O chefe de gabinete do bispo de Viana do Castelo afirmou esta quarta-feira em tribunal que o ‘blogger’ acusado de difamação agravada e de devassa da vida privada “ameaçou destruir” a credibilidade da Diocese local e da de Braga.
“A ameaça foi real. Ele disse que tinha matéria para destruir a fama da diocese de Viana do Castelo e até a de Braga”, acusou o padre Vasco Gonçalves, ouvido na segunda sessão do julgamento de um homem de 25, promotor imobiliário e antigo seminarista, natural de Barcelos, acusado de sete crimes de difamação agravada e oito de devassa da vida privada do bispo, de padres e de uma funcionária da diocese de Viana do Castelo.
Segundo o advogado daquela diocese, o tribunal dispensou a presença do bispo da Diocese de Viana, Anacleto Oliveira, por “razões de saúde”. O próprio arguido esteve ausente por se encontrar atualmente a trabalhar no Canadá.
Neste processo, está em causa um blogue criado pelo antigo seminarista em abril de 2012 com o título “Os podres da diocese de Viana do Castelo” e o subtítulo “Burlas, prostituição, homossexualidade, casamentos destruídos, injustiças, entre muitos outros caos ocorridos na diocese de Viana do Castelo”.
O blogue teria surgido em alegada retaliação por um suposto débito de um padre ao arguido.
Naquele espaço na Internet, e durante meses, o arguido descreveu atuações que na sua essência configurariam práticas menos condicentes com a postura do clero, publicando “fotografias e dados pessoais, profissionais e até de familiares” dos visados.
“Senti que os sacerdotes visados estavam de rastos. Viveram momentos difíceis, no limiar da depressão”, sustentou o padre Vasco Gonçalves, no seu testemunho perante o tribunal de Viana do Castelo.
Vasco Gonçalves, que é também pároco em Monserrate, uma das principais paróquias de Viana do Castelo, adiantou que arguido “enviou um dossiê, por ‘e-mail’, a todos os bispos de Portugal, sacerdotes e instituições”, com alusões a “alguns dos escândalos e afirmações” que constavam do referido blogue.
“Eu era apresentado como o porta-voz da posição do senhor bispo. Sinto-me visado porque fui usado, e o meu cargo, para dizer coisas que nunca disse”, enfatizou.
O padre Vasco Gonçalves afirmou ter conhecido pessoalmente o arguido em meados de 2011 quando este se dirigiu ao Centro Pastoral Paulo VI, residência oficial do bispo, com o intuito de falar com o prelado Anacleto Oliveira.
O pedido de audiência com o bispo prender-se-ia com um “ajuste de contas” tendo-se o arguido queixado de “estar a ser a lesado”, por um outro sacerdote, a quem teria emprestado dinheiro, sem ser ressarcido.
Sobre o impacto das publicações divulgadas no ‘blogue’, Vasco Gonçalves afirmou que, a nível pessoal, “pôs em causa a sua honra” e que “dentro da Igreja criou-se um ambiente de desconfiança”.
Adiantou que a Diocese foi “muito maltratada”, e que um dos padres, na altura em fase de ordenação, foi “queimado na praça pública”.
Vasco Gonçalves referia-se a um dos sacerdotes que, de acordo com a acusação, foi mencionado “em casos de homossexualidade entre membros do clero”.
Também ouvido na sessão desta quarta, o pároco de Refoios do Lima, em Ponte de Lima, que se constituiu assistente neste processo, por se sentir lesado, afirmou que “mesmo antes do ‘blogue’, começaram a aparecer ‘e-mails’ enviados para cerca de 305 endereços eletrónicos diferentes, do Vaticano até a bispos e sacerdotes de todo o país”.
“Senti-me ofendido enquanto padre da Diocese”, afirmou, dizendo que toda esta polémica foi “corrosiva” para a diocese onde ministra há 28 anos.
Na sessão de hoje foram também ouvidas cinco testemunhas, sobretudo da paróquia de Vila Nova de Anha, no âmbito de um processo cível, movido pelo pároco local, Alfredo Sousa, visado nas publicações no que diz respeito “à origem do seu património”, e do alegado envolvimento “em orgias na Póvoa de Varzim”.
A continuação do julgamento ficou agendada para 04 de novembro, às 14h00.