O Bloco de Esquerda questionou o Ministério da Cultura sobre a plantação de árvores no pano da muralha da fortaleza de Valença feita ao abrigo de um projeto de requalificação do centro histórico da cidade, foi hoje divulgado.
Numa pergunta dirigida à ministra Graça Fonseca, os deputados Alexandra Vieira, Beatriz Gomes Dias e Jorge Costa referem que “moradores e especialistas têm vindo a público denunciar o perigo que representa a plantação de pereiras bravas em cima da muralha”, numa zona designada por adarve da Gaviarra.
“[O perigo é] por duas razões. Uma é que os panos de muralha não têm árvores, nem nunca tiveram, precisamente para garantir a sustentação da muralha que não é maciça. A outra razão é estrutural e tem a ver com as raízes e o porte das árvores. As raízes infiltram-se e causam danos na muralha. O peso do porte das árvores também tem esse efeito negativo”, aponta o documento enviado, na semana passada, ao Ministério da Cultura.
O Bloco de Esquerda acrescenta que, “além destas ameaças, há ainda o “perigo de derrocada que representam árvores de grande porte como é o caso das pereiras bravas”, plantadas na muralha, e que “atingem a altura de 13 metros e as suas raízes são de rápido crescimento”.
“Perante estas evidências, e sensível às questões levantadas, o gabinete de arquitetura coordenado por Eduardo Souto de Moura já mostrou disponibilidade para alterar o projeto. A própria Direção-Geral do Património Cultural também levantou questões quanto à plantação de árvores naquele local, tendo já instado a Câmara de Valença a remover as árvores, há pelo menos um ano. Como se trata de um monumento nacional classificado, se a Câmara de Valença mantiver esta posição, incorre em crime contra o património”, reforçam os deputados do Bloco de Esquerda.
O BE quer saber se o Governo, liderado pelo socialista António Costa, está a acompanhar a situação e o que vai fazer para salvaguardar a fortaleza de Valença, monumento nacional e candidatado a Património da Humanidade da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO, em inglês).
Não há “qualquer perigo”, diz presidente da Câmara
Em declarações à Rádio Vale do Minho, o presidente da Câmara de Valença diz que não há “qualquer perigo”. “Antes das pereiras bravas, existiam lá dois carvalhos de grande porte e nunca puseram a muralha em perigo”, recordou Manuel Lopes.
“As pereiras bravas que estão plantadas fazem parte de um projeto que esteve em discussão pública durante um mês e ninguém levantou esse problema. Só o levantaram agora, depois delas estarem plantadas. As pereiras só crescem se as deixarmos crescer. Aquilo são árvores ornamentais e não de grande porte”, sublinhou.
Manuel Lopes acredita que o problema pode não estar propriamente nas pereiras bravas. “Tenho a impressão de que uma pessoa que tem por ali uma vivenda estará preocupada com as vistas que tem sobre Tui. As pereiras não tiram qualquer vista”, assegurou o autarca.
O monumento assume particular importância pela dimensão, com uma extensão de muralha de 5,5 quilómetros, e pela história, tendo sido, ao longo dos seus cerca de 700 anos, a terceira mais importante de Portugal.
A fortaleza desempenhou um papel preponderante na defesa dos ataques de Espanha e chegou a receber cerca de 3.500 homens, em dois regimentos do Exército. A presença militar só terminou em 1927, com a saída do último batalhão do Exército.