O edifício da antiga Saboaria e Perfumaria Confiança, em Braga, foi classificado como monumento de interesse público, segundo portaria hoje publicada em Diário da República (DR).
O pedido de classificação partiu da Direção-Geral do Património Cultural (DGPC) e foi deferido pela secretária de Estado Adjunta e do Património Cultural, Ângela Carvalho Ferreira.
O despacho sublinha que o edifício está dotado de uma “impressiva frente urbana, bem representativa da arquitetura industrial oitocentista, que em muito contribuiu para a definição urbanística do eixo viário principal e de toda a envolvente, onde se concentravam outrora diversas unidades fabris”.
“Este autêntico parque industrial, integrando uma série de pavilhões e logradouros, incluindo espaços sociais, foi sendo progressivamente abandonado, à medida que a laboração da Confiança passava para infraestruturas mais modernas, num movimento que decorria a par do desaparecimento do tecido industrial tardo-oitocentista de Braga”, acrescenta.
Sublinha que o edifício da Fábrica da Saboaria e Perfumaria Confiança, bem como o espólio que ainda se conserva, do qual faz parte um “importante” arquivo, “representa, assim, o último testemunho bracarense de um património do qual existem cada vez menos vestígios”.
“Porém, a sua dimensão histórica e social não se esgota na história da industrialização da cidade, e nem sequer no período oitocentista, mas respeita a todo o Norte de Portugal, e a uma cronologia que se alarga, provavelmente, a épocas bem mais remotas, havendo razões para acreditar que no local ainda se conserva parte da Via Romana XVII, que ligava Braga a Astorga”, lê-se ainda na publicação.
A fábrica Confiança foi inaugurada em 1921, tendo produzido perfumes e sabonetes até 2005.
Em 2012, foi adquirida pela câmara, então presidida pelo socialista Mesquita Machado, por 3,6 milhões de euros.
Chegou a ser aberto um concurso de ideias para o edifício, mas entretanto em 2013 a câmara mudou de mãos e em setembro de 2018 a nova maioria PSD/CDS-PP/PPM votou pela venda, alegando que, por falta de fundos disponíveis para a reabilitação, o edifício se apresenta em “estado de degradação visível e progressiva”.
A alienação foi, desde sempre, contestada pela Plataforma Salvar a Fábrica Confiança e pelos partidos da oposição, que defendem que o edifício, face ao seu valor histórico e arquitetónico, deveria continuar na esfera pública e ser requalificado e transformado num espaço cultural.
A plataforma já interpôs três providências cautelares para tentar travar a alienação do imóvel, mas o tribunal não lhe deu razão.
A câmara, por sua vez, já promoveu duas hastas públicas para tentar alienar o imóvel, pelo preço base de 3,6 milhões de euros, mas não apareceu nenhum interessado.
Por isso, a Câmara admite a hipótese de disponibilização do edifício para ali ser construída uma residência universitária pública, com cerca de 300 camas.
No entanto, e como hoje disse o presidente da Câmara, tem havido “muito imobilismo” do Governo em relação a novas residências universitárias, com a aposta centrada em acordos com estabelecimentos particulares.
“Continuamos disponíveis [para ceder o imóvel da Confiança]”, referiu Ricardo Rio, considerando que o projeto é bom tanto para o Estado como para um promotor privado.