Barcelos: Defesa de astrólogos diz que alegada vítima “não é credível” porque entra em transe e fala com o falecido marido

MP pede condenação de dois videntes que sacaram 339 mil euros
Foto: Joaquim Gomes / O MINHO

O Ministério Público (MP) pediu, quarta-feira, no Tribunal de Braga, a prisão efetiva de dois videntes de origem guineense, um de Bissau e outro de Conacri, que foram julgados por, supostamente, terem burlado duas pessoas de Barcelos em 339 mil euros.

Verba que lhes terá sido paga por uma das alegadas vítimas – uma mulher – para que descobrissem o paradeiro de um prémio chorudo do Euromilhões, ganho por ela, em França, mas nunca reclamado.

O magistrado do MP disse, nas alegações finais, que a burla qualificada ficou provada quer em julgamento quer pelas provas recolhidas no inquérito-crime pela Polícia Judiciária.

Cote Quebe (de alcunha Madi), de 32 anos e residente em Ermesinde, e Keita Salifou, (conhecido como Nadi), morador em Vila Nova de Gaia, ambos com desempenho em “trabalhos de astrologia”, foram julgados por, em 2018, terem, supostamente, burlado uma mulher de 65 anos, que recorreu aos “serviços” por eles prestados e, a seguir, feito o mesmo a outro homem que se envolveu no caso. Ambos estão em prisão preventiva.

Na sessão, o advogado Eduardo Martingo, defendendo um dos astrólogos, disse que a acusação se baseou numa “investigação apressada da PJ, feita em quatro dias”, e que, a prova testemunhal radica no testemunho da vítima, a qual “não tem credibilidade pois entrou em transe em pleno julgamento e respondeu aos berros quando questionada pelos advogados”.

O jurista aludia ao facto de, na primeira sessão, a queixosa ter entrado em transe e ficado em estado de prostração, o que obrigou os ‘seguranças’ do edifício a virem-na buscar. Foi, também, ajudada por oficiais de justiça que lhe deram água. E, noutras ocasiões, disse que falava com o falecido marido.

Por isso, Eduardo Martingo afirmou: “A [vítima] diz que o P. lhe deu dinheiro e que o entregou aos arguidos. Mas estes negam e a verdade é que não há rasto dele”, argumentou o jurista, rebatendo a tese de que os arguidos ficaram “cheios de dinheiro” já que vivem em apartamento alugado e um deles comprou um carro em segunda mão, a pagar em dez anos. E não lhes foi encontrado dinheiro…

Arguido negou crime

Antes, e no termo do seu depoimento o arguido Keita Salifou negara que a vítima lhe tenha pedido para chegar ao dinheiro do Euromilhões.

“Estava em França quando me telefonaram para vir a Barcelos e que me pagariam 4.500 euros. Estranhei, porque aqui não faltam videntes, mas insistiram e aceitei”, contou, frisando que quando chegou foi logo detido pela PJ.

Por outro lado, em audiência o outro arguido, o Cote disse que a vítima o procurou para que “matasse” uma pessoa através de artes de magia, e pediu “uma amarração” do amante que então tinha.

Diz que entregou 339 mil euros

Recorde-se que, a alegada vítima disse ao Tribunal que fala com o marido, falecido há 20 anos, e garantiu que entregou 339 mil euros aos arguidos, em fatias de 20 a 30 mil euros, para que fizessem “trabalhos” que permitiriam que recebesse o prémio do Euromilhões que lhe saíra em França em 2021, num montante “muito elevado”, e que nunca havia reclamado. Nessa audiência e com declarações algo confusas mas perentórias, a vítima referiu que os dois videntes trabalhavam juntos e que lhes foi entregando quantias de 20 a 30 mil euros, mais 160 mil, pedidos de empréstimo a um empresário de Barcelos, A. Pimenta, a quem terá prometido dar um milhão quando chegasse a verba do Euromilhões.

Exaltou-se

A suposta vítima respondeu às perguntas do Ministério Público mas exaltou-se quando os advogados de defesa a questionaram sobre as entregas e o modo como obteve o dinheiro emprestado, recusando-se mesmo a responder, a não ser a questões postas pela juíza-presidente do coletivo.

A acusação diz que os astrólogos, ganharam a confiança da vítima, convencendo-a de que, através da “invocação dos espíritos”, conseguiam ir buscar o Euromilhões e multiplicá-lo.

Para tal, a vítima teria de lhes entregar dinheiro, para efetuarem «puxadas de dinheiro», multiplicando-o e chegarem ao prémio do Euromilhões.

Assim, e até 2023, a vítima. entregou-lhes 102.500 euros que levantou de contas bancárias pessoais. Depois, terá entregue mais 236 mil de empréstimos vários.

 
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