A coordenadora do Bloco de Esquerda (BE), Mariana Mortágua, acusou hoje de mentir quem defende a reindustrialização da economia ou uma transição verde sem o controlo nacional da infraestrutura elétrica.
“Quem disser que nós podemos reindustrializar a economia portuguesa, fazer uma transição ecológica, fazer um planeamento ecológico, prepararmo-nos para o futuro, ter segurança e defesa sem ter o controlo da nossa infraestrutura elétrica está a mentir”, defendeu Mariana Mortágua, em conferência de imprensa, em Lisboa.
Questionada sobre como poderia avançar uma recuperação da REN sem o apoio global da esquerda e quando o líder socialista, Pedro Nuno Santos, afirmou terça-feira que mesmo com a empresa nas mãos do Estado não se teria evitado o apagão elétrico, a bloquista afastou também como origem a “propriedade direta da REN”.
A rede elétrica interfere em múltiplas “funções essenciais e de soberania” e, por isso, não “pode estar nas mãos de um Estado estrangeiro (China)”, declarou Mariana Mortágua, garantindo que o que “toda a gente percebeu é que no dia em que houver uma interferência externa na rede elétrica, Portugal pára”.
O Estado recuperar a rede elétrica é o “nível básico da sensatez”, alegou a dirigente do BE, para quem, “mais tarde ou mais cedo todos os partidos ou, quase todos, a não ser quem tem a visão toldada pelo dogmatismo de mercado, vão chegar a esta conclusão”.
Para Mariana Mortágua, é ainda “absurdo que o país esteja a discutir gastar milhares de milhões de euros em armamento e não poder nacionalizar a sua rede elétrica, a sua infraestrutura elétrica básica”, já que, argumentou ainda, estão em causa nomeadamente conflito de interesses entre as empresas REN e a EDP que operam a vários níveis no setor energético.
“Há muito tempo que o Bloco de Esquerda vem a alertar para os riscos da privatização dos setores estratégicos e para a importância de nós recuperarmos estes setores estratégicos. E essa importância é dupla. Por um lado, manter as infraestruturas que são essenciais aos Estados e, por outro lado, manter em mãos públicas infraestruturas que são essenciais”, resumiu.
O secretário-geral do PS recusou terça-feira que a REN, por ser privada, tenha contribuído para o apagão de segunda-feira, afastando conclusões ideológicas e lembrando que Portugal “tinha capacidade energética” no momento da falha.
Um corte generalizado no abastecimento elétrico afetou na segunda-feira, desde as 11:30, Portugal e Espanha, continuando sem ter explicação por parte das autoridades.
Aeroportos fechados, congestionamento nos transportes e no trânsito nas grandes cidades e falta de combustíveis foram algumas das consequências do “apagão”.
O operador de rede de distribuição de eletricidade E-Redes garantiu hoje de manhã que o serviço está totalmente reposto e normalizado.