O Tribunal de Braga condenou a quatro anos e oito meses de prisão, suspensos, uma mulher que se fez passar por médica-psiquiatra e psicóloga, dando consultas e burlando cinco pessoas, num dos casos em 36 mil euros entregues para pagar um internamento numa clínica em Madrid, Espanha, que nunca ocorreu.
O coletivo de juízes deu como provado que praticou um crime de burla qualificada e cinco de usurpação de funções.
A arguida ficou, ainda, de pagar 39.500 euros a uma das vítimas, 36 mil a título de danos patrimoniais e 3.500 de danos não patrimoniais.
A arguida terá recebido 44 mil euros, num dos casos de burla, mas, entretanto, havia devolvido oito mil.
Os juízes suspenderam-lhe a execução da pena, com a condição de pagar 15 por cento daquele montante, ou seja, 5.925 euros, até ao fim do período de suspensão. Impuseram-lhe, ainda, a obrigação de receber os técnicos de Reinserção Social e de procurar emprego ativamente.
Em declarações a O MINHO, o seu defensor disse que pondera recorrer, por entender que em vez de ter sido condenado por cinco crimes de usurpação devia tê-lo sido por um crime na forma continuada.
Defende, também, que o cálculo da indemnização não está correto, devendo a arguida pagar menos, dadas as quantias que recebeu e as que devolveu.
Ana P., de 43 anos, de Vila Nova de Foz Côa, distrito da Guarda, mas então residente em Braga, estava acusada dos crimes de burla qualificada e de cinco outros de usurpação de funções.
Dizia que era do Hospital de Santa Maria
A arguida, e conforme o O MINHO noticiou, começou, em 2018, a dizer que trabalhara no Hospital de Santa Maria, em Lisboa e que ia chefiar o Departamento de Psiquiatria do Hospital de Braga.
Acabou por montar um gabinete médico em casa, com artefactos e livros de Medicina, atendendo cinco clientes com uma bata onde se lia: Hospital de Santa Maria.
Um dos lesados, de nome Paulo, garantiu ter-lhe pago 2.800 euros, em notas, já que ela dizia que só quando estivesse a trabalhar no Hospital de Braga é que poderia passar recibos.
Depois, medicou uma mulher, Erica, em consultas semanais, a 60 euros, receitando-lhe vitaminas. A um outro homem, diagnosticou-lhe ‘esquizofrenia’ e receitou-lhe Risperdal, cobrando-lhe 75 euros.
Mais tarde, soube-se que padecia apenas de depressão.Atendeu, ainda, um homem a quem receitou produtos naturais e cobrou 60 euros.
Jovem de 19 anos, o mais burlado
Uma das pessoas com quem a ‘psiquiatra’ mantinha relações próximas transmitiu a informação, de que a conhecia enquanto psiquiatra experimentada, a uma outra mulher, da Póvoa de Lanhoso, que tinha um filho de 19 anos, que sofria de surtos psicóticos, o que era um fardo para o próprio e para a família.
A mãe veio, então, a Braga e encontrou-se com ela numa pastelaria, onde a falsa médica combinou com ela que veria o doente em sua casa. Após a primeira consulta receitou-lhe medicação à base de produtos naturais e aconselhou a mãe a retirar o filho da Psiquiatria do Hospital da cidade onde andava a ser acompanhado.
E garantiu que os surtos iam “acalmar”.
Numa outra ocasião, disse à progenitora que havia em Madrid, Espanha, uma clínica com métodos terapêuticos alternativos, com tratamentos com animais e com natação, que eram a solução para os problemas do jovem. Clínica que não existia.
Só que o internamento custava 38 mil euros, verba que os pais aceitaram e pagaram em duas transferências bancárias feitas para a conta da Ana P..
Ficou, ainda, combinado que a mãe do jovem e uma irmã deste iriam a Madrid visitar a Clínica, e, para tal, compraram os bilhetes de avião.
No entanto, perto do dia aprazado para a viagem, a ‘psiquiatra’ arranjou desculpas para que a não fizessem, como a de que a Clínica espanhola tinha adiado a entrada do jovem no internamento. E este continuou a ser seguido por ela, com pagamentos por consulta que somaram, seis mil euros, até março de 2019.
Foram a Madrid e nada
Em dezembro de 2018, o jovem teve um surto psicótico grave e foi internado de Urgência no Hospital de Braga. Apesar disso, a arguida convenceu os pais a tirarem o filho do Hospital, tendo, para isso, assinado o respetivo termo de responsabilidade.
Em janeiro de 2019, a irmã e o pai do jovem meteram-se no avião para Madrid para ir à tal Clínica. Chegaram à morada indicada e não havia lá nada. Aí, a médica desfez-se em desculpas, dizendo que tinham mudado de sítio.