Javier González Pareja, CEO da Bosch em Portugal, revelou que a empresa informou o Ministério Público (MP) das alegadas “irregularidades” que levaram ao afastamento, no final de julho do ano passado, de Carlos Ribas, responsável da fábrica em Braga, e outros quatro gestores.
Em entrevista ao jornal Eco, Javier González Pareja, que já antes liderava a Bosch a nível ibérico, afirmou: “Nós, Bosch, informamos o Ministério Público e agora o tema está sob segredo de justiça. (…) Podemos dizer que fomos nós próprios, após as nossas pesquisas internas, que informamos o MP. (…) Provavelmente houve irregularidades e é por isso que pedimos para ser investigado por parte também do Ministério Público”.
Escusando-se a dar detalhes sobre o processo, o CEO da Bosch acrescenta que “alguns antigos colaboradores estão em tribunal contra a Bosch”, mas, para a multinacional alemã, “os princípios são cumprir 100% com as regras de compliance“.
“É fundamental. E consideramos que isso não foi [cumprido], especialmente na área dos projetos de inovação. E foi isso que aconteceu”, salienta.
Falhas nas candidaturas a fundos europeus terão ditado afastamento
Como O MINHO noticiou, Carlos Ribas foi despedido devido a alegadas falhas graves na elaboração e execução de candidaturas a fundos europeus.
Em causa estaria o projeto de inovação THEIA (Automated Perception Driving), desenvolvido em parceria com a Universidade do Porto, para criar soluções que melhoram as capacidades sensoriais de veículos autónomos.
Como adiantou na altura o Jornal de Negócios, o projeto arrancou em julho de 2020 e contou com apoios públicos de cerca de 17 milhões de euros, num investimento total de 28 milhões.
O problema estaria no facto de 55 contratados para este projeto, cujos salários eram parcialmente suportados com fundos públicos, terem estado a trabalhar noutros projetos.
Carlos Ribas foi informado da questão, enviou a documentação da denúncia para o ‘compliance’ da Bosch (para apurar se as normas da empresa tinham sido cumpridas) e foi aberto um processo de investigação.
Após recebida luz verde do mesmo, foi submetido o pedido de pagamento final.
No entanto, a investigação interna da própria multinacional ao projeto acabou por ditar o afastamento dos cinco responsáveis portugueses.
Quatro deles interpuseram ações de impugnação em tribunal contra a Bosch e exigem ser indemnizados.
“Bosch continua a investir em Braga”
Na entrevista hoje publicada pelo jornal Eco, Javier González Pareja salienta que “a Bosch continua a investir em Braga e no resto de Portugal”.
“Para ver a importância [para o grupo], Braga representa mais de 60% da atividade em Portugal, é a maior fábrica do grupo Bosch na Península Ibérica. O volume de produção de Braga é similar ao volume de vendas do Grupo Bosch em toda a América Latina”, ilustra.
E acrescenta: “Os meus colegas gostam muito, com orgulho, de dizer ‘de Braga para o mundo’, mas é mesmo. Quando falamos de condução autónoma, estamos a pensar num carro que não tem volante. Isso é o nível 5. Mas até lá há muitos sistemas de ajuda à condução. A condução precisa de câmaras, precisa de radares e precisa de sensores. Os cockpits vemos que cada vez são maiores. Já temos — claro que obviamente não falamos de projetos concretos dos nossos clientes, porque podem ainda não estar no mercado –, cockpits que abrangem todo o carro. Quando diz: ‘isto não é um carro, é um cinema’, uma das grandes vantagens da condução autónoma é que não só a segurança, mas também que a gente que não tem de conduzir pode fazer outras coisas”.
Segundo o responsável, “Braga está a trabalhar nesses sensores, câmaras e radares” e vai continuar a construir e a aumentar superfície da fábrica: “Temos lá mais de 500 engenheiros de desenvolvimento que estão a trabalhar nas áreas dos radares e estamos muito orgulhosos”.