Braga era, até às 24:00 de sábado, o sétimo concelho onde existiam mais casos confirmados de covid-19 no país, com 621 contágios assinalados no boletim epidemiológico da Direção-Geral da Saúde, divulgado ao início da tarde deste domingo.
Oficial: 621 casos em Braga e 211 em Famalicão. Há 1.626 casos confirmados no Minho
A nível regional, Braga conta com quase o triplo de infetados em relação a Famalicão e Guimarães, as outras duas áreas mais densamente povoadas no distrito de Braga.
A nível nacional, e com ligação estreita ao distrito do Porto, está numa zona de risco elevado, apenas sobreposta pela área metropolitana do Porto.
Com forte densidade populacional e local habitual de turismo e passagem entre concelhos e distritos, o núcleo urbano é o mais atingido, sobretudo os lares de idosos, que ajudam a disparar os números.
Turismo?
Eleito em 2019 como segundo melhor destino turístico europeu do ano pela European Best Destinations, dormiram, durante esse ano, mais de meio milhão de turistas em Braga, número que não reflete os milhões que passaram pelo território, mas que dormiram fora do concelho. Estes turistas deixaram cerca de 30 milhões de euros no comércio e restauração local.
Ricardo Rio, presidente da Câmara, explicou a O MINHO que cada território possuí dinâmicas diferentes, e o de Braga é sinónimo de “maior número de turistas”, reforçando que este pode ser um dos motivos para os casos encontrados.
Apesar da autarquia, ainda sem qualquer indicação do Governo, ter mandado encerrar todo o comércio na cidade no passado dia 16 de março, a verdade é que os turistas não foram logo embora, saindo gradualmente do território até final do mês passado.
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Profissionais em movimento?
Outro dos motivos apontados pelo autarca passa por Braga, sobretudo a cidade, ser local de “profissionais em movimento”. Mesmo depois de declarado o Estado de Emergência, vários profissionais continuam a trabalhar em Braga, seja na indústria, nas telecomunicações ou em serviços que permaneceram abertos.
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Braga sempre foi pólo de indústria, serviços e negócios, sendo a realidade do turismo um fenómeno importante, mas ainda recente. Empresas como a BOSCH continuaram a laborar, mesmo depois de serem conhecidos casos positivos dentro das instalações. Esta acabou por suspender a produção no final de março, após quebra nas encomendas. Também o grupo DST, com casos conhecidos nas chefias, mantiveram a atividade após quarentena dos colaboradores diretos.
Estudantes?
Também os muitos estudantes da cidade, sobretudo os do Ensino Superior (mais de 20 mil), podem ter sido um factor para estes números, uma vez que grande maioria não reside no concelho.
Apesar deste indicador, a Universidade do Minho, por exemplo, encerrou portas há mais de um mês, depois de detetado o primeiro caso, um aluno residente na zona do Porto, infetado por um tio que regressou de uma feira de calçado em Itália, onde renascia um pico da pandemia que iniciou no final de 2019, na China.
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Todas as residências entraram em quarentena obrigatória e foram encerradas a alunos que tivessem possibilidade de regressar a casa. Todos os serviços da universidade encerraram antes do dia 20 de março.
Elevado número de testes realizados?
Ricardo Rio pede prudência para quando se fala na comparação para outros concelhos, como é o caso de Guimarães ou Braga, considerando que “os dados de base não são equivalentes”.
“Na verdade, os concelhos que hoje ostentam maior número de infetados são também os concelhos em que maior número de testes foi realizado”, expõe.
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E poderá ser esse o factor determinante para que Braga ostente um número tão díspar de infetados relativamente a outros concelhos urbanos da região minhota.
Ricardo Rio destaca que Braga, até o último sábado, quando respondeu às questões de O MINHO via email, tinha realizado mais de seis mil testes, contando com os realizados no Hospital de Braga e no drive thru da Unilabs, sediado no estacionamento do Altice Fórum.
Também foram realizados centenas de testes em lares e instituições do concelho, promovidos exclusivamente pelo poder autárquica, sendo, precisamente, nos lares onde se encontra grande número de casos positivos de SARS CoV-2.
Lares de idosos?
O autarca refere que “há que atender a que boa parte dos testes realizados se dirigiu a instituições de acolhimento de terceira idade, quer a utentes, quer a profissionais”.
“Neste universo, a taxa de positivos é muito maior, chegando a ultrapassar os 50% em algumas instituições e ficando acima dos 20% no conjunto”, revela. Ou seja, a cada 100 testes, há instituições que detetam mais de 50 casos, como foi o exemplo do Asilo de São José, onde já morreram, pelo menos, seis utentes, com o novo coronavírus.
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Ação municipal
Ricardo Rio salienta as respostas sociais e económicas desenvolvidas com diversos parceiros, como é o caso da Associação Comercial de Braga (para o comércio) e com a Invest Braga (para a indústria e negócios), criando um apoio aos empresários e trabalhadores bracarenses.
Atualmente, Ricardo Rio, à semelhança do que já havia dito o vereador Altino Bessa a O MINHO, não esconde que a preocupação maior está nos lares de idosos e nas instituições com regime de internato, como é o caso da APPACDM.
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“Além das respostas sociais e económicas que continuamos a desenvolver com diversos parceiros, a nossa prioridade continua a dirigir-se para a realização do máximo de testes possível aos lares e a dotação de equipamentos de proteção individual a estas instituições sociais”, prioriza.
Sapadores e PSP com contágios em cadeia
Duas das principais instituições de segurança e proteção civil de todo o distrito estão sediadas em Braga e contam com, pelo menos, 31 casos de infetados.
Na Companhia de Bombeiros Sapadores de Braga, a terceira secção foi fortemente atingida pela pandemia, totalizando 18 elementos infetados. A situação preocupou os autarcas que se deslocaram ao local, reforçando o plano de contingência com maiores desinfeções e maiores cuidados contra a propagação da pandemia intra-muros.
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A outra instituição afetada é a Polícia de Segurança Pública, que conta já com 13 elementos infetados, 12 agentes e um elemento da secretaria do comando distrital, sediado na cidade.
O boletim epidemiológico da Direção-Geral de Saúde deste domingo de Páscoa vem com os números aproximados daquilo que são os casos fidedignos de infeções por covid-19 discriminados por concelho.
Existem 1.626 casos confirmados no Minho, mais 106 do que ontem. Nas últimas 24 horas, registou-se, em média, 4,4 casos a cada hora, cerca de um caso novo a cada 15 minutos.
Os números correspondem aos dados recolhidos até as 24:00 de sábado e comportam os dados incluídos na plataforma SINAVE, podendo pecar por defeito de 80%.
Braga, com 621 (+42 do que ontem) casos confirmados, Famalicão com 211 (+18) e Guimarães com 201 (+12) são os concelhos da região do Minho mais atingidos pela pandemia.
Segue-se o concelho de Barcelos com 137 (+4), Viana do Castelo com 104 (+9), Vila Verde com 70 (+8), Arcos de Valdevez sobe para 42 (+3), Fafe sobe para 29 (+1), Póvoa de Lanhoso sobe para 28 (+1), Esposende sobe para 27 (+1), Amares sobe para 26 (+1), Vizela sobe para 23 (+2), Ponte de Lima mantém 19, Melgaço mantém 14, Vieira do Minho sobe para 14 (+1), Monção mantém 11, Caminha mantém 9, Celorico de Basto sobe para 9 (+1), Cabeceiras de Basto sobe para 8 (+1), Terras de Bouro sobe para 7 (+1), Paredes de Coura mantém 6, Valença mantém 6 e Cerveira mantém 4 casos confirmados.
Os restantes concelhos minhotos registam menos de 3 casos, alguns ainda sem infetados, e não constam no relatório por “motivos de confidencialidade”.
504 mortos, 16.585 infetados e 277 recuperados no país
Portugal regista hoje 504 mortos associados à covid-19, mais 34 do que no sábado, e 16.585 infetados (mais 598), indica o boletim epidemiológico divulgado pela Direção-Geral da Saúde (DGS). Há 277 casos recuperados.
O relatório da situação epidemiológica, com dados atualizados até às 24:00 de sábado, indica que a região Norte é a que regista o maior número de mortos (280), seguida pelo Centro (120), pela região de Lisboa e Vale Tejo (91) e do Algarve, com nove mortos.
O boletim dá hoje conta de quatro óbitos nos Açores.
Relativamente a sábado, em que se registavam 470 mortos, hoje observou-se um aumento percentual de 7,2% (mais 34).
De acordo com os dados disponibilizados pela DGS, há 16.585 casos confirmados, mais 598, o que representa um aumento de 3,7% face a sábado.
Notícia atualizada às 18h39.