O Bloco de Esquerda ainda sonhou ser “a surpresa eleitoral” da noite pela positiva mas acabou por ter o pior resultado desde a sua fundação, em 1999, ficando reduzido a um deputado pela primeira vez.
“Nós, escrevam o que eu vos digo, vamos ser a surpresa da noite eleitoral, não duvidem disso”. A frase é de Fabian Figueiredo, ex-líder parlamentar do BE, numa “festa-comício” organizada pelo partido em Lisboa, ao oitavo dia de campanha para as legislativas deste domingo.
Inspirados no partido “irmão” alemão Die Linke, que “ressuscitou” após uma sequência de maus resultados eleitorais, os bloquistas arriscaram numa estratégia nova que excluiu arruadas, idas a feiras ou mercados e apostaram tudo no contacto direto porta à porta e nas redes sociais. Trouxeram ainda como ‘trunfo’ nas listas os seus três fundadores ainda vivos, mais de uma década depois: Francisco Louçã por Braga, Luís Fazenda por Aveiro e Fernando Rosas por Leiria.
Contudo, a noite eleitoral de domingo viria a revelar-se um verdadeiro pesadelo para os bloquistas, que obtiveram o seu pior resultado de sempre, com menos 154.818 votos face a 2024 e passando de cinco parlamentares para uma deputada única: a líder, Mariana Mortágua, cabeça-de-lista por Lisboa.
O pior resultado de sempre dos bloquistas era, até hoje, o de 1999, ano em que o partido foi fundado e nas quais obteve 131.840 votos, correspondente a 2,46% e dois deputados eleitos por Lisboa: Louçã e Fazenda.
Vinte e seis anos depois, este domingo, o partido obteve 119.211 votos, correspondente a 2%, de acordo com dados da Secretaria-Geral do Ministério da Administração Interna (SGMAI), após contabilizados todos os votos em território nacional.
O BE perdeu representação em distritos como Porto e Setúbal, nos quais elegia em contínuo deste 2002 e 2005, respetivamente, com Marisa Matias, Isabel Pires e Joana Mortágua a deixar o parlamento, além do líder parlamentar, Fabian Figueiredo, que era o número dois por Lisboa.
Nos círculos onde os bloquistas apostaram fichas com os seus fundadores, o BE também ficou longe de eleger e perdeu milhares votos: em Braga, Francisco Louçã obteve 10.029 votos, longe dos 21.388 de 2024; em Aveiro, Luís Fazenda conquistou 7.015 votos, menos do que os 17.358 votos do ano anterior; e Fernando Rosas, em Leiria, obteve 5.099 votos, uma descida comparado aos 11.736 votos do ano anterior.
No rescaldo da noite eleitoral, Mortágua reconheceu que o partido teve “uma grande derrota” mas enquadrou-a num contexto de “viragem à direita na Europa e no mundo”, falando sempre numa perda de toda a esquerda. O mesmo enquadramento foi defendido pelo dirigente do ‘núcleo duro’ Jorge Costa, logo após serem conhecidas as primeiras projeções.
Mortágua rejeitou associar a queda eleitoral à nova estratégia adotada pelo partido durante o roteiro pelo país, falando numa “boa campanha”. À restante esquerda, deixou uma garantia: “O Bloco de Esquerda está aqui”.
“Temos muito trabalho pela frente para construir a esquerda e alargá-la e para enfrentar a extrema-direita e cá estaremos para o futuro”, afirmou.
Longe vão os tempos em que o Bloco tinha uma bancada de 19 deputados na Assembleia da República – conquistada em 2015, ano da ‘geringonça’, mantida em 2019 e perdida em 2022 – e desde que assumiu o cargo, em 2023, Mariana Mortágua já enfrentou cinco atos eleitorais, numa trajetória eleitoral no geral descendente.
Contudo, Mortágua deixou a garantia de que não pretende sair do cargo e anunciou que vai manter a sua candidatura à coordenação do partido.
Caberá aos bloquistas escolher, a 01 e 02 de novembro, o futuro do BE, na XIV Convenção Nacional, já depois das eleições autárquicas.