A coordenadora do BE acusou hoje o Governo de ter abandonado “o objetivo de garantir” médico de família para todos os portugueses e defendeu é possível cumprir essa medida “até ao final da legislatura” caso “haja vontade”.
“Dois meses de maioria absoluta e o Governo mal apresenta o seu programa, e pela primeira vez em muitos anos, abandona o objetivo de garantir a todas as pessoas em Portugal acesso a médico de família, deixou de ser um objetivo, afirmou Catarina Martins no encerramento do encontro nacional sobre saúde, organizado hoje pelo partido, que decorreu numa escola em Lisboa.
Na sua opinião, “abandonar o objetivo de cobertura total do território com médicos de família para toda a população é abandonar a ideia de um Serviço Nacional de Saúde [SNS] que esteja em todo o território e que responda a toda a população, e esse é um dos maiores recuos na área da saúde”.
“É possível, haja vontade, até ao final da legislatura, garantir que toda a população tem médico de família e que tem equipa de saúde familiar, porque o SNS está a formar as pessoas suficientes para o fazer. Resta saber se há a decisão política de lhes dar as condições para trabalharem e assim fazer essa garantia de acesso a saúde a toda a população”, defendeu a líder bloquista, garantindo que o seu partido não vai desistir de lutar por esse objetivo.
Na ocasião, Catarina Martins referiu também a proposta de Orçamento do Estado para este ano, cuja discussão na especialidade e votação final global vão decorrer na próxima semana no parlamento, apontando que “o orçamento para a saúde vai crescer abaixo da inflação, o que significa que a saúde, como tudo o resto, vai estar a pagar mais caro mas não tem uma evolução que lhe permita isso”.
E argumentou que “as intenções que a ministra da saúde anuncia como as grandes intenções deste orçamento, nomeadamente sobre profissionais, nenhuma delas existe na proposta de Orçamento do Estado, é uma ficção”.
“Diz a ministra que quer incentivos aos médicos de família, norma legal ou verba na proposta de lei para isto, zero. Diz a ministra que quer contar o tempo de serviço dos enfermeiros, norma legal ou verba para isto no orçamento, zero. Diz a ministra que quer criar a carreira de técnicos auxiliares de saúde, norma para isto ou verba para isto no orçamento, zero”, elencou a líder do BE.
“Dir-me-ão, claro, o orçamento não é sério, é como já vimos hoje aqui já sub-orçamentado. É verdade”, defendeu Catarina Martins, sustentando que “a ministra da saúde, com uma candura que é de registar, afirmou logo no debate orçamental que o orçamento da saúde está sub-orçamentado pelo em menos mil milhões de euros”.
E afirmou que a consequência será “os hospitais, as unidades de saúde vão ter de andar a contratualizar dúvida com as farmacêuticas, com os grandes prestadores, porque não têm dinheiro para chegar até ao fim do ano”, considerando que a “sub-orçamentação do Serviço Nacional de Saúde é um frete que é feito aos grupos económicos privados para poderem cobrar o que quiserem ao SNS, que não tem nenhuma capacidade de negociação”.
Na sua intervenção, Catarina Martins defendeu ainda que “está para inventar outro serviço que não o SNS que possa garantir esse acesso à saúde”, mas criticou que “o grande drama” do tempo atual “é que se deixou de planear saúde”, pelo que o SNS não tem “um projeto de futuro”.