O BE questionou o Governo sobre a existência de protocolo com o Hospital da Misericórdia da Póvoa de Lanhoso, após aquela unidade recusar atender um suspeito de covid-19 encaminhado pela linha Saúde 24, foi hoje divulgado. O provedor da Misericórdia, em declarações a O MINHO, esclarece que a instituição não tem protocolo com o SNS para efetuar testes de despistagem e considera que a denúncia do partido “não faz sentido nenhum”.
Numa questão enviada ao ministério da Saúde, a que a Lusa teve hoje acesso, os eleitos do Bloco de Esquerda pelo distrito de Braga questionam se, caso exista um protocolo entre o Serviço Nacional de Saúde (SNS) e aquele hospital, a recusa em atender aquele doente “configura ou não um incumprimento do mesmo”.
No caso de não existir acordo, o BE quer explicações sobre o encaminhamento da linha de atendimento telefónico SNS24 para aquele hospital.
Segundo o BE, um caso suspeito de covid-19 deslocou-se ao Hospital António Lopes, da Misericórdia da Póvoa de Lanhoso, “por indiciação da Linha SNS24, às 04:30 da madrugada” para despiste da infeção, sendo que “o cidadão terá sido recebido pelo vigilante de serviço no hospital”.
Perante a recusa em o deixarem entrar, o cidadão “questionou sobre o motivo pelo qual não podia entrar no interior do hospital para ser atendido pelo médico de serviço”.
“A resposta foi que, no momento, estava apenas um médico na unidade e não estava presente qualquer enfermeiro para realizar o teste de despiste. Foram, de seguida, e ao contrário das indicações da Linha SNS24, encaminhados para o Hospital de Braga”, descreve o BE.
Segundo aquele partido, “interessa perceber a razão pela qual a Linha SNS24 decidiu encaminhar um caso suspeito de covid-19, de madrugada, para o hospital António Lopes, pertencente à Santa Casa da Misericórdia, e a razão pela qual este hospital se recusou a fazer o atendimento e o teste do caso suspeito, tendo-o reencaminhado para o Hospital de Braga, este sim, um hospital do SNS e de gestão pública”.
“Hospital da Póvoa de Lanhoso nunca poderia fazer teste”
O provedor da Santa Casa da Misericórdia desconhecia, quando questionado por O MINHO, a situação descrita pelo BE, mas considera que, a ter acontecido, da parte do hospital não há qualquer incumprimento. “Se a Saúde 24 fez a referenciação para o Hospital da Póvoa de Lanhoso, fê-lo mal, não o pode fazer, porque não temos protocolo com a ARS-Norte para testes de despistagem de covid”, explica.
“Não temos nenhum protocolo, portanto não o violámos”, realça Humberto Carneiro, acrescentando: “Se, de facto, a pessoa se dirigiu ao Hospital António Lopes, o segurança naturalmente ter-lhe-á dito, e muito bem, que temos médico 24 horas, mas para fazer teste à covid tinha que se deslocar a um hospital do SNS, que, honestamente, duvido muito que, àquela hora da noite, exclusivamente para um teste de covid, o fizesse”.
Humberto Carneiro salienta, portanto, que a denúncia dos deputados bloquistas “não faz sentido nenhum” e recorda que as marcações de teste covid pelo SNS são através de códigos P1 e que o procedimento só pode ser executado por quem tem protocolo com o SNS. “O Hospital da Póvoa de Lanhoso nunca poderia fazer despistagem por indicação da Saúde 24”, realça, esclarecendo que a unidade tem um posto de colheita da Unilabs que, essa sim, tem convenções com o SNS, mas só funciona durante o período diurno.
O provedor salienta, ainda, que o Hospital da Póvoa de Lanhoso tem médico 24 horas, mas àquela hora da madrugada, se encontrava em consulta particular, porque os protocolos da instituição com o SNS, para consulta aberta, são entre as 20:00 e as 24:00 nos dias úteis e entre as 08:00 e as 24:00 nos fins de semana e feriados.
“Até por isso, o SNS 24 não podia referenciar ninguém para o Hospital da Póvoa de Lanhoso, porque a essa hora não havia protocolo possível, não temos protocolo para lá da meia-noite”, conclui.