O Tribunal de Braga vai julgar no final de abril uma mulher de 43 anos que se fez passar por médica-psiquiatra e psicóloga, dando consultas e burlando cinco pessoas, num dos casos em 44 mil euros.
A acusação do Ministério Público acusa-a do crime de burla qualificada e de cinco outros de usurpação de funções.
O magistrado concluiu que Ana P., de 43 anos, natural de Foz Coa, mas residente no Porto, e, recentemente, em Braga, começou, em 2018, a apresentar-se como médica psiquiatra e psicóloga, dizendo que tinha trabalhado no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, e que iria assumir um cargo de chefia no Departamento de Psiquiatria no Hospital público de Braga.
Fazia essa afirmação perante pessoas que ia conhecendo e quando ia ao café, à padaria ou ao supermercado.
Uma das pessoas com quem mantinha relações próximas transmitiu essa informação, a de que a conhecia enquanto psiquiatra experimentada, a uma outra mulher, da Póvoa de Lanhoso, que tinha um filho de 19 anos, que sofria de surtos psicóticos, o que era um fardo para o próprio e para a família.
Os surtos iam acalmar
A mãe veio, então, a Braga e encontrou-se com ela numa pastelaria, onde a falsa médica combinou com ela que veria o doente em sua casa. Após a primeira consulta receitou-lhe medicação à base de produtos naturais e aconselhou a mãe a retirar o filho da Psiquiatria do Hospital da cidade onde andava a ser acompanhado. E garantiu que os surtos iam “acalmar”.
Numa outra ocasião, disse à progenitora que havia em Madrid, Espanha, uma clínica com métodos terapêuticos alternativos, com tratamentos com animais e com natação, que eram a solução para os problemas do jovem. Clínica que não existia. Só que o internamento custava 38 mil euros, verba que os pais aceitaram e pagaram em duas transferências bancárias feitas para a conta da Ana.
Ficou, ainda, combinado que a mãe do jovem e uma irmã deste iriam a Madrid visitar a clínica, e, para tal, compraram os bilhetes de avião. No entanto, perto do dia aprazado para a viagem, a ‘psiquiatra’ arranjou desculpas para que a não fizessem, como a de que a clínica espanhola tinha adiado a entrada do jovem no internamento. E este continuou a ser seguido por ela, com pagamentos por consulta que somaram seis mil euros, até março de 2019.
Em dezembro de 2018, o jovem teve um surto psicótico grave e foi internado de Urgência no Hospital de Braga. Apesar disso, a arguida convenceu os pais a tirarem o filho do hospital, tendo, para isso, assinado o respetivo termo de responsabilidade.
Foram a Madrid para nada
Em janeiro de 2019, a irmã e o pai do jovem meteram-se no avião para Madrid para ir à tal clínica. Chegaram à morada indicada e não havia lá nada. Aí, a médica desfez-se em desculpas, dizendo que tinham mudado de sítio e que nem lhe atendiam o telefone.
Nesse entretanto, Ana P. mudou de apartamento e, no novo, montou uma espécie de gabinete clínico com batas de médico, uma delas com um bordado a dizer: “Hospital de Santa Maria”. E tinha caixas de medicamentos, naturais, e outros artefactos médicos a decorar o espaço.
Mais quatro doentes
Depois de ter montado o gabinete, a falsa psiquiatra enganou, ainda, mais quatro pessoas. Uma delas, um homem – seguido no Hospital de Braga – que atendeu e a quem receitou produtos naturais para se curar. Depois, medicou uma mulher a quem deu consultas semanais, a 60 euros cada, receitando-lhe vitaminas. A um outro homem, diagnosticou-lhe ‘esquizofrenia’ e receitou-lhe Risperdal, cobrando-lhe 75 euros. Em fevereiro de 2020, atendeu outro homem a quem aviou receita de produtos naturais e cobrou 60 euros.