Após três anos sem limpezas, os jacintos-de-água tomaram novamente conta das Lagoas de Caíde, em Barcelos, naquela que é tida como a ‘maternidade’ ou o ‘viveiro’ desta espécie invasora no rio Cávado. O espelho de água tornou-se num extenso campo verde nos últimos anos até que, no final de 2022, recomeçaram as limpezas e, agora, as lagoas estão de novo a descoberto.
Nas imagens captadas por O MINHO em dezembro de 2021, é notória a falta de controlo desta praga. Cenário que contrasta com aquele que é possível ver atualmente no mesmo local do rio Cávado, na freguesia de Areias de Vilar.
As Lagoas de Caíde foram formadas nos anos 80 após remoção de inertes na zona. Foram assim criadas artificialmente lagoas com a invasão das águas do rio Cávado nos espaços onde até então existia um areal. Nas últimas décadas, a natureza regenerou-se no espaço tornando-o num dos locais ribeirinhos mais ricos do concelho.
Contudo, desde o início do século que os jacintos-de-água começaram a invadir o rio Cávado, nomeadamente na zona que atravessa do concelho de Barcelos. As águas calmas das Lagoas de Caíde tornaram-se no espaço ideal para a reprodução desta espécie invasora que foi introduzida na região para fins ornamentais, em lagos, tendo depois chegado aos rios.
Isto tudo apesar de ter sido das primeiras espécies exóticas a ser proibida em Portugal – desde 1974, sendo depois o decreto-lei atualizado em 1999 e 2019. Trata-se de uma planta com origem na América do Sul, principalmente da bacia do Amazonas.
O maior problema com a sua proliferação descontrolada prende-se com a deterioração da qualidade da água devido à diminuição de luz disponível no rio com a planta a tapar a superfície, provocando a par disso impactos económicos nas atividades ligadas ao rio.
O problema está identificado há vários anos e os diversos executivos camarários de Barcelos têm realizado limpezas desta praga que dificilmente será erradicada.
Trabalho tem de ser “contínuo”
O certo é que, durante os anos pandemia, a limpeza não foi realizada e o rio Cávado voltou a tornar-se num enorme manto verde em certas zonas. A Câmara de Barcelos voltou à carga, em setembro de 2022, e agora o cenário já é bem mais animador.
Apesar disso, é impossível dizer que a missão está cumprida e o trabalho tem de ser contínuo.
“O verão é muito problemático, já que, com as altas temperaturas e baixo caudal, muito facilmente os jacintos se multiplicam em colónias extensas. Não é possível erradicar esta praga, mas com trabalho contínuo e sistemático é possível controlá-la”, disse recentemente Armando Carvalho, coordenador da equipa que está a realizar a limpeza, durante uma visita ao local com autarcas.
As principais ações incidiriam na remoção de espécies exóticas invasoras, casos do jacinto-de-água e da pinheirinha-de-água. Os trabalhos abrangeriam o leito e as margens do rio Cávado desde a Barragem da Penide até ao limite jusante do concelho de Barcelos.
Em setembro de 2022, a Câmara, liderada por uma coligação liderada pelo PSD, afirmava que a limpeza acontecia “após três anos de interrupção, o que levou à disseminação e acumulação da principal infestante – o jacinto-de-água – em grande parte do curso do Rio Cávado”.
Segundo o plano de trabalhos que mereceu aprovação prévia do ICNF – Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas –, o controlo das infestantes seria feito essencialmente por meios manuais e mecânicos sempre com o objetivo de deixar o ecossistema da área de intervenção o mais inalterado possível.
Foram utilizadas essencialmente plataformas flutuantes equipadas com gruas, embarcação de apoio e auxílio de retroescavadora, que a partir das margens retirará as plantas invasoras. Também foram usadas barreiras de contenção.
Jacintos são desidratados
A autarquia adiantava que a limpeza de vegetação seria a estritamente necessária para se proceder à remoção das plantas invasoras aquáticas que permaneçam retidas nas margens. Os materiais de origem natural, tais como, troncos mortos e vegetação seriam encaminhados para destino adequado ou integrados como forma de valorização, para realização de estacas, entrançados e faxinas.
Considerando que mais de 90% do peso do jacinto-de-água é água, estes seriam depositados em local afastado do leito de água, para pilhas de compostagem e de secagem.
Depois desse processo, seriam encaminhados para destino adequado a definir no âmbito do Plano de Ação Intermunicipal em elaboração pela Comunidade Intermunicipal do Cávado.
Além da limpeza das infestantes, os trabalhos incidiriam também na deteção de focos de poluição e na remoção de todo o tipo de resíduos, incluindo os de grandes dimensões, como os “monstros domésticos”.