Bruno Ramos, anterior presidente da APPACDM de Braga, hoje apontado pela nova direção com a possibilidade de ter feito uma “gestão danosa” com “desvio” de fundos, reagiu às suspeitas com incredulidade, apontando as declarações do atual presidente como “caricatas” e “inusitadas”.
“Em todos os órgãos sociais a que presidi na APPACDM de Braga, entre novembro de 2022 e janeiro de 2024, o Bruno Silva (atual presidente) era o presidente do Conselho Fiscal, e continuou a ser até às eleições de fevereiro de 2024 (quando foi eleito presidente da direção), por isso é inusitado que alguém que era responsável por aprovar contas diga que houve gestão danosa”, considerou o anterior presidente.
“Há muita gente que até pode criticar a gestão anterior, mas não o presidente do Conselho Fiscal que assinou todos os documentos dessa mesma direção. Se houve gestão danosa, ele esteve comigo”, concluiu Bruno Ramos.
Recorde-se que a instituição anunciou hoje que está sem dinheiro para pagar os salários de março, porque as suas contas foram penhoradas pela Segurança Social, encerrando, “por tempo indeterminado”, os seus seis centros de atividades e capacitação para inclusão (CACI), três dos quais ficam em Braga e os outros em Famalicão, Esposende e Vila Verde.
Em declarações à agência Lusa, o atual presidente Bruno Silva disse ainda que a anterior direção poderá ter lesado entre 2 a 3 milhões de euros através de “apropriação ilícita de dinheiros públicos”.
Mas Bruno Ramos diz que essa acusação é “caricata”, porque “para ele estava tudo bem”, referindo-se à aprovação dos relatórios e das contas da instituição que, segundo o anterior presidente, eram revistas por um Técnico Oficial de Contas com um parecer independente, a cargo precisamente do Conselho Fiscal presidido pelo novo presidente Bruno Silva.
“Qualquer consulta pública no site (da APPACDM) mostra o relatório e contas de 2022, em que as contas são aprovadas com parecer favorável do Bruno Silva e do Conselho Fiscal, e onde é confirmado que teve acesso a todos os documentos e, portanto, depois de verificar as contas todas, emitiu um parecer favorável, isto a 25 de julho de 2023”, argumenta Bruno Ramos.
Para o anterior presidente, “o caricato disto tudo, é que a 25 de novembro de 2023 fizemos apresentação do orçamento para 2024, e no qual mais uma vez é emitido um parecer favorável de Bruno Silva”.
“Eu pergunto o que é que aconteceu? E agora porque é que vem dizer que foi a anterior gestão? Chegar ao ponto de dizer que desviei 3 milhões quando o orçamento anual é desse valor, pergunto como é que eu iria desviar dinheiro que nem sequer existia”, prosseguiu.
Bruno Ramos considera que “ninguém diz que instituição estava a nadar em dinheiro, porque passivo antigo já vem de há muito tempo e é difícil de gerir, mas o que ficou estabelecido era a negociação de dívidas com a Segurança Social, e eu não sei o que é que a nova direção andou a fazer porque deixaram chegar ao ponto da penhora e agora dá-se esta tragédia”, concluiu.
À agência Lusa, o atual presidente explicou que “ontem [quarta-feira], íamos processar os salários e deparámo-nos com as penhoras, no valor total de 303 mil euros, que nos impedem de aceder às contas”.
O responsável disse que a APPACDM de Braga tem um total de 167 trabalhadores, ascendendo a massa salarial mensal a 220 mil euros.
A instituição, que tem ainda três lares residenciais, dá resposta a 262 utentes.
“Para já, e a muito custo, ainda mantemos os lares abertos, porque em causa estão utentes totalmente dependentes dos nossos serviços”, disse ainda Bruno Silva.
Admitiu, no entanto, que se a questão das contas não for rapidamente desbloqueada, a instituição poderá ter de avançar para o encerramento, porque os fornecedores, designadamente no campo da alimentação, ameaçam “fechar a torneira”.
Para terça-feira, está agendada uma reunião na Centro Distrital de Segurança Social de Braga para se tentar chegar a um acordo que permita o retomar do normal funcionamento da APPACDM.
Segundo Bruno Silva, a direção anterior poderá ter lesado a instituição em “entre dois a três milhões de euros”, através de gestão danosa e de apropriação ilícita de dinheiros públicos.
“É uma enormidade de crimes”, referiu, apontando que o caso já está a ser investigado pelo Ministério Público.
Em declarações a O MINHO, o presidente da anterior direção diz não ter sido contactado pelas autoridades por causa de qualquer queixa.
Com Lusa.