O Bloco de Esquerda (BE) de Braga defende que o Municipio devia ter um vereador com o pelouro da Cultura, que é gerido pelo presidente, para que o acesso dos agentes culturais a quem decide seja mais fácil. “Ricardo Rio não tem tempo para isso e lidar com os assessores não é a mesma coisa”, disse hoje a O MINHO a dirigente local do partido, Alexandra Vieira.
Confrontado com a crítica, Ricardo Rio diz que “é um disparate” e contrapõe que é, ele mesmo, “quem define a estratégia e valida toda a política de apoios e/ou iniciativas, em articulação com a equipa da cultura. Todos os agentes culturais têm acesso ao presidente e falam comigo quando se justifica. A Alexandra está a confundir isso com as reuniões com eles para definir os planos de atividade anuais que poderiam ser feitos só com a divisão de cultura, mas que contam sempre com a presença da minha chefe de gabinete”.
As críticas do BE surgem na sequência do debate público “Que política cultural para Braga?”, promovido pela Comissão Coordenadora Concelhia do Bloco de Esquerda de Braga e que reuniu vários agentes culturais do concelho, na tarde de sábado.
Os bloquistas defendem uma política cultural de “enraízamento”, ou seja, em vez de projetos financiados do tipo ‘chave na mão’, como está a suceder, seria preferível projetos que criem lastrro na comunidade. “Depois do projeto Braga27 da Capital Europeia da Cultura, a política cultural voltou ao que era”, lamenta Alexandra Vieira.
O Bloco defende, também, a necessidade de se regressar a um sistema de apoio ao teatro amador que vigorou quando havia a Casa da Cultura, ou seja, no tempo da gestão do PS. “Havia técnicos de som e de luz e também de guarda-roupa que apoiavam os pequenos grupos que atuavam nas freguesias”, recorda, frisando que os grupos não têm onde guardar roupas e adereços.
Uma crítica que Rio responde que “a Câmara continua a apoiar com meios técnicos e humanos sempre que pode. Mas há uma diferença entre ter umas dezenas de agentes culturais, como outrora, para algumas centenas com programação regular em todo o concelho, como agora acontece”.
E contra-ataca: “Estar-se-ão a referir à ‘quarta divisão’, como lhe chamou o vereador e homem da cultura, Adolfo Macedo?.” Uma pergunta que se prende com o facto de Adolfo Macedo ter criticado, em reunião de Câmara, o apoio camarário a um novo festival de teatro, o ‘Braga En’cena’, destinado a apoiar os grupos de teatro amador do concelho e a que o vereador independente do PS disse que lhe parecia ser “um festival para uma espécie de quarta divisão”.
As conclusões
No final do encontro sobre o tema, o BE emitiu um comunicado no qual diz: “A visão neoliberal que norteia a ação do atual executivo municipal, no que à cultura diz respeito, valoriza apenas as iniciativas de ‘chave na mão’, projetos culturais que são adquiridos, sem que haja uma perspetiva de articulação efetiva com as organizações culturais, nem de enraizamento ou de continuidade”.
E acrescenta: “Estão sempre obrigadas a solicitar apoios, muitas vezes técnicos, quase sempre insuficientes ou inexistentes. Esta realidade explica que, apesar de uma atividade cultural relevante, ainda que com dificuldades, se verifique a escassez do público, mesmo quando são iniciativas gratuitas ou a custo simbólico”.
E, continuando, sublinha: “Outra dificuldade transversal referida tem a ver com a falta de sedes para as estruturas culturais e que são essenciais ao seu funcionamento. Esta situação ocorre numa cidade onde os centros comerciais de primeira geração estão ao abandono, há espaços culturais encerrados há décadas, como o auditório Gallecia, os poucos que existem precisam de reabilitação, os que foram criados, estão sempre encerrados, como a galeria do fórum Altice, os espaços que poderiam ser reconvertidos, como a Fábrica Confiança, são cedidos e sem contrapartidas, como seria o edifício da Rua do Castelo”.
Fecho do Museu da Imagem
A nota de imprensa refere, ainda, que “outras situações foram relatadas, como o encerramento do Museu da Imagem há quase cinco anos (e qual o estado do seu espólio), o Cinema S. Geraldo, arrendado pela Câmara e à espera das obras, as salas de cinema encerradas, a falta de ligação entre a Universidade do Minho e a cidade, apesar da vontade dos estudantes em querer participar da vida cultural bracarense”.
Para o BE, “esta realidade pouco animadora decorre da perceção falsa de que a cultura não gera rendimento, ou que se resume ao que é visível, seja em cima de um palco ou numa exposição. Decorre também da noção partilhada por todos os presentes que a cultura tem servido mais os interesses políticos, de que são exemplo as “festas e festarolas”, quando, na realidade, é um preceito constitucional, que precisa de apoios, seja financeiros e técnicos, espaços condignos e que é essencial na construção de identidade e de visões do mundo”.