O bastonário da Ordem dos Médicos afirmou hoje que há “um grande equívoco” sobre a recusa dos médicos ao trabalho suplementar, sustentando que a partir das 150 horas extraordinárias os clínicos podem declinar.
“Acho que há um grande equívoco sobre esta recusa às horas extraordinárias. (…) Um médico que trabalha 40 horas de base, a partir das 150 horas extraordinárias pode recusar, mas a realidade não é essa, a realidade é que os médicos – muitos deles – estão a recusar a fazer mais de 600, 800, 1.000 [horas]. Chegámos a estar com médicos que já tinham acumulado 1.200 horas extraordinárias em novembro”, indicou Carlos Cortes.
O bastonário falava aos jornalistas após ter recebido o presidente da Iniciativa Liberal, Rui Rocha, para um encontro sobre o estado da saúde em Portugal, num encontro que se insere numa ronda de reuniões com os partidos políticos.
Carlos Cortes adiantou que o problema nas urgências “não nasceu há dois ou três meses” com as recusas dos médicos.
“Quem pensa, nomeadamente o ministro da Saúde, que o problema das urgências é o problema da recusa está completamente equivocado e nunca irá conseguir resolver o problema da urgência. O problema do serviço de urgência já existe há muitos anos e infelizmente é empurrado para a frente de ano para ano e não é resolvido”, referiu.
Aos jornalistas, o bastonário disse ainda que deve haver condições de trabalho no Serviço Nacional de Saúde (SNS), assegurando que a solução não é “colocar mais médicos e profissionais de saúde em exaustão”.
“A solução é criar condições para nós conseguirmos ter mais médicos no SNS, mais médicos não só no serviço de urgência, mas também nos blocos operatórios, nas enfermarias, nas consultas, para poder precisamente evitar que esses doentes tenham que, em último recurso, (…) recorrer ao serviço de urgência”, sublinhou.
De manhã no parlamento, o ministro da Saúde havia refutado a ideia de que os médicos que se recusam a trabalhar além das 150 horas extraordinárias obrigatórias por lei estão a fazer “uma espécie de greve” às urgências, sublinhando que isso “seria gravíssimo”.
Manuel Pizarro reforçou que se recusava “a fazer qualquer ligação” entre negociações sindicais e a decisão individual de cada médico de fazer ou não mais de 150 horas extraordinárias por ano.