Braga: Cavalos lusitanos voltam a atrair centenas na AGRO

A presença de famílias foi a marca do terceiro dia da AGRO. As atividades deste sábado com temperaturas de verão incluíram passeios a cavalo, concursos pecuários inovadores, muitas provas das iguarias do Minho, transmissão de conhecimento nos seminários e altos rufar de tambores.   

Este sábado, dia 23 de março, milhares de pessoas visitaram a AGRO. A alegria contagiou todos os espaços do Altice Forum Braga, desde as conferências até às tendas dos 500 animais. À semelhança do dia anterior, a feira promoveu o espetáculo equestre “Irmãos Malafaia”. Esta grande novidade levou centenas de pessoas ao picadeiro para assistir ao espetáculo envolvente de música, dança e cuspidores de fogo. Os artistas equestres exibiram a sua agilidade, preformando manobras deslumbrantes.

Na mesma zona, a AGRO KIDS contou com uma programação totalmente dedicada às famílias, como os workshops de sacos de cheiro, sementeiras e jardim suspenso, promovidos pela Quinta Pedagógica de Braga. 

A exposição de Alfaias Agrícolas, do início do século, alocada no primeiro piso do pavilhão, é uma oportunidade imperdível de se rever com nostalgia os instrumentos do passado. A pequena debulhadora, a aventadora de milho e feijão feita de madeira e as semeadoras manuais são exemplos das tecnologias do passado em exposição.

Para criar variadas peças de arte em madeira, o escultor Emanuel usa motosserras de diferentes tamanhos para as escavar cuidadosamente. O artista aproveita restos das limpezas florestais para desenhar ícones como leões, cavalos, águias e outras figuras.

Também sobre arte, a exposição fotográfica da AGRO tem como mote a celebração do décimo aniversário da InvestBraga, destacando a história da Feira, mais antiga que a própria organização. Os últimos 60 anos contam com vários registos, e José Olímpio, diretor operacional de Feiras, Congressos e Eventos, acrescenta uma curiosidade: “No mural constam referências da primeira feira agrícola em Braga, com atribuição de prémios agropecuários – Uma ata do Rei D. Luís I de 1863”.

Carlos Silva, administrador executivo da InvestBraga, acredita que a AGRO é um evento sem paralelo no país – “Das feiras que existem em Portugal, existem poucas com uma matriz essencialmente ligada à agricultura”.

Os concursos pecuários deste sábado passaram pela Raça Minhota, promovido pela Associação Portuguesa dos Criadores de Bovinos da Raça Minhota (APACRA) e o 12º Concurso Nacional da Raça Cachena, promovido pela Associação dos Criadores de Bovinos de Raça Barrosã (AMIBA). Pela primeira vez, os preparadores e manejadores da raça Holstein Frísia subiram ao ringue para mostrar as suas habilidades na preparação dos melhores espécimes. José Olímpio acrescentou “Nos anos anteriores, era dentro do estábulo que os preparadores alinhavam os animais com tosquias, secagens de pelo e outras técnicas, para que desfilassem no dia seguinte. Este ano, essa tarefa sai da vacaria e passa para o palco”.

As tasquinhas típicas e os Restaurantes de carnes DOP são outro grandes motivos que trouxeram o público à AGRO. As iguarias tradicionais, desde os doces conventuais ao fumeiro e queijos, mantêm viva a alma de um Portugal que serve bem.

As atividades gastronómicas não terminaram por aí. Durante este sábado, nove showcookings expuseram o que de melhor se faz no Minho. Fidalguinhos, harmonizados com vinhos da Quinta da Pegadinha e Quinta das Pereirinhas, Couves com Feijão e Broa, harmonizado com vinho Floral de Monção, Bacalhau à Braga, com o chefe José Dias, harmonizado com vinhos CAVAGRI, Galo Assado à moda de Barcelos, Pica no Chão com o chefe Leonel Martins, harmonizado com vinhos Alvaminho, foram algumas das iniciativas que passaram pelo palco da AGRO. Estas ações foram apoiadas pelo Mercado Abastecedor de Braga (MARB). Carlos Silva ressalta a importância da AGRO enquanto representação viva do património nacional: “Temos aqui o país inteiro”, declara, sublinhando a capacidade da feira em abranger a rica diversidade agrícola e pecuária de Portugal.

A AGRO é também um espaço de partilha de conhecimento. Durante a manhã desta sexta-feira, a DEFIL promoveu o seminário “A Inovação na Agricultura: Oportunidade ou Necessidade?”. Com as alterações climáticas a imporem desafios significativos, como o agravamento da seca, aumento da erosão dos solos e diminuição da biodiversidade, foram abordadas soluções inovadoras que visam combater estes efeitos adversos. Entre as técnicas discutidas, a micropropagação surge como uma estratégia promissora para a preservação de espécies e renovação de plantações, permitindo a replicação em laboratório a partir de uma parte da planta mãe. Esta abordagem não só garante a biodiversidade de espécies autóctones como também potencializa a produtividade.

Outro tema em destaque foi o papel das micorrizas, uma relação simbiótica entre raízes de plantas e fungos, que expande a capacidade das plantas de absorver água e nutrientes, reduzindo a necessidade de adubos químicos e possibilitando aos agricultores uma fonte de renda adicional através do cultivo de cogumelos.

A mesa-redonda subsequente, “Competitividade vs Sustentabilidade: os grandes desafios do setor agrícola”, reforçou a mensagem de que a inovação é fundamental para a sustentabilidade e competitividade no setor, junto de vários especialistas, entre eles, Fernanda Fidalgo (Faculdade de Ciências da Universidade do Porto/GreenUPorto), Pedro Brás de Oliveira (INIAV, IP), Susana Araújo (More – Colab Montanhas de Investigação) e Tadeu Alves (GreenFactor). Tadeu Alves destacou a importância de equipar os produtores com ferramentas que permitam responder às exigências do mercado, incluindo práticas de responsabilidade social, certificação e sustentabilidade climática. “Ninguém mais do que o produtor deseja um solo produtivo e condições climatéricas favoráveis. Nós somos um dos principais fixadores de carbono no solo”, afirmou.

Pedro Oliveira e Susana Araújo partilharam a visão de que a inovação transcende a oportunidade académica, revelando-se uma necessidade urgente face ao aumento da população e à limitação de terras aráveis. A inovação emerge, assim, como uma ferramenta indispensável para garantir a segurança alimentar num contexto de desafios ambientais e financeiros.

O seminário evidenciou a complexidade de dissociar as oportunidades da necessidade de inovação, sublinhando a importância de abordagens inovadoras, tanto em laboratório quanto no campo, para enfrentar os desafios contemporâneos da agricultura.

Neste certame foram também discutidos os temas “Agricultura Sintrópica – Um possível caminho para um futuro mais abundante”, promovido pelo Projeto Dispersor/Okatsune Ibérica e workshops de “Enxertia de Árvores de Fruto”, ministrado por Raúl Rodrigues, da Cisas, Escola Superior Agrária do IPVC, e “Como Fazer um Jardim Suspenso”, promovido pela Quinta Pedagógica de Braga e Leroy Merlin.

Com mais de 25.000 m², dos quais 15.000 m² dedicados aos expositores, a AGRO tem o forte apoio dos parceiros, destacando-se o patrocinador oficial, o grupo Campicarn, uma empresa nacional do setor das carnes.

Em recente conversa com a Rádio Antena Minho, com emissão em direto do evento, Manuel Martins, fundador e presidente do conselho de administração do Grupo Campicarn, partilhou a origem humilde e dedicada da marca. “Eu nasci nos bovinos e desde pequeno que ajudava o meu pai”, revelou, sublinhando a longa trajetória que levou a empresa a tornar-se uma marca de renome tanto nacional quanto internacional.

O sucesso da Campicarn, segundo o presidente, deve-se à atenção meticulosa às tendências e necessidades do mercado. “O consumidor é quem manda”, afirmou. Esta abordagem resultou em relações comerciais sólidas com diversos países europeus, incluindo Alemanha, Holanda, França, Dinamarca, Itália, Inglaterra, Espanha e Irlanda.

Além da expansão e do sucesso comercial, o Grupo Campicarn tem se destacado pelo seu compromisso com a sustentabilidade e a qualidade. Uma grande parte da sua produção é própria, o que permite à empresa controlar rigorosamente a qualidade dos produtos que chegam ao consumidor. “Temos o compromisso de que os nossos produtos sejam, permanentemente, sustentáveis, seguros e de qualidade”, reiterou Martins, ecoando a mensagem veiculada nos dois seminários promovidos na AGRO sobre produção animal e alimentação saudável.

A associação à AGRO é, para o grupo, uma oportunidade valiosa para estreitar laços com o setor agropecuário e de reafirmar o seu compromisso com os valores da agricultura e pecuária sustentáveis. “O nosso dia a dia passa por interagir com os expositores que cá estão, principalmente da agropecuária”, concluiu Manuel Martins.

Mais um ano, a AGRO estimula a deslocação sustentável até ao recinto. Em parceria com a TUB, todos os visitantes poderão apanhar o shuttle especial na tarde de domingo, que partirá do Minho Center e E.leclerc. O bilhete tem o custo de 1€, ida e volta, sendo que quem o apresentar nas bilheteiras do Altice Forum Braga, terá um desconto de 50% da entrada no evento. Deixando os carros estacionados nesses espaços, contribui-se para um trânsito mais fluído e menos emissões de carbono. A organização alerta para os constrangimentos de estacionamento nas imediações do Altice Forum Braga, que estarão maioritariamente ocupados pelos funcionários da feira.

O último dia do evento espera-se de enchente, com atividades para os mais pequenos na Quinta Pedagógica de Braga com um workshop de hotéis para insetos e uma atividade de medalhões dos super-animais. Os showcookings continuarão a deliciar os visitantes, numa viagem pelo sabor e tradição do azeito do Douro, pelo expositor Pipa de Sabores, que também guiará o tradicional folar limiano e fumeiro de Ponte de Lima. Também o restaurante Esperança Verde confecionará um lombo minhoto, fungos e raízes, numa ementa harmonizada com vinhos CAVAGRI. O dia será ainda de concursos pecuários, com o 35º concurso nacional do pecuário da Raça Barrosã e o concurso pecuário da raça Holstein Frísia. 

A tarde será de animação com a atuação do Grupo Folclore da Rusga de Merelim de S.Paio de Braga, o Grupo Folclórico da Universidade do Minho (GFUM) e o Grupo de Fados da ARCUM. O final da tarde será a cargo do Município da Póvoa de Varzim que traz a Horpozim – Associação Empresarial de Hortícola para a confeção da sopa da Póvoa. Também o município de Barcelos, com o Restaurante Chuva, produzirá papas de sarrabulho à moda de Barcelos, dando o mote para o encerramento da 56ª edição da AGRO, que fecha as portas pelas 20h00.

A todos os visitantes, a AGRO apela à contribuição para a causa solidária deste ano –“Agro AMA a Ucrânia”. AMA é o acrónimo que representa Alimentos não perecíveis, Medicamentos e Aquecimentos (agasalhos ou pequenos aquecedores). À entrada da feira estão presentes a Associação Luso Ucraniana, que recolherá todas as doações. A Torrestir, uma empresa transportadora, ofereceu os seus serviços e conduzirá os bens até à Ucrânia.

 
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