – exerce a atividade de produção de vinhos comuns e licorosos.
Em 2021, a Câmara de Vila Verde aprovou um PIP (Pedido de Informação Prévia) apresentado pela Sociedade Agrícola para a construção de um projeto de enoturismo, que conjuga a produção de vinho verde, um hotel rural com 60 unidades de alojamento, spa e 24 moradias.
Envolve ainda um espaço para eventos, com capacidade para 500 pessoas. O aldeamento da Quinta terá caraterísticas de condomínio fechado. Ao que o O MINHO soube, o projeto está em execução.
O PIP dizia que haviam sido reconvertidos 16 hectares de vinha – que resultavam no vinho da marca “Quinta de Salgueiró” – no sentido da melhoria da sua qualidade e previa uma nova adega. No final do plano de negócios, para 30 anos, seriam criados 68 empregos.