Bispos “tudo farão” para “corresponder às melhores práticas” na resposta às vítimas de abusos sexuais

Episcopado português reúne-se na sexta-feira para analisar o relatório

O bispo-auxiliar de Lisboa, Américo Aguiar, afirmou hoje que os bispos “tudo farão” na sexta-feira para “corresponder às melhores práticas” na resposta às vítimas de abusos sexuais pela Igreja Católica portuguesa.

O episcopado português reúne-se na sexta-feira em Fátima para analisar o relatório da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica, que validou 512 dos 564 testemunhos recebidos em dez meses, sendo esperado o anúncio de medidas imediatas por parte da hierarquia católica portuguesa, na sequência dos resultados obtidos pela equipa liderada pelo pedopsiquiatra Pedro Strecht.

Questionado pelos jornalistas em Lisboa sobre medidas, Américo Aguiar disse que os bispos “tudo farão para corresponder às melhores práticas, às melhores metodologias” porque, e citando uma mensagem-vídeo de hoje do Papa Francisco, “não basta pedir perdão” às vítimas de abusos por membros da Igreja.

“A data de amanhã [sexta-feira] tem de ser particularmente histórica e importante para aquilo que significa a implementação da tolerância zero e da transparência total”, acentuou o também coordenador-geral da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) Lisboa 2023, após a assinatura de um protocolo de cooperação com a Associação de Apoio à Vítima (APAV).

Numa carta, cujo envio na quarta-feira ao episcopado foi hoje revelada pelo jornal digital 7Margens, centenas de católicos pedem medidas a curto prazo face aos casos de abuso sexual na Igreja Católica portuguesa, entre as quais que os bispos “encobridores” dos casos, a existirem, se retirem de funções.

Sem responder à carta, o bispo-auxiliar de Lisboa referiu aos jornalistas que a Igreja procurará “corresponder àquilo que é essencial, à dor recente ou passada”.

Segundo Américo Aguiar, a Igreja Católica terá, ainda, de “criar as condições possíveis e necessárias” para que as vítimas possam relatar os abusos e depois “agir em conformidade”.

“Não fomos capazes de criar todas as condições de conforto, segurança e confiança para que alguém venha pessoalmente abrir um episódio profundamente doloroso da sua vida”, assumiu.

A Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica validou 512 dos 564 testemunhos recebidos, apontando, por extrapolação, para um número mínimo de vítimas da ordem das 4.815.

Vinte e cinco casos foram reportados ao Ministério Público, que deram origem à abertura de 15 inquéritos, dos quais nove foram já arquivados, permanecendo seis em investigação.

Estes testemunhos referem-se a casos ocorridos entre 1950 e 2022, período abrangido pelo trabalho da comissão.

 
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