A mulher que esta semana começará a ser julgada por alegada violência doméstica, no Tribunal de Barcelos, negou a autoria de tal crime e disse ter sido, ela própria, a vítima desse crime, durante cerca de duas décadas consecutivas.
Em reação à notícia publicada quinta-feira por O MINHO, a suspeita, através do seu advogado, João Ferreira Araújo, de Braga, desmentiu as acusações, admitindo que às vezes se envolveu fisicamente com o antigo marido, “mas sempre para se defender”.
Acerca do caso de esfaqueamento na cozinha, alegadamente perpetrado pela esposa contra o marido, o advogado diz que “essa situação não ocorreu como descrita” na acusação do Ministério Público, “mas será no julgamento que tudo será esclarecido, não na praça pública”.
O advogado bracarense informou que, inclusivamente, há uma investigação criminal a decorrer no DIAP de Barcelos em que a sua cliente “descreveu um longo calvário de maus tratos, agressões, insultos e vexames”, atos que imputa ao antigo marido.
João Ferreira Araújo disse “lamentar que este caso tenha vindo a público, já que nem tudo o que é público é publicável, mas a partir do momento em que tentam julgar a minha cliente na praça pública, impõe-se desde já um conjunto de esclarecimentos”.
Segundo o mesmo advogado penalista, “a minha cliente foi vítima, durante cerca de 20 anos, de traições e de violências físicas e verbais, enfim, de toda uma série de humilhações”, presenciadas por pessoas “independentes do casal, que isso testemunham”.
Mulher chocada com traições conjugais
Entretanto, O MINHO confirmou, junto de fontes judiciárias, a existência de uma queixa, apresentada pela mesma mulher contra o antigo marido, homem que no julgamento desta semana surge, por sua vez, como vítima do crime de violência doméstica.
A mulher que, numa primeira fase, afirmando ter “vergonha”, não formalizou qualquer queixa, avançou já com a participação criminal, porque, segundo o seu advogado, “o seu sofrimento foi de tal modo que chegou a tentar suicidar-se e por várias vezes”.
Na queixa criminal, a mulher, de 42 anos, assistente administrativa, refere que depois de três anos de namoro em que nada o faria supor, após duas semanas do casamento, terá sofrido a primeira agressão, por parte do ex-marido, empresário de cerâmica.
Referindo que o marido teria alegadamente um comportamento possessivo e controlador para consigo, postura que terá minado o relacionamento conjugal, durante 20 anos, até ao divórcio, ocasião em que continuaram a viver juntos com os seus três filhos.
Com imagens enviadas ao Ministério Público, onde estarão já documentadas as consequências de agressões que diz terem sido cometidas pelo ex-marido, a mulher refere que as situações pioravam quando ela se recusava a manter relações sexuais com ele.
De acordo com as denúncias e os testemunhos de amigos do casal, o relacionamento terá piorado quando o então marido estaria convencido que a esposa o andaria a trair com o patrão dela, o que esta negou, afirmando que seria o marido quem a trairia.
Uma das situações relatadas terá ocorrido já dentro das instalações fabris do casal, situada nos arredores da cidade de Barcelos, onde a mulher garante, na sua queixa, ter encontrado o ex-marido acompanhado, quando o procurava, julgando-o desaparecido.
Chocada com aquilo que viu, o marido em flagrante com quem menos esperaria, a mulher tentou suicidar-se, por enforcamento, tendo sido transportada de urgência para uma unidade hospitalar, onde ficou de imediato internada, até ir para casa convalescer.
Ainda segundo a queixa, acompanhada de suportes digitais, a mulher terá sido agredida à frente dos filhos, sendo frequente o ex-marido conduzir automóveis embriagado, chegando a provocar, completamente ébrio, um acidente de viação, agredindo-a.
A mulher, negando a autoria do crime de violência doméstica, uma acusação pela qual será julgada esta semana no Palácio da Justiça de Barcelos, diz ter sido insultada durante 20 anos com os impropérios mais graves que se podem dirigir a uma mulher.
Parte dos insultos e das agressões terão sido presenciadas não só pelos filhos do casal, como por familiares e amigos, que têm nos últimos anos tentado convencer a mulher a apresentar queixa, acabando, recentemente, por formalizar uma queixa-crime.