O Hospital de Braga acompanha, em média, cerca de 250 novos casos de cancro da mama por ano, um aumento em relação a 2016, quando o número se situava nos 150. Desses casos, esmagadora maioria são mulheres com idades antes dos 50 e depois dos 69. Mas isso tem um motivo.
Contactada por O MINHO a propósito do Dia Mundial do Cancro da Mama, que se assinala esta quarta-feira, Maria José Rocha, assistente graduada de ginecologia e obstetrícia no Hospital de Braga e pós-graduada em Senologia, explica que as mulheres com idades entre os 50 e os 69 são rastreadas muitas vezes em unidades móveis através de campanhas da Liga Portuguesa Contra o Cancro (Liga), que as convoca, e depois orientadas para o Instituto Português de Oncologia (IPO), no Porto.
“Só algumas doentes que pedem para vir para Braga é que são tratadas aqui”, elucida a investigadora.
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Em relação ao programa do rastreio do cancro da mama, a nível da região Norte, este consiste numa convocatória voluntária para uma mamografia. As mulheres que aceitam, vão fazê-lo orientadas pelo IPO. As que se recusam são depois orientadas pela Liga.
“As doentes que nós vemos, cerca de 250 novos casos por ano, são doentes maioritariamente fora destas idades, ou seja, antes dos 50 anos, e depois dos 69, porque são doentes não convocadas pela Liga mas que fazem exames com os médicos ou notam alteração na mama e recorrem depois disso ao hospital”, esclarece.
Maria José Rocha está a tentar, embora saliente que este ano ainda não foi possível, fazer com que o rastreio seja orientado no Hospital de Braga, e almeja o ano de 2023 para isso. Atualmente, os rastreios são feitos em carrinhas móveis enviadas a Braga pela Liga, com aferição do IPO.
Após o rastreio, explica, identifica-se um grupo de doentes que devem ser avaliados, por alguma forma terem demonstrado eventuais sinais da doença. Essa avaliação passa por algumas ecografias, sem ser necessário biópsia. Depois, há um crivo por entre os doentes que terão mesmo de ser orientados para biópsia, por a suspeita ser grande.
Maria José Rocha salienta que nos casos de cancro precoce da mama, “a taxa de sucesso hoje em dia de tratamento chega aos 98%, isto em em formas iniciais do cancro da mama”.
“Felizmente, o sucesso no tratamento é na ordem dos 95 e 98%”, precisa.
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Prevenir ou detetar a tempo
Ao nosso jornal, Maria José Rocha deixou um apelo em forma de conselhos que podem ser simples, mas nem sempre lembrados, de forma a detetar a tempo um cancro na mama ou até preveni-lo: “Estar alerta, falar com os médicos quando notem alguma alteração mamária e participar no rastreio organizado da Liga ou no rastreio com o seu médico”.
Em termos de prevenção, e para além do óbvio rastreio, Maria José Rocha desaconselha o uso de bebidas alcoólicas e de hábitos tabágicos, promovendo a prática de exercício físico regular e de peso adequado, até porque “a gordurinha não é nada boa”.
A médica explica que a “gordurinha” deve ser evitada pois é lá onde se cria estrogénio, ou seja, hormónios relacionados com o controle da ovulação e com o desenvolvimento de caraterísticas da mulher.
Incentivar à amamentação é outro dos propósitos dos médicos para ajudar as prevenir o surgimento de cancro na mama.
Iniciativas Outubro Rosa
À semelhança de outros anos e de quase todas as unidades de saúde do país, o Hospital de Braga assinala o mês “Outubro Rosa” com diferentes iniciativas, incluíndo uma sessão com uma jurista da Liga e uma assistente social onde se falou dos direitos de trabalho dos doentes com cancro e do apoio que a Liga pode dar aos doentes.
Uma sessão de automaquilhagem e um workshop com turbantes de Ana Sousa, a realizar no dia 26, são outras das iniciativas.
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Minho e Galiza são ‘clusters’ de baixo risco quando comparados com o resto da Península Ibérica
Em fevereiro deste ano, O MINHO divulgou os resultados do primeiro mapa ibérico do cancro, onde é possível verificar a incidência de cancro por região, num estudo realizado pelo Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA) e pelo Instituto de Saúde Carlos III, de Espanha, onde foram analisadas 840 mil mortes provocadas por dez tipos diferentes de cancro ocorridos entre 2003 e 2012.
De acordo com o mapa apresentado pelos dois organismos estatais ibéricos de saúde, a incidência em Portugal tem aumentado desde 2001, quando eram registados 4.574. Em 2010 eram 6.541, mostrando uma tendência de maior estabilidade na última década, em relação aos dados de 2018 que mostram que o cancro da mama era o mais diagnosticado em Portugal por entre as mulheres (6,974 novos casos por ano) e o segundo responsável por mais mortes (1.748). Entre os anos de 2003 e 2012, morreram em Portugal 15.736 mulheres e em Espanha 60.483, por cancro da mama, significando 6,2% de todas as mortes por cancro na Península Ibérica.
O mapa analisa ainda as regiões de maior risco, apontando “clusters” onde a prevalência do cancro da mama parece ser de risco, com alta taxa de mortalidade. Esses ‘clusters’, ou aglomerados, tendem a permanecer a sudoeste da Península, cobrindo grande parte da região de Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo e Algarve. Em Espanha, a prevalência fica nas comunidades vizinhas de Extremadura e Andaluzia, mas também em Valência, Astúrias e Catalunha.
No sentido oposto, o mapa analisado conclui que a região Norte de Portugal e a Galiza são os locais da Península onde existe menor índice de risco em relação ao cancro da mama e onde a mortalidade é mais reduzida.
De acordo com o estudo, existem vários factores de risco estabelecidos que levam ao cancro da mama, como já deu conta Maria José Rocha. A dupla de organismos ibéricos aponta, também, a idade da menopausa, idade do primeiro filho, terapias hormonais para a menopausa ou contracetivos hormonais.
Amamentação e exercício físico são outras das recomendações do estudo, salientando, no entanto, que este tipo de cancro parece apontar mais para os riscos genéticos do que comportamentais.