O PCP e o Bloco de Esquerda (BE) dizem que o despedimento coletivo de 222 trabalhadores na Gabor, em Barcelos, contrasta com a faturação milionária que empresa tem apresentado nos últimos anos. Os partidos emitiram comunicados, esta quarta-feira, onde manifestam solidariedade para com os trabalhadores e exigem respostas do Governo.
Os dois partidos, nas questões enviadas separadamente Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social e ao Ministério da Economia e da Coesão Territorial, querem saber se a empresa Gabor beneficiou de qualquer apoio no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).
Exigem ainda resposta sobre as medidas já tomadas para defender os direitos dos trabalhadores e os postos de trabalho.
“Trabalhadores não podem ser usados como peças descartáveis”
Os comunistas rejeitam a “invocação de oscilações de mercados” para os despedimentos. “Falamos de uma empresa com resultados económicos globalmente muito positivos, que resultam do esforço e do sacrifício, em primeiro lugar, dos seus trabalhadores. Os trabalhadores não podem ser usados como peças descartáveis, que se despedem para salvaguardar lucros maiores. Falamos de pessoas com famílias e despesas para corresponder”, refere o PCP no documento enviado ao Governo, assinado pelo deputado Alfredo Maia e que O MINHO consultou.
O BE diz que este despedimento coletivo “contrasta” com declarações públicas do CEO da Gabor, que, em 2023, afirmava que a “empresa tinha registado vendas de 322 milhões de euros – menos três milhões do que no ano anterior”.
O PCP lembra que a empresa faturou, no último ano, 67,5 milhões só na unidade de Barcelos.
“Segundo o mesmo responsável, a quebra nas vendas na Alemanha terá sido compensada com o crescimento das exportações e o reforço do canal ‘online’ e das vendas nas lojas próprias”, diz o comunicado da concelhia do BE de Barcelos.
E acrescenta: “O BE quer também saber que medidas serão tomadas, em articulação com a Câmara Municipal de Barcelos, para garantir que os trabalhadores despedidos recebem o apoio necessário e têm acesso a oportunidades de reemprego em tempo útil. O partido apela, ainda, ao Governo para que ative todos os mecanismos de inspeção e proteção existentes, garantindo transparência e responsabilização da empresa”.
Administração justifica-se com crise e redução de encomendas
Como O MINHO noticiou, o gerente da fábrica de Barcelos, Ralf Rasemann, confirmou, no início do mês, o despedimento, justificando-o com o contexto económico de crise e a consequente redução de encomendas.
“Nós trabalhamos direta e exclusivamente para a casa-mãe, na Alemanha, e o problema tem a ver principalmente com o mercado alemão”, referiu.
A empresa vê-se, assim, forçada a reduzir a produção diária e, consequentemente, o número de trabalhadores, “adequando a capacidade instalada da empregadora às necessidades de trabalho atuais”.
Nesse sentido, considera o despedimento em curso “uma medida de gestão adequada, proporcional e racional”.
A delegada sindical disse que a empresa “tem tudo em dia” com os trabalhadores, desde salários a subsídios e prémios de produção.
“Nisso são muito certos”, referiu Maria José Ferreira.
Acrescentou que a empresa, há cerca de dois meses, já tinha dispensado 67 trabalhadores, uns que estavam em fim de contrato e outros por acordo mútuo.
Segundo o Jornal de Notícias, o setor da produção é o mais afetado, com a dispensa de 193 funcionários, mas também encarregados de montagem, pré-montagem, acabamento e costura.
A Gabor está instalada na freguesia de Silveiros, Barcelos, desde 1987 e emprega cerca de um milhar de trabalhadores, sendo a intenção da administração reduzir esse número para 760. A multinacional alemã é um dos maiores fabricantes de calçado do país.
*com Lusa