Barcelos vive momentos de euforia com o regresso do mítico Gil Vicente aos relvados da principal liga de futebol em Portugal.
Depois de uma descida de divisão por via administrativa, em 2006, os gilistas viram agora reposta “justiça”, depois de um acordo entre a direção do clube, a Liga de Portugal e o Belenenses, clube responsável pela descida do clube minhoto na secretaria face à utilização, na altura, do jogador Mateus.
Entretanto, a equipa voltou a pisar o principal palco do futebol, depois de vencer a II Liga em 2011, mas voltou a descer de divisão passadas quatro épocas.
O MINHO saiu às ruas de Barcelos e falou com alguns adeptos que se mostram entusiasmados com o regresso do clube aos principais palcos e confirmou um aumento de inscrições de sócios durante as últimas semanas junto de fonte oficial do clube.
Junto ao Estádio Municipal de Barcelos, alguns jovens adeptos faziam fila para a inscrição como sócio no clube. Gonçalo Gomes, de 20 anos e residente em Alvelos, está a fazer-se sócio porque é a equipa da cidade.
“Gosto de futebol, apesar de não jogar, mas gosto do Gil Vicente. Agora com o regresso estou mais animado e resolvi fazer-me sócio. Já tinha sido sócio mas afastei-me nos últimos anos, mas agora como subiu resolvi voltar”, assegura.
Gonçalo explica que, só na turma, “são uns 20 que se estão a faze sócios”. “Estamos a tentar fazer com que as cadeiras sejam todas seguidas para ficarmos todos juntos. Conta ir ver o jogo com o Porto, clube pelo qual também nutre simpatia, mas vai torcer pelo Gil Vicente. “Se o Gil ganhar fico contente, é da nossa cidade, por isso só tenho de ficar contente”, garante.
Miguel Sá Pereira, porta-voz do departamento de comunicação do Gil Vicente, realça a inscrição “massiva” destes novos adeptos. “Posso confirmar que ao longo das últimas semanas recebemos perto de 3.000 inscrições de novos sócios, na sua grande maioria jovens”, apontou a O MINHO.
O responsável explica que, face à campanha de angariação e face ao regresso à liga principal, o número de sócios tem aumentado em grande número, havendo atualmente perto de 16.000 inscritos no clube.
Quem nunca deixou de ser sócio do clube, mesmo perante a “descida ao inferno”, foi Adelino Pimenta. O comerciante com loja aberta no centro de Barcelos ainda hoje é conhecido pelo nome “Lino Vieira”, que utilizava quando jogava ao serviço do Gil Vicente entre os anos 75 e 81.
Médio centro possante, o sócio n.º 46 do Gil Vicente alinhou “de galo ao peito” na II Liga, tendo registado passagens por outros clubes minhotos, como o Famalicão e o Vianense. Mas foi no Gil onde viveu os melhores momentos.
“Aqueles tempos eram diferentes, jogávamos no antigo estádio, em pelado, e éramos verdadeiros craques, Posso dizer que joguei com uma equipa de luxo, com jogadores como o Testas ou o Marconi. Eram outros tempos”, recorda o antigo craque gilista.
Sobre o afastamento da I Liga, Lino Vieira crê que o mesmo fez com que “as pessoas de Barcelos se desligassem do futebol”. “Eu nunca deixei de ser sócio e continuei a pagar cotas mas no ano passado não fui ver nenhum jogo, porque não contava para nada”, aponta.
Agora, com o regresso, o comerciante garante que irá “voltar ao estádio”. “Acho que se fez justiça”, vinca.
Na loja de comércio ao lado, Maria Rosa Garrido concorda em parte com o colega, embora nunca tenha deixado de assistir aos jogos. A comerciante de Santa Eugénia é sócia do Gil Vicente há 40 anos e nunca se afastou do futebol.
“A diferença é que antigamente íamos ver os jogos todos mas no ano passado só víamos os jogos em casa”, explica, justificando que “não havia emoção porque não contava para nada”. “Mas continuei a ver o Gil, porque sempre foi gratificante, mesmo quando perdia… A gente gilista, não tem explicação, é gente bairrista e alegre e andámos sempre em festa, mesmo quando nos querem mal”, atira.
De cor, não sabe o número de sócio, mas sabe os cânticos das bancadas e sabe que não vai perder o jogo deste sábado. “Eu até tenho um gosto pelo Porto mas vou torcer pelo Gil, porque é quem precisa mais da vitória, para dar uma prenda aos adeptos logo no regresso”, afirma.
José Correia é sócio n.º 50 do Gil Vicente, registado há cerca de 60 anos. Concorda que “o regresso não só é bom para o clube mas também para Barcelos”. “Traz outra dinâmica ao comércio e à cidade”, assevera.
O conhecido entusiasta da causa monárquica no concelho confessa que se afastou nos últimos anos, face à descida do clube, mas assegura que sempre continuou a pagar as cotas. “Agora já começa a dar outra vontade de ver os jogos e é claro que vou ver o jogo com o Porto”, garante.
Nostálgico para com o estádio antigo, o velho Adelino Ribeiro Novo, o sócio n.º 50 explica que preferia que o estádio se tivesse mantido mais perto do centro da cidade, mas compreende que os tempos são outros e foi necessária uma mudança de paradigma.
João Faria é sócio do Gil há 40 anos. Pai de um antigo jogador do clube – também chamado de João Faria -, aponta como “muito positivo” o regresso do clube à I Liga.
Nunca deixou de ser sócio do clube e continuou a “ir à bola”, mesmo durante a época passada que “não contava para nada”. “Para mim é igual, continuo a ir ver os jogos quando posso, menos quando há jogo do meu filho à mesma hora [joga no Vizela]”, diz.
Este sábado, estará presente nas bancadas para torcer pelos barcelenses, mas confessa não ter muita esperança. “Não vai ser nada fácil, mas pode ser que se consiga um bom resultado”, aponta.
Sobre a descida na secretaria e o regresso pelos mesmos meios, João Faria não concorda com os restantes inquiridos por O MINHO. “Eu não acho que a justiça tenha sido feita. Quem pôs o Gil na I Liga neste momento foi o acordo do Francisco Dias [presidente do Gil Vicente] com o Belenenses e com a Liga, porque se não houvesse esse acordo, não era este ano nem nunca”, diz.
“O Fiuza fez a festa [de regresso] mas foi porque o Francisco Dias fez o acordo. Sem acordo ele tão cedo não fazia festa nenhuma”, garante.
Quem já não vai à bola mas nunca deixou de ser sócio é Paulino Gonçalves, talvez um dos sócios mais antigos do Gil Vicente. Aos 93 anos, o antigo mecânico residente em Perelhal, que desde os 15 anos trabalhou na “rua Direita”, tem pena de já não aguentar uma deslocação a um jogo.
Admite que sempre foi sócio do Gil, mas a saúde não tem permitido acompanhar o clube. “A última vez que fui ao estádio foi há três anos”, recorda, com dificuldade nas palavras.
Paulino confessa que ficou “muito triste” com a descida administrativa em 2006, mas mesmo assim continuou a acompanhar o clube, ou não fosse um entusiasta pelo amor barcelista e gilista.
Emanuel Sousa, de Barcelos, é sócio do Gil desde 2005. Com dois filhos a jogar na formação do clube, confessa que foi desenvolvendo uma paixão gilista ao longo dos últimos anos.
Logo no ano seguinte a ter-se inscrito como sócio, viu “uma injustiça” abater-se sobre o clube. “O Gil foi prejudicado por causa do jogador Mateus e ele continuou na I Liga enquanto que o Gil desceu”, aponta.
Mas agora, Emanuel crê que “foi feita justiça”. “E espero que o Gil se mantenha na I Liga durante muitos anos”, diz, acrescentando que o “prejuízo” não foi só para o clube. “A nossa cidade é pequena mas recebe muita gente e o facto de o Gil estar na I Liga, ao vir a televisão, atrai muita gente, e quando vêm os clubes ‘grandes’ a casa enche. É bom para a cidade porque vem muita gente para restauração e comércio”, finaliza.
O Gil Vicente marca o regresso à I Liga neste sábado, pelas 19:00, no Estádio Cidade de Barcelos, recebendo o vice-campeão FC Porto.