O líder parlamentar do BE, Fabian Figueiredo, manifestou-se hoje surpreendido com as declarações do secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, sobre imigração, considerando que o socialista adotou uma “análise que era estranha” aos socialistas.
“Fomos surpreendidos com o facto de o PS querer também um entendimento com o PSD em matéria de política migratória, que é um facto recente, que é o secretário-geral do PS adotar uma análise que era estranha ao PS, que o próprio há umas semanas contrariava, que os seus deputados na Assembleia da República contrariavam”, criticou o líder parlamentar bloquista em declarações à Lusa.
Fabian Figueiredo reagia à entrevista ao Expresso do secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, em que admite que o anterior Governo socialista não fez tudo bem nos últimos anos quanto à imigração e anuncia que irá propor uma solução legislativa para regularizar imigrantes que estão a trabalhar, recusando recuperar a manifestação de interesses.
O líder parlamentar bloquista salientou que estas declarações já foram até alvo de críticas de um ex-líder parlamentar do PS, Eurico Brilhante Dias, e de um ex-ministro da Administração Interna socialista, José Luís Carneiro.
“Nós não desistimos de apresentar propostas e de debater a política migratória com base na realidade do país. A manifestação de interesse nunca promoveu o efeito de chamada. Aliás, é uma ideia completamente errada e um termo que era estranho ao PS”, sublinhou.
Fabian Figueiredo insistiu que “o único efeito de chamada que existe é a economia portuguesa precisar de mão-de-obra”.
“Portanto, o que nós precisamos de debater é como é que nós garantimos canais regulares que possam trazer as pessoas para Portugal, como é que as integramos de forma humana, como é que garantimos o acesso à habitação, aos serviços públicos a toda a gente, como é que nós construímos coletivamente uma sociedade coesa e é nesses termos que nós, à esquerda, quem rejeita a política do ódio, deve colocar este debate”, considerou.
Na entrevista ao semanário Expresso, Pedro Nuno Santos criticou o mecanismo da manifestação de interesse, considerando que teve um “efeito de chamada” de imigrantes, e defendeu “a regulação da imigração de forma eficaz e humanista com o outro lado, da integração”.
Na opinião do líder do PS, o “Estado e o país não se prepararam para a entrada intensa de trabalhadores estrangeiros”, dando como exemplos o SNS, a educação ou a habitação.
“Quando há uma procura intensa que coloca pressão sobre os serviços públicos, isso vai facilitar o discurso divisionista, muitas vezes de ódio, que a extrema-direita usa contra os trabalhadores estrangeiros. Precisamos, de uma vez por todas, de falar sobre a imigração de forma descomplexada, exigente, rigorosa, como infelizmente não se tem feito”, defendeu.
Para Pedro Nuno Santos, quem procura Portugal para viver “tem de perceber que há uma partilha de um modo de vida, uma cultura que deve ser respeitada”.
Numa reação à entrevista do líder socialista, no Campus XXI, em Lisboa, o ministro da Presidência, António Leitão Amaro, saudou hoje “a mudança de opinião” do secretário-geral do PS sobre a política da imigração do Governo, dizendo que Pedro Nuno Santos “dá razão” agora ao primeiro-ministro, que atacava há algumas semanas nesta matéria.
Já depois, Pedro Nuno Santos recusou qualquer contradição nas suas posições sobre imigração e afirmou que não foi ao encontro das do Governo, reiterando que vai apresentar “propostas alternativas à manifestação de interesse para preencher o vazio que o governo deixou”.