Helena Roriz, bióloga vianense, formada pela Universidade do Minho e em Ecologia, Biodiversidade e Gestão de Ecossistemas, pela Universidade de Aveiro desenvolveu um ousado projeto junto ao seu parceiro e namorado Juan Gerardi, argentino, fotógrafo e defensor acérrimo deste tipo de causa.
O MINHO conversou com a bióloga para saber mais sobre esse projeto arrojado. Confira abaixo entrevista com Helena Roriz.
Como surgiu a ideia desse projeto?
Há um ano mais ou menos, eu vi um vídeo de um casal alemão, que deixou casa e trabalho em Berlim, compraram um autocarro escolar online, e foram para os Estados Unidos convertê-lo num loft sobre rodas, com a ideia de fazer uma viagem do Alasca até à Argentina.
A ideia fascinou-me desde o primeiro momento. Desde a viagem, ao estilo de vida, passando por todas as fases da conversão do autocarro na sua casa. Comecei a ver, quase obcessivamente, vídeos de outras pessoas que fizeram o mesmo, no YouTube. E o sonho foi crescendo. O meu namorado foi acompanhando e envolvendo-se nesse sonho que passou a ser dele também. E decidimos que íamos comprar um autocarro escolar para nós e iniciar uma vida nómada. No entanto, queríamos que este projeto fosse mais do que um sonho pessoal. E desde o começo os dois dissemos que se chegássemos a ter visibilidade e seguidores no Facebook, YouTube, queríamos usar isso para organizar eventos que tivessem um impacto social ou ambiental importante e pelos quais as pessoas podiam se interessar e querer participar. Pensamos em distribuição de comida em abrigos, limpeza de praias… pensamos em falar com os grandes supermercados ao fim do dia e ver que têm produtos que estejam perto do final do prazo de validade ou em condições não ideais para venda e poder usar esses produtos para fazer, por exemplo, um “sopão” e distribuir em bairros carenciados…
Por outro lado, queríamos fazer um projecto ecológico e amigo do ambiente. A ideia é instalar painéis solares e uma turbina eólica e usar o máximo de energia renovável possível. Seguindo o mesmo raciocínio, decidimos que queríamos plantar uma árvore por cada país visitado, para compensar a nossa emissão de dióxido carbono, uma das causas principais do aquecimento global. Basicamente, queremos ter um autocarro “verde” e daí surgiu o nome “Yellow Goes Green”.
Que tipos de trabalho voluntário vocês querem fazer?
Essa é a parte que ainda não temos 100% organizada porque é um projecto que está em andamento e no momento estamos a concentrar as nossas energias no trabalho braçal da conversão do autocarro. Quando terminemos esta fase, vamos traçar o nosso roteiro com calma e será nessa altura que vamos contactar associações locais e ONGs para saber a quem podemos ajudar e em que trabalhos específicos podemos voluntariar-nos.
Vocês pretendem trazer o autocarro para Europa?
No momento, a ideia é enviá-lo dos Estados Unidos e viajar pela América do Sul. O nosso projeto inicial vai ter lugar lá. No entanto, nós dois temos raízes na Europa, pelo que muito possivelmente, chegaremos a enviá-lo para Portugal. Não está fora de cogitação e chegamos a pensar bastante nessa opção, como destino final do Green Bus.
Como a sua formação académica ajuda nesse projeto?
Posso dizer que, como Bióloga e Ecóloga entendo o impacto que têm certos estilos de vida e o importante que é dar o nosso contributo com pequenos gestos para ajudar o ambiente e impedir que se deteriore mais a cada dia. Daí a ideia de plantar árvores e de construir um veículo “off-grid”, independente da rede elétrica e capaz de se autossustentar energeticamente.
Como vai funcionar o autocarro?
Primeiramente, vai funcionar a diesel. A ideia fundamental deste projeto é ser capaz de o transformar num veículo híbrido, capaz de se mover a energia elétrica. No entanto este processo é muito dispendioso. E para tal, precisaríamos de um patrocinador forte; o nosso orçamento, por si só, não nos permitiria chegar a essa fase por nós mesmos. Quanto ao resto, pensamos montar 4-6 painéis solares no teto que, junto com um kit de baterias e um inversor (que converte a energia das baterias em 110 ou 220v), permitiriam carregar os nossos eletrónico do dia a dia.
Para começar, vamos ter um fogão a propano, mas logo que consigamos ter o sistema solar a postos, vamos ter independência de ter um fogão elétrico e não precisar de mais gás. O mesmo se aplica para o esquentador de água.
O frigorífico vai ser de 12 V (AC/DC) e vamos construir uma sanita de compostagem nós mesmos, já que o preço de mercado de uma sanita ronda os 1000 euros. Estudamos bem como fazer uma e acreditamos que vai funcionar, usando materiais simples do dia e muito económicos, tais como um balde comum e um funil de gasolina, serrim e pouco mais.