Carlos Brandão, agora com 58 anos, é um dos criadores de jardins japoneses mais solicitados em Portugal, e o seu trabalho já começa a ser apreciado além fronteiras, com um clube de artes marciais da Florida, nos Estados Unidos, a entrar para o role de clientes.
- Anúncio -
Natural de Braga, Carlos sempre mostrou fascínio pela cultura japonesa, mas a necessidade de ter um trabalho regular que o pudesse sustentar levou-o para uma carreira, também ela consolidada, como agente comercial dos cafés Sanzala na região de Braga. Mas não era aquilo que Carlos queria. E não foi a idade, há cerca de oito anos, que o travou na intenção de se lançar de cabeça na arte japonesa, fazendo com que hoje seja esse o seu sustento.
Mestre-bonsai
O trabalho de Carlos pode não ser estranho ao grande público. Ficou popularizado por participar regularmente nos programas de entretenimento do Porto Canal como mestre bonsai. Ao lado da então apresentadora Maria Cerqueira Gomes, mostrava ao público como se trata uma árvore-bonsai, um dos principais elementos para um jardim japonês.
Em Cabanelas, no concelho de Vila Verde, mantém guardada uma relíquia – um jardim japonês com centenas de bonsais. Seria para abrir ao público a tempo inteiro, mas ainda não houve essa oportunidade. Habitualmente abre portas durante a feira Agridoce, que decorre naquela freguesia uma vez por ano. Também aceita outras visitas durante o ano, mas a data tem de ser combinada previamente, uma vez que é um espaço privado.
Dos bonsais, Carlos não demorou muito a dominar as técnicas para a criação de um jardim tradicional japonês, com portas zen e espaços do samurai.
Dois anos no Algarve a construir jardim japonês num resort de luxo
O último grande trabalho de Carlos Brandão acabou destacado na dita ‘imprensa cor-de-rosa’, depois de o antigo presidente do Sporting Bruno de Carvalho ter escolhido, em setembro de 2022, o resort Solar do Paço para o seu casamento com a também mediática Liliana Almeida. O jardim, bastante elogiado, foi totalmente construído pelo bracarense.
A O MINHO, o mestre-bonsai explica que aquele foi “o maior projeto” realizado até agora. “Estive lá dois anos. Senti-me um emigrante no próprio pais”, brinca.
O jardim, que conserva algumas das árvores centenárias originais, estende-se por mais de 6000m2.
De acordo com o Solar do Paço, pretende-se que o espaço seja “espiritual”, destacando elementos na paisagem, como o caso da água que “simboliza o ciclo da vida”, ou as pedras, que “simbolizam resistência”. As pontes representam uma “transição do mortal para o sagrado”, sendo que “cada planta e cada flor também tem a sua individualidade”.
A ideia é ter um “sentimento de serenidade, paz e majestosidade”, descreve a quinta.
Está a construir um em Amares e prepara outra para um hotel de 5 estrelas no Algarve
Desde que começou a construir este tipo de jardins, Carlos nunca mais parou. “Agora vou no quarto, em Amares. Já tinha feito dois em Vila Verde e agora pretendo ficar um pouco aqui perto de casa, porque foram dois anos longe e também foi tempo que não me pude dedicar ao jardim de Cabanelas”, sublinhou.
Mas os convites sucedem-se e já há outra quinta no Algarve a requisitar os seus serviços. “Tenho convites do Algarve e do norte de Espanha, mas, como referi, não queria muito ‘fugir’ daqui, tenho aqui muito trabalho, estou a fazer um projeto em Amares, e também sei que vou ter um projeto de um hotel de cinco estrelas no Algarve, mas é depois.
Jardim na Florida (EUA)
Bastante ativo na divulgação do seu trabalho através das redes sociais, uma vez que como criou este negócio de uma forma quase pessoal, nunca investiu sequer um cêntimo em publicidade, as frases em caracteres japoneses acompanhados das imagens dos trabalhos que realiza acabaram por cativar um clube de artes marciais japonês sediado na Florida.
“A proposta surgiu depois de terem visto o meu trabalho num grupo internacional de Facebook. Contactaram-me e explicaram que tiveram a tentação de fazer o jardim sozinhos, mas como não tinham conhecimentos, ficaram com um jardim desengonçado. Redesenhei tudo, basicamente só sobrou o caminho do meio. E agora estão a reproduzir o meu projeto”, contextualizou.
Carlos acrescenta que o grupo de artes marciais tinha comprado uma série de elementos, como pias, esculturas japonesas, alguns adornos próprios para um jardim japonês, mas não sabiam como colocar.
“E a minha facilidade é pegar naquilo e dar-lhe sentido e história, para que fique um jardim japonês credível. É preciso dar um sentido, uma estética, saber o que cada elemento representa, e no final que seja credível perante alguém que realmente saiba o que deve ser um jardim japonês”, indicou.
Um dos exemplos é o lago de areia: “É preciso criar um local onde nasça a água, pensar todo o simbolismo do percurso da mesma, colocar as pontes em locais credíveis, de forma a que tudo possa ser explicado e contado. É que o jardim pode ser o mais lindo, mas se não mostra a história e o que significa, então não é um jardim japonês”.
Escola de bonsais
Em Cabanelas, Vila Verde, Carlos mantém aulas de como tratar árvores-bonsai. “A escola continua a funcionar, tenho dado as aulas de bonsai e até estamos a pensar fazer uma grande exposição em Braga no próximo ano, mas ainda vamos falar com a Câmara de Braga a ver se arranja um espaço, lá para meio do próximo ano. Será um grande evento”, revelou a O MINHO.
Sobre o jardim de Cabanelas, “está pronto”, mas não é visitável para o público em geral por “falta de tempo”. “Mas tenho feito lá eventos, ainda no outro dia foi lá uma entidade japonesa, fizemos cerimónias de chá, meditação, e falámos sobre o Japão”, concluiu.
Mudar de vida aos 50 anos?
Sobre ter deixado de ser ‘comercial’ de café aos 50 anos e passar a fazer o que realmente gostava, Carlos Brandão resume-se a uma simples frase: “Foi a melhor coisa que fiz”.