Neste Artigo
- Críticas ao trânsito
- E o Nó de Ínfias?
- BRT: contrato assinado dentro de dias
- Soluções para a Habitação
- Braga continua a ser Capital da Cultura
- Projeto para o antigo cinema S. Geraldo
- Querelas com a Arquidiocese?
- Poluição dos rios Este e Torto
- Inundações? Vão continuar!
- Resolver problemas sociais
- 2024: ano de grandes realizações
- Estádio: já se perdeu «uma pipa de massa»
- Estádio 1.º de maio e pavilhão do ABC
- Remunicipalização da AGERE
- Migrantes brasileiros e não só…
- Amante brasileira? É falso!
- E o sucessor?
- Para onde vai a seguir?
Numa longa entrevista a O MINHO, o presidente da Câmara de Braga, Ricardo Rio passa em revista dez anos de mandato. Diz que o Município é um exemplo em todas as áreas de governação, explica os problemas da mobilidade na cidade (o trânsito), do Nó de Ínfias, dos projetos de infraestruturas e da possível venda do novo estádio, onde – sublinha – já se perdeu uma pipa de massa.
Aborda a aposta na Cultura, as vantagens e problemas da imigração e os projetos para o Estádio 1.º de Maio e para o Pavilhão do ABC. E desmente categoricamente ter uma amante brasileira.
O MINHO: O Presidente acaba de concluir dez anos na chefia do Município, dois mandatos e meio. Genericamente o que foi feito neste período? A oposição diz que quase só se fizeram festas e festinhas e nada nasceu de relevante para a cidade…Que é só promessas, ao contrário da gestão anterior de Mesquita Machado em que havia obras de betão…Mas, todos os dias, a Câmara anuncia medidas, obras e projetos etc. É só propaganda?
RICARDO RIO: Alguma oposição ou não é séria no que afirma publicamente ou continua com um problema grave de perceção da realidade do Concelho. Ainda na última reunião de Câmara tive oportunidade de referir que Braga é recorrentemente citada como um exemplo em praticamente todas as áreas da gestão municipal: no desenvolvimento económico; nas políticas sociais; na sustentabilidade; na dinamização cultural; na valorização do património; na proteção civil; na educação; no desporto; na cidadania… Podia estender a lista para várias outras áreas. E sempre fruto de investimentos, políticas e iniciativas que vimos concretizando, em linha com os compromissos eleitorais que assumimos em cada mandato.
Há ainda mais um ano de realizações desde que efetuei essa compilação, mas basta consultar a secção da “Prova dos 9” no site “Cumprir por Braga” da Coligação “Juntos por Braga” (https://www.ricardorio.com/prova-dos-9/a-prova-dos-9/) para perceber a enorme transformação e progresso que estes últimos anos trouxeram a Braga, em todas as áreas da nossa vida em Comunidade.
Esta equipa foi reeleita duas vezes, sempre com maioria absoluta, o que será revelador do nível de satisfação dos Bracarenses com o nosso desempenho.
Quanto às “festas”, como alguns optam por rotular todo e qualquer evento que ocorre no Concelho, é reconhecida a enorme mais-valia que trazem para a dinamização económica, cultural, desportiva ou social.
É até uma crítica que vemos replicada em todas as cidades, independentemente das forças políticas no poder, Curioso é que muitos dos anónimos que alinham nesse discurso, são os primeiros a partilhar fotos nas redes sociais a participarem nessas festas. E ainda bem!
Críticas ao trânsito
M: Ultimamente, as críticas dirigem-se em particular ao trânsito na cidade, que, alegadamente está caótico devido às alterações na filosofia de mobilidade rodoviária e às obras na Avenida da Liberdade e no Túnel. Ora, atendendo ao aumento exponencial do número de carros em circulação e à estrutura física da cidade, o que se projeta para o futuro da mobilidade? Parece complicado…
RR: A primeira questão que é preciso clarificar é a distinção entre uma melhor mobilidade e um melhor trânsito. A aposta numa mobilidade mais sustentável, em Braga e em qualquer outro lugar do mundo, assenta numa diminuição do trânsito, através da redução do número de viaturas particulares em circulação, e na valorização dos transportes públicos e dos modos suaves.
Terá de ser assim por questões ambientais, económicas e até de saúde pública, que exige uma diminuição dos níveis de poluição nas zonas urbanas.
Para uma cidade como Braga, que foi desenhada para privilegiar o uso do automóvel, para estimular a vinda dos carros para o centro (com milhares de lugares de estacionamento públicos e privados), que criou autoestradas para o trânsito de atravessamento em zonas que deviam ser de convivência (com os riscos que tal comporta para a segurança rodoviária e para os peões), a mudança cultural exigida é enorme.
No último Eurobarómetro, Braga era a cidade da União Europeia com a maior percentagem de utilização de viaturas individuais pelos seus cidadãos. Essa é uma mudança que não se vai conseguir de um dia para o outro.
A segunda clarificação diz respeito à diferença entre problemas estruturais e problemas conjunturais de trânsito. O crescimento demográfico e económico da cidade é um problema estrutural. As filas no trânsito na época de Natal ou os condutores que demoravam horas a sair dos parques dos centros comerciais já ocorriam há 10 anos. São um problema estrutural. O mesmo acontece com as consequências nas vias dos dias de chuva repentina mais intensa (que agora são mais frequentes por via das alterações climáticas). São problemas estruturais e difíceis de resolver.
Coisa diversa decorre das consequências da realização de obras em vias centrais que são absolutamente necessárias e que exigem largos períodos de execução (não se podendo ajustar às conveniências individuais).
A obra da Avenida da Liberdade e do Túnel desviou para outras vias dezenas de milhares de viaturas que aí circulavam diariamente. Não há como evitar os congestionamentos. A Câmara tem feito o possível para minimizar os impactos mas eles são incontornáveis e só podemos agradecer a compreensão de todos os que são diariamente prejudicados por essas circunstâncias.
Para o futuro, continuaremos a investir nas infraestruturas, na melhoria dos níveis de serviço e na renovação dos transportes públicos e nos estímulos a adoção de outras soluções de mobilidade.
Projetos como o School bus para todos ou a gratuitidade dos transportes públicos para todos os alunos até à Universidade, terão os seus resultados a prazo. As iniciativas e compromissos assumidos por dezenas de entidades que integram o Pacto de Mobilidade Sustentável de Braga tem tido efeitos imediatos. Mas há um longo caminho a percorrer.
E o Nó de Ínfias?
M: Neste capítulo, há outra crítica: a Câmara diz que já tem projeto para o Nó de Ínfias, mas a obra não arranca! E o mesmo sucede com a ligação da Variante à cidade até Ferreiros, para desviar o trânsito que vai para Norte. Porquê?
RR: São dois casos distintos mas igualmente complexos.
O Nó de Ínfias é uma manta de retalhos que tem diversos pontos de bloqueio que têm de ser “desatados”. Ali, passam diariamente mais de 100 mil viaturas, o que atesta da exigência de qualquer intervenção que ali possa ser realizada.
Sucede que esta não é uma via que esteja sob gestão da Câmara de Braga. Ela pertence à IP – Infraestruturas de Portugal, que é uma entidade na alçada do Governo central, e a quem competirá financiar essa intervenção.
A Câmara tem cumprido o seu papel. Disponibilizou-se para comparticipar a execução dos projetos (que estão de facto concluídos e em aprovação final na IP) e está a tratar das expropriações das parcelas necessárias à implantação das soluções definidas.
No início de 2024, a IP terá todas as condições para lançar o concurso para esta empreitada e esperamos que o faça. Em verdade, isto permitirá também que as obras no Nó não se iniciem em paralelo com as do Túnel da Avenida, o que seria incomportável.
Quanto à Variante do Cávado, a Câmara já concretizou a ligação do Nova Arcada até Frossos. Falta a ligação ao E-Leclerc (em Ferreiros), que permitirá fazer divergir muito do trânsito de atravessamento que vem da zona Norte da cidade. É um trânsito predominantemente intermunicipal, o que justifica o nosso apelo para que seja também a IP a custear as dezenas de milhões que será necessário investir.
Entretanto, a Câmara já avançou com o projeto inicial e está também a acautelar as negociações com os proprietários.
Mas faltam várias etapas (incluindo o estudo de impacto ambiental) que impedirão a concretização deste projeto num horizonte próximo.
BRT: contrato assinado dentro de dias
M: E o BRT (Autocarro de Transporte Rápido)? Em que pé está o projeto? E, já agora, diz-se que vai complicar ainda mais o trânsito em duas grandes vias…
RR: O projeto em si está em fase de conclusão do estudo prévio e de validação das especificidades técnicas do percurso. A ideia será lançar um concurso de concessão-construção que dará origem à execução das duas linhas previstas até 2026 (Estação – Universidade – Hospital e Estação – Minho Center). O contrato de financiamento do PRR, no valor de 100 milhões de Euros, será assinado nos próximos dias, após a sua aprovação pela Comissão Europeia.
Se o objetivo é privilegiar os transportes públicos, através da criação de canais dedicados, e não sendo possível alargar as vias, o que se dá a uns estar-se-á sempre a tirar a outros.
Voltando à referência anterior, está-se a melhorar a mobilidade, não o trânsito. E este é um objetivo coletivo, que devia ser assumido com frontalidade por todos os responsáveis políticos.
Aquilo a que assistimos, com manifesta falta de honestidade intelectual, é que aqueles que propõem a adoção de soluções inovadoras e sustentáveis ao nível da mobilidade, são os mesmos que depois tentam capitalizar com a insatisfação dos condutores pelas dificuldades do trânsito.
Não é sério, sabendo-se que não fariam nada diferente do que está a ser feito.
Soluções para a Habitação
M: Outro grande problema de Braga – que também é nacional – é o da Habitação. Não vai há muitos anos havia apartamentos a mais. Hoje há a menos e são caríssimos. É possível quantificar quantos apartamentos será preciso construir para normalizar o mercado? O processo de revisão do PDM contempla mais 20 por cento de terrenos urbanizáveis…Isso corresponde a quanta área para construção…É suficiente? Em suma, o que tem sido feito nesta área?
RR: O conceito de “caríssimo” é sempre relativo. Hoje as rendas e os preços dos imóveis para venda em Braga são 20/30% mais altos que há uns anos atrás, é verdade. Que continuam a ser substancialmente mais baixos que em outros concelhos de igual dimensão em todo o País ou até de menor dimensão à nossa volta também é verdade. Um Bracarense não conseguiria encontrar uma casa, com a mesma dimensão e qualidade, ao mesmo preço, que não em concelhos do interior do país.
Mas nós não ficamos confortados com o mal dos outros e temos feito tudo o que está ao nosso alcance para mitigar este problema.
Através de apoios diretos, como o RADA, que subiu de 300 mil para 1,4 milhões nesta década e hoje apoia três vezes mais famílias. Ou o RADE, que comparticipa os empréstimos de quem está em processo de aquisição das suas casas. Ou com os programas de incentivo fiscal ao arrendamento acessível. Ou com o Programa de Combate à Pobreza Energética.
Através da regulação da oferta, ampliando as áreas construtivas (via revisão do PDM), incentivando a reabilitação urbana (com o alargamento das ARU), desburocratizando e desmaterializando processos, acelerando a tramitação urbanística.
Braga foi sucessivas vezes nestes anos, o concelho do país em que mais licenças foram emitidas para construção ou reabilitação de habitação.
E estamos a aproveitar todas as fontes de financiamento para reabilitar os Bairros Sociais (como aconteceu com Santa Tecla e Enguardas) ou para apoiar a implementação da Estratégia Local de Habitação (com intervenções tão alargadas como as que decorrem nas Andorinhas, na Praceta Sena de Freitas ou nas Enguardas, por exemplo).
Como a nível mundial se discute, este é um tema que carece de uma parceria contínua entre o setor público e o setor privado, e de uma estabilidade das políticas e um conjunto de incentivos que caem sobretudo na esfera das políticas nacionais.
Braga continua a ser Capital da Cultura
M: O Presidente assumiu o pelouro da Cultura…Braga perdeu a corrida a Capital Europeia 2027 mas ficou com a Capital nacional em 2025. Que projeto teremos? Será inovador e mobilizador? E em que novas infraestruturas? E em termos de património, arqueológico e outro?
RR: Se é verdade que todos desejávamos ser Capital Europeia da Cultura em 2027, esse processo trouxe ganhos que marcam o desenvolvimento das nossas políticas culturais de forma perene.
Braga definiu, finalmente, uma estratégica cultural clara de médio e longo prazo. Braga foi capaz de mobilizar os agentes culturais locais no desenvolvimento de inúmeros projetos e parcerias que se vão concretizar em qualquer circunstância e de trazer as diversas instituições da cidade para o objetivo de colocar a cultura como um eixo central do nosso modelo de desenvolvimento.
Braga tem hoje um leque de atividades, apoios e iniciativas que nos posicionam como uma referência à escala nacional e internacional nas políticas culturais. De muitas pessoas envolvidas no processo, ouvi mesmo a ideia de que o nosso “fracasso” resultou do nosso “sucesso”: de que a assunção da Capital da Cultura não seria tão transformadora face ao percurso já percorrido.
Percebo a ideia mas não concordo. A CEC 2027 deveria ter sido atribuída ao melhor projeto e, com muito respeito pelos nossos concorrentes, mas sobretudo conhecendo as suas propostas, mantenho a convicção de que esse projeto era o nosso.
Lamento por Braga, pelos Bracarenses, e pela nossa equipa que fez um trabalho absolutamente extraordinário.
Em 2025, tendo o Ministério da Cultura acatado a nossa sugestão de promover as “Capitais Nacionais de Cultura”, demonstraremos essa dinâmica, ambição e competência.
Será um marco sobretudo ao nível da programação mas não deixaremos de dar continuidade aos investimentos programados em equipamentos. Em breve, ficará concluída a 1ª fase do Centro Cultural Francisco Sanches (onde se instalará o Arquivo Municipal) e o Convento de S. Francisco. Serão reabilitados o Museu da Imagem, a Casa dos Crivos e o Mercado Cultural do Carandá. Avançarão os projetos da Musealizaçao da Ínsula das Carvalheiras e da Santa Marta das Cortiças. Iniciar-se-á a obra de criação do Media Arts Center no Cinema S. Geraldo. Há projetos do Estado-central e de agentes privados (como o Museu de Arte Contemporânea). E vários outros projetos estão já na forja nos domínios cultural, patrimonial e arqueológico, incluindo a valorização do Teatro Romano.
Já em 2024 vamos receber o Encontro Mundial das Cidades Criativas da UNESCO.
Braga continuará a ser, todos os dias, uma inquestionável Capital de Cultura.
Projeto para o antigo cinema S. Geraldo
M: Nesta área tem sido debatida a alegada falta de projeto para o antigo Cinema São Geraldo que, agora, o Município quer adquirir à Arquidiocese. E o PS critica o valor da renda mensal que lhe é pago…Como está o assunto e como explica as opções tomadas?
RR: O projeto existe e está quase finalizado, viabilizando o lançamento do concurso da empreitada nos próximos meses. Demorou muito tempo, por diversas ordens de razões, muitas das quais não podíamos controlar.
Quando, em 2017, todas as forças políticas entenderam que se devia travar o projeto privado de criação de um mercado urbano naquele espaço, sabíamos que nada fora sequer pensado em termos sustentados para aquele imóvel.
O mesmo foi alugado, porque foi o único modelo de negócio possível, em condições de mercado e com cláusulas de salvaguarda que beneficiaram a autarquia (nomeadamente na consignação de parte do valor das rendas para amortizar a sua potencial aquisição). E todos estiveram de acordo.
Quem na altura, ou ainda hoje, dizia que era possível colocar o S. Geraldo “utilizável” com investimentos de 200 mil euros revela uma ignorância atroz. Basta ver o estado de degradação física em que o edifício se encontra para perceber que ninguém lá poderia entrar sem uma intervenção estrutural profunda.
Na altura, admitimos que o mesmo poderia ser convertido no Media Arts Center mas foi necessário percorrer o caminho para a formatação do projeto em concreto. Foram contratados estudos prévios externos, foram realizadas visitas de «benchmark» pelas nossas equipas, foram elaborados projetos que foram colocados à apreciação das autoridades competentes.
Tudo isso levou anos. Veio a pandemia e os atrasos foram ainda maiores. É verdade que a seguir as nossas equipas não se focaram neste projeto porque demos prioridade aos projetos da área da Habitação.
Hoje, estamos uma fase adiantada como referi, e queremos até fechar a negociação com a Arquidiocese para a sua aquisição, antes do início das obras.
Querelas com a Arquidiocese?
M: Por falar em Arquidiocese…Algumas querelas judiciais deterioraram as relações…Como estão atualmente? Há algum dossier a resolver?
RR: Numa cidade em que a Igreja é proprietária de um vasto rol de imóveis e em que, direta e indiretamente, é uma das principais entidades responsáveis por projetos sociais, culturais e patrimoniais, há sempre questões a resolver.
Note-se que a Câmara nunca estimulou qualquer questão judicial e sempre quis manter relações de parceria positiva com todas as instituições ligadas à Igreja.
Genericamente, quer as relações institucionais, quer as relações pessoais, vivem um período muito saudável. O que é benéfico para Braga e para os bracarenses.
Poluição dos rios Este e Torto
M: Outro dos reparos que é feito por muitos cidadãos é o da poluição dos rios Este e Torto…Que a Câmara nada faz…É assim? O que se faz nesta área?
RR: No rio Torto e na Ribeira de Panoias estão a ser feitas intervenções de renaturalização das margens, que vão assegurar mais condições de segurança contra cheias para as populações da envolvente, a possibilidade de fruição desses espaços para lazer e a redução dos focos de poluição. A criação da nova ETAR irá obviamente reduzir os riscos de sobrecarga da ETAR atual que estiveram na origem de muitas ocorrências nesta zona.
Em relação ao rio Este, é preciso ter memória. O rio, as suas margens e toda a envolvente têm hoje condições que nunca tiveram. Mesmo ao nível da qualidade da água e da preservação da fauna e da flora.
Continuaremos a fazer intervenções de valorização das suas margens e da qualidade da água, seja na zona central (do INL à Repsol), na sua nascente (em S. Mamede de Este) ou no prolongamento da ecovia até Celeirós.
Temos já hoje feito o cadastro de largos kms da rede de águas pluviais da envolvente e isso permite-nos mitigar os riscos de novas descargas e atuar, como vem sendo feito, sobre possíveis infratores. Mas não se esqueça que, durante muitos anos, muita da rede de drenagem da envolvente encaminhava tudo para o rio, com as consequências conhecidas.
Por falar em cursos de água, cumpre não esquecer o importante trabalho de valorização das margens do Cávado que já hoje nos permite ter três praias com Bandeira Azul, a que se juntarão mais duas até ao fim do mandato, a de Navarra e o Cavadinho.
Inundações? Vão continuar!
M: Neste domínio, o da água: há alguns anos atrás quando havia chuvadas fortes, havia zonas – túneis e rotundas inundadas..Ainda acontece? O que foi feito e o que falta fazer?
RR: Acontece e acontecerá. A infraestrutura de toda a cidade não está preparada para as elevadas cargas de água que se concentram em curtos períodos de tempo. E não é técnica e financeiramente exequível ajustar a infraestrutura existente para comportar os níveis de pluviosidade que ocorrem com cada vez mais frequência.
Nestes casos, a proteção civil tem de atuar de forma o mais atempada possível, inibindo a circulação e minimizando riscos, e promovendo a recuperação célere dos danos que possam ocorrer nas vias.
Poderão existir substituições pontuais das tubagens em algumas zonas, associadas a outras intervenções, e poderão corrigir-se alguns problemas estruturais (como agora vai acontecer na Reta do Feital, ou como poderá acontecer no futuro com a criação de baías de retenção na antecâmara do parque industrial da APTIV/Bosch).
Mas teremos que nos habituar a conviver com estes fenómenos.
Resolver problemas sociais
M: Em qualquer município, nos tempos que correm, há problemas vários de índole social, com pessoas idosas ou com deficiência, sem-abrigo, em casas degradadas, etc. O que faz a Autarquia nesta área?
RR: Braga tem privilegiado muito as políticas sociais, acorrendo a todas a franjas da população que carecem de algum tipo de apoio. Orgulhosamente, “não deixámos mesmo ninguém para trás” e fomos reconhecidos em todos os anos de mandato como uma “Autarquia Familiarmente Responsável”.
Queremos uma cidade cada vez mais inclusiva e apoiamos a nossa população através de iniciativas diretas e do apoio às diversas instituições sociais que gerem valências e projetos que se dirigem a estas populações, seja através de contributos para financiar os investimentos realizados ou para apoiar o desenvolvimento de diferentes respostas.
Em relação à deficiência, temos tido iniciativas tão diversas quanto o apoio à empregabilidade; a promoção de uma maior acessibilidade (com projetos como o “Eu já passo aqui”); ou as respostas educativas e em tempo de férias (como os projetos “Incluir” e “Supera-te”).
Temos também procurado contribuir para o envelhecimento ativo, com uma vasta lista de projetos culturais, desportivos e sociais. Mais do que a mera ida anual à Malafaia, temos inúmeras atividades que se desenvolvem ao longo do ano (Braga Ativa, Boccia Sénior, Universidade Sénior, A àgua não nos mete medo, Voluntariado, …) que estimulam o convívio e a realização pessoal dos participantes.
Destaco ainda os investimentos que temos feito na área da saúde, com o apoio na comparticipação de medicamentos, na tele-assistência, na medicina digital (em parceria com o P5 da Universidade do Minho), com o Braga a Sorrir e vários outros projetos.
A população sem abrigo ou residente em casas degradadas é beneficiária de algumas das ações da nossa Estratégia Local de Habitação e tem merecido uma resposta interdisciplinar do Município, que visa cobrir as múltiplas dimensões que conduziram a essa situação e que permitirão estimular uma reintegração plena na sociedade.
2024: ano de grandes realizações
M: Aproxima-se o fim de 2023, o que implicou a preparação de um Plano de Atividades e do Orçamento para 2024. O que será feito no próximo ano? Continua a diminuição de impostos sobre cidadãos e empresas?
RR:O ano de 2024 será um ano de grandes realizações. Primeiro, porque as mesmas foram preparadas ao longo dos últimos anos e atingem agora o seu estado de maturidade.
Segundo, porque temos os meios financeiros necessários para as concretizar. Este é o maior orçamento de sempre da Câmara Municipal de Braga por três ordens de razões. Pela inclusão das verbas do PRR (Residência Universitária na Confiança, Museus, Equipamentos de Saúde, a que ainda se podem juntar as escolas EB 2,3), pelo reforço das verbas do processo de descentralização na Educação, Saúde e Ação Social, e por aquilo que designei de um modelo virtuoso de crescimento demográfico e económico.
Com mais pessoas, mais qualificadas e com melhores salários e com empresas mais bem sucedidas, a Câmara consegue angariar mais receita fiscal mesmo reduzindo a carga fiscal incidente sobre cidadãos e empresas, tal como tem acontecido todos os anos e este ano volta a acontecer.
Todos, todos os Bracarenses estão a pagar menos impostos e isso é um sinal importante que damos às famílias e à economia.
Voltaremos a reforçar as políticas sociais, nomeadamente na esfera da habitação, e a concretizar diferentes iniciativas que vão reforçar a qualidade de vida, com investimentos na área da mobilidade, da cultura e da educação em destaque.
É também um documento de continuidade com as políticas que marcam a nossa atuação nas diferentes áreas e é um documento que volta a dar um contributo decisivo para a concretização dos compromissos com que nos apresentamos a sufrágio em 2021.
Estádio: já se perdeu «uma pipa de massa»
M: Há dias o Presidente voltou a colocar a hipótese de vender o novo estádio, o da Pedreira, desta vez ao Sporting Clube de Braga…Ora, atendendo a que o seu custo final atingiu 190 milhões de euros. Pode dizer-se que o Município perderá «uma pipa de massa». Vender porquê e para quê?
RR: O Município não vai perder uma pipa de massa, já perdeu! Até porque com a forte contribuição desta última década, boa parte dessa dívidas aos bancos e dos processos judiciais foram finalmente pagos. É aquilo que se designa como um “custo afundado”, que a Câmara nunca mais vai recuperar.
Pelo contrário, com o passar do tempo, vão agravar-se os custos de conservação e renovação que o Município teria que suportar, porque não decorrem do funcionamento corrente do estádio. Foram muitos, muitos milhões até agora, e serão vários milhões no futuro.
Qualquer que seja o valor que se vier a apurar para a possível venda, a Câmara faz um encaixe e liberta-se dessas responsabilidades futuras.
Acresce um outro fator. Toda a gente reconhece as fragilidades que o estádio tem em termos de acessibilidade, de segurança, de conforto, de funcionalidade. Essas fraquezas são um obstáculo ao crescimento do clube em linha com o que o seu desempenho desportivo justifica.
E a Câmara de Braga não investirá mais um cêntimo nesse tipo de melhoramentos. Sendo que também não antevejo que o Clube, ou os seus acionistas, o possam fazer sem ter a propriedade plena do estádio.
Ao mesmo tempo, temos um outro estádio municipal, património classificado, potenciador de múltiplos usos desportivos e culturais, que se encontra a degradar porque não há recursos financeiros para custear a sua reabilitação.
Esta maioria tem a legitimidade política para concretizar esta alienação e fá-lo-á se forem reunidas as condições para o efeito.
Estádio 1.º de maio e pavilhão do ABC
M: E, já agora? Que projeto para o 1.º de Maio, para o pavilhão do ABC e para outros equipamentos desportivos?
RR: No 1º de Maio foram feitos estudos diversos pela Universidade do Minho e deles resultou o projeto de reabilitação que está a ser elaborado e que permitirá a concretização das obras, assim existam meios financeiros para o efeito, como antes referi.
Quanto ao Pavilhão do ABC, foi consensualizada uma solução com a atual direção e o projeto avançará em 2024 para obras. Está a ser finalizada a ampliação e requalificação do Pavilhão das Goladas e a intervenção na Piscina da Ponte.
Vai avançar agora a intervenção de cobertura da piscina das Parretas que depois permitirá a correção de diversas patologias na Piscina da Rodovia.
O projeto do Pavilhão de Ginástica no Campo do Maikes em Nogueira está quase pronto e os projetos dos campos de Esporões e de Gualtar estão a avançar a bom ritmo.
Estão já em obra os balneários das Camélias, foi lançado o concurso para o Polidesportivo de Padim da Graça (eleito duas vezes no orçamento participativo) e têm também sido reabilitados diversos outros polidesportivos por todo o Concelho.
Há depois problemas estruturais em alguns pavilhões e piscinas que carecem de mais tempo de preparação dos projetos e do financiamento necessário.
Remunicipalização da AGERE
M: A oposição tem vindo a pedir a remunicipalização da AGERE, dizendo que se pagaria com «o pelo do mesmo cão», ou seja, com os próprios lucros da empresa. Porque não se faz?
RR: Notas preliminares: a AGERE é, de há muitos anos, uma das empresas municipais melhor geridas a nível nacional, com resultados em nível de serviço e de desempenho económico assinaláveis. Aliás, a presença dos parceiros privados terá sido um importante contributo para tal desiderato.
Nesta década, a Câmara assumiu em pleno a sua posição maioritária na AGERE e conseguiu melhorar significativamente os resultados através da redução dos custos de funcionamento, assegurando ao mesmo tempo descidas dos tarifários para toda a população e ainda maiores para vários segmentos de clientes (famílias numerosas, IPSS, clubes desportivos, juntas de freguesia, etc.).
A vantagem de ter uma AGERE pública não é, como alguns querem fazer crer, um incentivo a descidas de tarifários. Todas as orientações das políticas europeias e nacionais vão em sentido contrário, usando o preço como fator dissuasor do consumo de água ou penalizador da produção de resíduos.
A vantagem é predominantemente financeira, com o Município a deixar de partilhar os lucros gerados anualmente. Isso tem um preço. A empresa tem um valor, que é muito superior ao que tinha aquando da privatização que terá de ser pago. A Câmara pode contratar um empréstimo para o fazer, mas a nossa prioridade imediata foi garantir capacidade de endividamento para a dívida inerente ao processo de extinção da SGEB e para apoio ao investimento público municipal.
Migrantes brasileiros e não só…
M: Braga acolhe hoje alguns milhares de migrantes. Entre eles muitos brasileiros. Por isso, há quem critique a Câmara e o senhor pessoalmente por ter ido ao Brasil apelar à vinda para Braga…É verdade? Que vantagens trazem estes imigrantes para o concelho?
RR: Eu não precisei de ir ao Brasil para atrair os brasileiros para Braga. Eles encarregaram-se de passar a palavra e de demonstrar a grande qualidade de vida que Braga tinha para lhes oferecer e o processo tornou-se viral.
Braga tem hoje mais de 130 nacionalidades residentes. A comunidade brasileira tem um peso especial (é quase 8% da população) mas existem várias outras com dimensão relevante. Uns são emigrantes, outros são refugiados e, em qualquer dos casos, todos estão plenamente integrados e são muito úteis ao nosso desenvolvimento.
De notar que a última vaga de imigração nos trouxe pessoas mais qualificadas, com mais poder de compra, com espírito empreendedor e com capacidade de investimento e familiarmente enquadradas.
Mesmo as pessoas mais indiferenciadas são fundamentais para assegurar o funcionamento de vários setores de atividade, em que os portugueses deixaram de querer trabalhar (na restauração, no comércio, no turismo, em algumas indústrias…).
Ainda recentemente, no último encontro de embaixadores empresariais, quase todos os presentes referiram a dificuldade de encontrar os recursos humanos necessários ao seu crescimento.
Mas note-se que a população de Braga cresceu 6,5% nos últimos 10 anos, e só menos de metade é que foram estrangeiros. É muito injusto imputar responsabilidades a esta franja da população pelas dificuldades da habitação, pelos problemas de trânsito ou por episódios pontuais de criminalidade.
Amante brasileira? É falso!
M: Agora, se me permite, faço-lhe uma pergunta que, sendo do foro privado se tornou pública..a de que o Presidente até tem uma amante brasileira e um filho dela…Algo que se ouve no dia-a-dia e com insistência…É verdade ou é boato urbano?
RR: Não sendo verdade e tratando-se de um tema da minha esfera pessoal poderia prescindir de lhe responder a esta questão. Mas faço-o porque há três aspetos que é importante realçar nesse tema.
O primeiro, que é óbvio, é que, se fosse verdade, o Presidente não teria uma “amante”. Ter-se-ia separado e teria uma relação com outra pessoa, o que (in)felizmente acontece em muitos casais. Acontece que a minha relação com a minha mulher continua com o vigor de sempre, com muito orgulho e alegria pelo percurso que trilhamos enquanto casal e enquanto família.
Mas este processo evidencia dois fenómenos que me custa registar.
O primeiro é que ainda existe muita gente em Braga que gostava que esta fosse uma cidade de província. A costela “alcoviteira”, a necessidade de afirmação pelas certezas que se afirmam em relação à vida de terceiros, são reveladoras de uma pequenez contra a qual luto todos os dias. O gosto com que alguns se apresentam como “fontes informadas”, invocando sem sustentação o testemunho de conhecidos próximos que nunca se assumem é confrangedor.
Mas, ainda pior que essa dimensão, é a xenofobia latente nessa mentira. O Presidente não tem uma amante. Tem uma amante brasileira. Porque como ele é o amigo dos brasileiros, não podia ser de outra forma. Um tipo de atitude que infelizmente é cada vez menos um caso isolado e que nos devia envergonhar a todos.
E o sucessor?
M: Faltam-lhe dois anos de mandato. O PSD terá de escolher um candidato para ir a votos. Como se vai desenrolar o processo? Será fratricida? Tem preferência por alguém?
RR: Os processos são fratricidas e agitados quando existem fações e conflitos vincados entre os protagonistas. Não é esse manifestamente o caso com que nos confrontamos no PSD.
Em primeiro lugar, cumpre assegurar uma liderança que dê a devida continuidade ao trabalho que tem sido desenvolvido por esta maioria, o que pode ser assegurado por personalidades que se encontram no Executivo Municipal, no Universo Municipal ou fora de ambos.
Em segundo lugar, a nova liderança que emanará sempre do PSD terá que continuar a assegurar uma capacidade de mobilização suprapartidária e de envolvimento da sociedade civil, porque essa é a identidade do projeto “Juntos por Braga”.
Eu tenho obviamente a minha opinião pessoal que expressarei nos locais e calendários próprios de desenvolvimento deste processo, que deverá ficar concluído até ao final de 2024.
Para onde vai a seguir?
M: A terminar? O que fará quando sair da função. Volta a trabalhar no setor privado, ou candidata-se a deputado – nacional ou europeu?
RR: É mais fácil dizer o que farei até sair da função do que aquilo que farei depois. Até porque, se a minha intenção fosse manter-me na vida política ativa, e como agora ficou demonstrado, não se pode controlar o calendário dos ciclos políticos e dos atos eleitorais.
Aquilo que os Bracarenses sabem, com toda a certeza, é que, no que depender da minha vontade eu cumprirei o meu mandato até ao fim e não sairei, em qualquer circunstância, para qualquer outro cargo político.
Depois de Outubro de 2025, o mais natural será voltar à minha vida profissional no setor privado.