Bordalo II cria escultura de lixo inspirada na Coca, dragão imaginário de Monção

Obra inaugurada nas comemorações do 25 de Abril

Uma escultura feita de lixo com oito metros de altura e quatro de largura, da autoria do artista plástico Bordalo II e inspirada na Coca, dragão imaginário de Monção, é inaugurada sábado na abertura de um museu local.

“Agarrei numa personagem que não existe para alertar para uma realidade que existe. A necessidade de preservação da natureza”, afirmou hoje à agência Lusa Bordalo II.

A obra “colorida” é feita de “plástico de alta densidade, partes de ecopontos, partes de para-choques de carros”, entre outro tipo de “lixo, desperdício, e resíduos que causa contaminação e poluição”.

A escultura vai ser inaugurada, no sábado, às 11:00, na abertura do Museu Monção & Memórias, iniciativa que integra o programa comemorativo do 25 de abril naquele concelho.

O artista, a convite da autarquia, inspirou-se no tradicional “combate” entre São Jorge e o “dragão” Coca. Nesta luta, o “bem” é personificado por São Jorge, um cavaleiro da terra montado num cavalo branco, sendo o “mal” representado pelo dragão, uma estrutura empurrada por cerca de meia dúzia de funcionários da autarquia.

Pintado de verde e com fumo a sair pelas orelhas, o dragão tem a cabeça móvel e “goelas bem abertas”, fazendo uma figura que por vezes assusta o cavalo e torna a vida difícil ao cavaleiro.

O “bem” só é declarado vencedor se conseguir desferir golpes certeiros na língua e nas orelhas do dragão, mas por vezes o combate dura poucos minutos, dificultado precisamente pelo medo do cavalo.

A população de Monção torce sempre pela vitória de São Jorge, por representar, reza a tradição, boas sementeiras e boas colheitas.

“A minha ideia foi alterar conceito original da história da Coca, que é um bicho mau e que as pessoas tiveram de matar e refletir isso no nosso presente em que a situação é ao contrário. Se calhar é mais o bicho homem que faz as coisas más de não matar tudo o que mexe”, afirmou o artista plástico.

Bordalo II decidiu “pegar num dos símbolos de Monção” e, “através do lixo sensibilizar para a necessidade da sustentabilidade ambiental”.

Além daquela obra, as comemorações do 25 de abril incluem, também no sábado, às 10:00 uma visita à escultura “Bruma”, de Ana Almeida Pinto, instalada junto à antiga ponte do comboio de Monção.

Ana Almeida Pinto. Foto: Divulgação

Em nota hoje enviada à imprensa, a autarquia adianta que a obra artística “reflete o saudosismo e a memória da presença do comboio em Monção, cuja linha férrea foi desativada no primeiro dia de 1989”.

Já o Museu Monção & Memórias, que abre no sábado está integrado na requalificação da rua da Independência, que passou a ter apenas utilização pedonal, num investimento global de 415 mil euros.

O Museu Monção & Memórias “resulta da recuperação do edifício Souto D`El Rei, imóvel datado do século XVII, com brasão/escudo português esquartelado (Pereira, Sousa, Lobato e Castro)”.

A operação urbanística desenvolvida no imóvel secular, em pleno centro histórico da vila, “teve como objetivo a recuperação integral do imóvel, renovando a sua imagem a adaptando-o para receber um novo equipamento cultural, albergando as memórias da gente e do território”.

No domingo, no cineteatro João Verde, decorrerá a sessão solene do 25 de abril cuja cerimónia inclui a entrega de títulos honoríficos a pessoas e instituições locais.

 
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