O antigo piloto de automóveis Rui Lages vai indemnizar, com dois mil euros, o jovem ciclista que perseguiu ao volante, na cidade de Braga, de forma a pagar as despesas hospitalares e da reparação da bicicleta.
Aguardará até junho pela leitura da sentença da acusação de tentativa de ofensas corporais agravadas, por em 21 de outubro de 2019, e conforme noticiou O MINHO em primeira mão, na sequência de um desentendimento de trânsito ocorrido no centro da cidade de Braga, ter ido atrás da vítima e subido com o carro para o passeio, passando duas vezes por cima do velocípede.
Rui Lages, no final do julgamento, afirmou à juíza “estar arrependido”, justificando que “na altura” estava “de cabeça perdida”, depois das principais testemunhas terem confirmado a acusação do Ministério Público, que pede a sua condenação.
Já o seu advogado, Fernando Barbosa e Silva, solicitou a absolvição, retomando as palavras do cliente, de que a ira seria contra a bicicleta e nunca contra o ciclista, que tinha caído na fuga ao automóvel, na Rua Beato Miguel de Carvalho, perto da Escola Secundária de Carlos Amarante.
Ricardo Neves, à data com 25 anos, que desempenha o trabalho de estafeta em bicicleta, vinha de entregar medicamentos quando, ao entrar na Rua 25 de Abril, vindo da zona da Escola EB1 de São Lázaro em direção ao cruzamento com a Avenida 31 de Janeiro, mesmo seguindo o mais à direita possível na via, conforme determina o Código da Estrada, sentiu-se “apertado” por um automobilista, chamando-o depois à atenção no semáforo seguinte, dizendo que além de o “rasar”, iria a alta velocidade e a falar ao telemóvel.
Rui Lages não terá gostado de ser advertido, perguntando-lhe ao jovem ciclista se este era polícia, ameaçando com um “nem sabes quem te estás a meter”, travando-se então uma acesa troca de palavras.
Nessa altura, o famoso piloto, saindo do carro, terá tentado alcançar o jovem, conhecido pacifista de Braga, que temendo pela integridade física, atirou com a bicicleta em direção ao antigo vereador do PSD na Câmara Municipal de Braga, tendo o velocípede “servido de escudo”, segundo afirmou, esta terça-feira, durante o julgamento, Ricardo Neves, que devido ao acordo realizado ainda antes da audiência ter o seu começo, passou de arguido a testemunha, na sequência da intervenção da sua advogada, Páquita Pamela Sá, em diálogo com o defensor de Rui Lages.
A versão da vítima, Ricardo Marques Neves, agora com 28 anos, foi considerada “rigorosa, clara e serena”, pela magistrada do Ministério Público, tal como os depoimentos de duas senhoras que ouvindo o jovem em aflição a gritar por “socorro” foram logo no seu encalço.
Uma das mulheres disse no Tribunal Criminal de Braga que “se o moço não tivesse saltado da bicicleta o carro apanhava-lhe a perna”, acabando o jovem por então se estatelar no chão, mas fora da mira de Rui Lages, que “num momento de raiva”, segundo uma das duas testemunhas, “passou com o carro duas vezes por cima da bicicleta”, ficando o velocípede logo inutilizado.
A partir daí, disse a outra testemunha, “o condutor disse várias vezes que era o Rui Lages e foi-se embora”, enquanto a vítima foi socorrida por transeuntes e estabilizada no local pelos Bombeiros Sapadores de Braga, que o transportaram para o Serviço de Urgência do Hospital de Braga, sendo tratada.
A ocorrência foi depois registada pela Esquadra de Trânsito do Comando Distrital de Braga da PSP, “uma situação muito desagradável de assistir”, ainda de acordo com o depoimento de uma das testemunhas.