A Biblioteca Pública de Braga (BPB) apresenta até 26 de junho uma exposição sobre o 50º aniversário do movimento de Maio de 1958,ocupando o átrio com uma centena de obras do seu espólio, objetos icónicos, fotos e painéis de grande formato. A UMinho adiantou hoje que “o destaque vai para os livros editados em Portugal em 1968 e nos anos seguintes, a ênfase que os jornais locais e nacionais da época deram ao assunto e os dossiers temáticos de publicações atuais”.
A iniciativa insere-se no ciclo “Efemérides” e tem entrada livre todos os dias úteis, das 9h00 às 12h30 e das 14h00 às 18h00. A mostra dá a conhecer diversas visões sobre este movimento-chave do século XX, desde as origens, a cronologia dos acontecimentos, as consequências e as influências nos nossos dias. Nesta unidade cultural da UMinho pode ainda ver-se slogans como “É proibido proibir!” e “Sejam realistas, exijam o impossível!”, a iconografia produzida e outras fotos dos «soixante huitards», aludindo à exposição na Biblioteca Nacional de França.
“Este espírito revolucionário abalou o mundo ocidental e transformou mentalidades. É curioso verificar que o que se vivia nas ruas de Paris teve bastante repercussão nas capas da nossa imprensa, inclusive nos jornais bracarenses, apesar de vivermos ‘fechados’ no Estado Novo”, referem os coordenadores da exposição, Elísio Araújo e Rosa Cunha, respetivamente diretor e técnica superior da BPB. Por exemplo, numa primeira página do jornal República, lê-se que França estava “dividida pela discórdia, paralisada por greves economicamente suicidas e sofrendo nova vaga de violência”; e no dia 26 daquele maio, O Séculotitulava “mil feridos em Paris nas manifestações de rua”, com a foto-legenda “Paris já está a arder”.
Palestra e documentário
O hall do Instituto de Letras e Ciências Humanas da UMinho, no campus de Gualtar, em Braga, também acolheu a exposição alusiva “Sous les pavês, la plage!”, com jornais da época, fotos icónicas, cartazes,cartoons, graffiti e obras literárias. A ação enquadrou-se no doutoramento em Modernidades Comparadas: Literaturas, Artes e Culturas, coordenado pela professora Ana Gabriela Macedo. Em paralelo, houve a palestra “Maio de 68 – entre História e Memória”, da doutoranda Célia Novais, e a projeção do documentário “Mourir à trente ans” (1982), de Romain Goupil. “O Maio de 68 foi iniciado por estudantes na França e alastrou à sociedade internacional. Estando nós numa universidade, importa assinalar e preservar esta memória histórica de inquietude juvenil e rebeldia positiva, que marcou gerações de modo indelével e cujos efeitos, a vários níveis, ainda se fazem sentir”, explicou Ana Gabriela Macedo.
O movimento de Maio de 1968 representou uma época onde a renovação dos valores foi acompanhada pela proeminente força de uma cultura jovem. A ampliação dos direitos civis, da liberdade, da utopia e da oposição a guerras vigentes desdobraram uma série de questões lançadas por lutas políticas, por obras filosóficas e pela euforia juvenil. “Sous les pavês, la plage!” (Sob as pedras da calçada, a praia!) é uma frase marcante desse período, quando os estudantes viram que os paralelepípedos das ruas, colocados numa cama de areia, serviam para fazer barricadas e ser arremessados à polícia – seria a imagem da violência revolucionária, num movimento que foi mais ideológico do que violento e que viria a influenciar, entre outras ações, a crise académica de 1969 em Portugal.